terça-feira, 29 de junho de 2010

Novos tempos

Em 1971, na primeira aula de física do curso de engenharia, conheci a régua de cálculo. Um mês de aulas para aprender a utilizá-la. Raiz quadrada, logaritmo e seno, obtínhamos como passe de mágica, sem precisar ir aos livros e tabelas. Conheci a primeira calculadora eletrônica, quatro operações, em 1973. Hoje, trinta e poucos anos depois, estes que eram instrumentos mágicos viraram “jurássicos”. Em termos de tempo do nosso mundo, três décadas são um segundo, mas que têm demonstrado estar em curso uma grande mudança no viver da população mundial.Outro dia, visitei o Museu da Música em Barcelona. Magnífico lugar com uma infinidade de instrumentos musicais e suas histórias. Mas o que mais me inebriou foi assistir a uma ópera, num teatro miniatura. A plateia: duas pessoas. Luzes iluminam o palco. Entram o tenor e a soprano. Cantam, representam, emocionam. As luzes se apagam. Os artistas deslizam palco afora. Tudo tão real, mas virtual. Que mágica é a informática. Os artistas estavam ali e não estavam. Paradoxo da telecomunicação. Lugares inteligentes onde o mundo físico e o digital se sobrepõem.Estes maravilhosos computadores, inimagináveis no meu tempo de estudante de engenharia, deixaram de ser uma simples tela e passaram a ter profundidade, extensão espacial e do nosso corpo, fazendo com que possamos olhar e ouvir o outro, distante milhares de quilômetros, como se estivesse junto de nós. Consegue fazer a gente estar em dois ambientes ao mesmo tempo, como o que passo agora vendo meu filho Diego, na Austrália, a cadeira que ele senta e a camiseta surrada que ele usa.Quem há 30 anos atrás poderia imaginar que esta rede, à qual estamos ligados, derrubaria barreiras físicas e distâncias? Abrem-se portas e janelas numa conexão inteligente que nos colocam em espaços fisicamente diferentes, mas no mesmo local. Do lado de cá da tela, um espaço; do outro, outro diferente, mas os dois no mesmo. Eu real e o outro virtual. Para o meu interlocutor é o oposto. Eu sou o virtual. Esta mágica está criando um novo contexto para o nosso fazer cotidiano e, pelo que se vê, é apenas o começo. Daí me pergunto: estamos prontos para viver em rede?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

MERCADO PÚBLICO

Nas minhas lembranças da infância vivida no Bucarein, vêm sempre imagens do mercado e do rio Cachoeira com sua água límpida, com as barcas transportando erva-mate, trigo e madeira, e o navio Catarina trazendo sal do Nordeste para a família Gern. Lembro das canoas dos pescadores, como a do Chico Budal, que vinha da ilha do Mel com peixes, bacucus e siris. Lembro do Donato, figura folclórica, com sua lata de azeite vazia, pedindo para ser enchida com comida. Das formosas cerejeiras na praça.Recordo das tantas e tantas vezes que fui comprar sardinha para meu pai fritar e vender no bar, onde os estivadores degustavam com copos de Jabiru e Colonial, cachaças da época e cerveja faixa azul. Havia alma naquele mercado. Havia simbiose entre as pessoas e aquele espaço público.Um dia, transvestiu-se em estilo germânico e a população não relutou em senti-lo ainda mais como seu, apesar do novo formato. Passou a ser mais completo, pois investiu na gastronomia e virou espaço de representação de artes, melhorando a sua participação e função no tecido urbano. Virou ponto de encontro aos sábados. O canto do nosso sambista maior, Bêra, “bombou”, como diz a rapaziada.Estive lá outro dia para reencontrar alguns amigos apaixonados por música, como o Robson Belo. Para minha frustração, não o encontrei e nem a muitos outros. E, pior, fiquei preocupado com o ar de abandono. Será que é tão difícil fazer um banheiro decente para as pessoas utilizarem sem precisarem passar pelo constrangimento de usar as péssimas instalações existentes? Será que é tão complicado dar uma oxigenada naquele espaço lúdico? Será que vamos deixar morrer este símbolo da cidade?Joinville precisa reinventar o seu mercado e fazer mais alguns nos bairros, fomentando estes que são locais de comércio, mas, antes de tudo, de convivência, de encontros. O poder público precisa dar ao nosso mercado uma roupagem mais moderna no espaço interno, e no externo colocar bancos, lixeiras, bebedouros, playground, internet gratuita, só para exemplificar, que dariam nova vida a este símbolo, reestruturando-o e adequando-o aos tempos atuais, e fariam deste espaço mais uma opção agradável às famílias joinvilenses e aos turistas.

Bibliotecas

Em “AN” de 3/5, lemos: Joinville tem o menor número de bibliotecas para cada 100 mil habitantes no Estado, aponta censo do MinC. Duas bibliotecas públicas para atender a 500 mil pessoas. “Temos uma proposta de ampliação da Rolf Colin. Mas não queremos fazer dela um elefante branco”, diz a coordenadora das bibliotecas públicas joinvilenses.Precisamos entender que, hoje, estes equipamentos públicos não são simples repositórios de livros. São espaços híbridos abrangentes com CDs, DVDs, revistas, jornais e livros. Devem funcionar como equipamentos que propiciem acesso às informações e que ajudem no desenvolvimento da sociedade.Nós, seres humanos, precisamos do discernimento, da percepção. Sem isso, não sabemos o que somos, de onde viemos e nem imaginamos para onde iremos. Quanto mais uma pessoa se informa, mais ela viaja mentalmente e mais aguça a sua capacidade de enxergar e compreender tudo que está acontecendo à sua volta. Desde o início da civilização, as viagens, as discussões e a leitura são a base do conhecimento.Os livros antes e, agora, todos os sistemas de informações são companheiros da humanidade na sua solidão e funcionam como mensageiros do tempo e do espaço. Podem sensibilizar pessoas e mudar vidas, pois levam a viagens virtuais não só compartilhando experiências e visões, mas também sensações e sentimentos. O conhecimento adquirido pela informação torna o ser humano mais nobre, mais arguto, mais sábio e lhe dá a condição de ver o mundo como ele realmente é!Além disso, as bibliotecas devem ser vistas, também, como locais de encontros, de discussões, de procuras. A magia do silêncio das bibliotecas é propícia, assim como é a dos santuários, à paz de espírito e à inspiração. Local para se encher a alma de ânimo e prosseguir incentivando na luta contra as sinuosidades da vida. Joinville precisa recuperar o tempo perdido fazendo uma inflexão na sua linha de atuação em relação a estes equipamentos, desenvolvendo um plano de implantação para a cidade como um todo, colocando bibliotecas perto das pessoas, em todos os bairros, por meio de uma rede interligada. Bibliotecas nunca serão “elefantes brancos” se forem bem administradas, atrativas e atualizadas.