terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vereadores

Para as próximas eleições, as câmaras municipais das cidades brasileiras já terão votado suas leis para aumentar ou não o número de vagas para vereadores. Em Joinville, os defensores do aumento alegam que a cidade passa a ter mais representatividade, que dificultaria a ação espúria do Executivo, pois terá mais gente para fiscalizar.

Os contra se atêm aos custos decorrentes deste aumento e alegam que não existe trabalho para tanta gente. Que se for para ficar dando medalha de honra ao mérito, título de cidadão, nome de rua, fazer assistência social com o dinheiro dos outros ao invés de legislar e fiscalizar, que permaneça como está.

Todos os dias escutamos e lemos sobre pretendentes a candidato, tanto para prefeito como para vereador. Como prefeito não tem jeito, tem que ter mesmo, temos que discutir a ampliação do número de vereadores.

Outro dia meu camarada Gordurinha, que já estava, como se dizia no Bucarein antigo, com a “bucica” (cadela feia ou mau humor), pois tinha que cortar a grama da casa, afinal o Natal está chegando e esta tem que ficar “tinindo”, me falava: “Já que a gente tem que votar para vereador, decidi: vou votar em quem nunca se elegeu. Vou escolher um marreco qualquer, porque acredito que a renovação pode dar nova feição ao que está posto. Se esta turma que está aí não resolveu, vou mudar”. “Mas os caras novos entram sem saber nada”, disse eu. “Que bom”, respondeu. “Eles aprendem logo e sem os vícios dos velhos e, se forem sérios, farão diferente.”

Continuou: “Digo mais: agora está na hora de fazer caixa para a campanha do ano que vem. Imagina o prato cheio que é definir plano diretor, alteração de zoneamento, passagem de ônibus e zona azul. E tem mais, se eu fosse um bruxo e tivesse uma varinha de condão, daria um click na cabeça dos empresários, de todos os tipos, para que eles negassem todo e qualquer dinheiro para financiar campanha. Afinal eles financiam para quê? Com qual interesse?

“Deveriam deixar a galera se espremer. Cada um por si. Pelo que vale. Pelo que fez pela sua comunidade. Gente mais engajada e com vontade de ajudar a cidade e não de se locupletar. Não precisamos de mais quantidade e, sim, de mais qualidade.”

Falou, Gordura, vou na tua! Abaixo a reeleição!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Repasse

Se o que li no jornal, na reportagem “Nova lista libera mais dinheiro a mais entidades” é verdade, a coisa, em Joinville, está mesmo feia e na contramão.

Diz no “AN” de 3/11/2011 “O presidente da Câmara de Vereadores, divulgou aquela que deve ser a lista completa dos 60 órgãos e entidades que vão receber as sobras de recursos do Legislativo. “Todo o mês, a Prefeitura faz o repasse constitucional à Câmara, que não consegue gastar todo o dinheiro. Essa sobra vai ser repassada agora às entidades. O dinheiro será devolvido ao Executivo, que vai depositar nas contas das entidades indicadas pelo Legislativo. Cinco entidades que apareciam em setembro não estão formalmente na nova relação, mas vão receber o repasse mesmo assim”. Pelo escrito no jornal, elas não teriam como conseguir documentação para obterem os repasses e irão recebê-los por meio de outra entidade. “Isso justifica porque esta receberia apenas R$ 10 mil em setembro e agora vai receber quase dez vezes mais (R$ 98 mil)”, completa o texto.

Como a gente diria no Bucarein antigo: isto é sarrafo pra bater em maluco! Desde quando vereador é eleito pra distribuir dinheiro a entidade que não tem documentos, o que supostamente está ilegal, pode receber verbas públicas por meio de outra?

Lendo a Lei Orgânica do Município, vemos que os verbos conjugados para os vereadores são: legislar, deliberar, votar, autorizar, criar, extinguir e delimitar. Em nenhum lugar se conjuga o verbo distribuir. Mostrar o destino de recursos do município, até ordem em contrário, é função do Executivo e não do Legislativo. Neste opróbrio, fico com o vereador que diz, na mesma matéria, “que mantém a posição de que faltou pulso forte ao prefeito em autorizar a forma de repasses sugerida pelo presidente do Legislativo”.

Lendo a reportagem e analisando este imbróglio, vejo com que facilidade alguns políticos se apropriam das coisas públicas, como se suas fossem, e na maior desfaçatez se transvestem de Robin Hood, como se morassem na floresta de Sherwood e as distribuem, para colher os frutos em nova eleição. Dá uma sensação muito ruim ver estes atos e, pior, ver as forças vivas e fiscalizadoras do município aceitarem e ficarem quietas!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Herondina

Num sábado qualquer de 1968, saímos Zé Carlinho, Pinga e eu para uma noitada de serenata. Violão debaixo do braço, que os dois tocavam muito bem, atravessamos a noite cantando para meninas conhecidas. Era a primeira vez que o Zé saía à noite (tínhamos nossos 16 anos). Lá pelas cinco da manhã, voltávamos pela avenida Procópio Gomes em direção ao bar do Chico do Ernesto, meu pai, que abria neste horário, para tomar um Choco Leite, avisá-lo e, após, ir para a Enseada curtir o domingo. Faltava uma quadra para chegar quando avistamos a dona Herondina vindo em nossa direção. O Pinga logo falou: “Ih Zé, ferrou!”.

Ela agarrou o Zé e saiu arrastando-o e nós, claro, atrasamos o passo, pra não sobrar, também, para as nossas orelhas.

Ao chegarmos ao bar, meu pai disse: “Te prepara, marreco, que a tua mãe vai te pegar”; “Por que, pai?”; “Vocês foram pra bagunça e levaram o filho da Herondina junto. Desde as duas da manhã ela vai lá em casa, de meia em meia hora, e acorda a tua mãe para saber se vocês já chegaram – naqueles tempos não tinha celular. A Nilza tá uma fera!”.

O Zé não estava acostumado a madrugar e nem a dona Herondina a vê-lo chegar àquelas horas. “Oh, pai, nós vamos pegar o zarcão e vamos pra Enseada. Vê se amansa a mãe”, falei. Não adiantou. Na volta, escutei um bocado. Joinville teve e tem muitos bons professores e, ao contar a história acima, me lembrei de uma que me traz grandes lembranças.

Falo de Herondina Vieira, a inoxidável, que permanece, aos 92 anos com aquele brilho característico no olhar, penetrante e especial. É uma história de 45 anos de magistério em Joinville que deve ser sempre contada e reverenciada.

Várias histórias permeiam a vida desta mulher. Histórias de alegria, como a formatura dos seus quatro filhos, expoentes em suas profissões e de grande sofrimento, como a ida para o oriente eterno do seu Leléu e do filho Tonico, mas que nunca a fizeram desistir da vida nem de sua fé inabalável. Segundo ela, “a fé é uma palavra que tem duas letras, o ‘f’ de fazer e o ‘e’ de esperança”.

Uma professora, na expressão da palavra, que teve como objetivo único de existência: ensinar, dar carinho, atenção e apoio. Obrigado, dona Herondina, pelo exemplo de vida!