segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Vacilo


Existem atitudes de políticos que não consigo entender, principalmente quando ele ainda é novo na lida e, provavelmente, tem um bom futuro. Imagino que para alguém se eleger a um cargo eletivo, tem que ter atrás de si uma estrutura, ser líder comunitário, aparentemente boa pessoa, trabalhador e inteligente. Acredito, também, que para se eleger ele precisa mostrar e provar, a quem nele vota, seus méritos e sua boa vontade em ajudar na construção do bem comum.

Normalmente apoiados por empresas, amigos, família, os políticos partem para uma eleição, que não é coisa fácil de participar e, muito menos, de ganhar. Entendo que estas pessoas, ao tomarem este rumo, o fazem por diletantismo, pois entendo a política como uma arte e não apenas porque estão atrás de emprego. Estão no processo porque querem se dedicar ao bem-estar comunitário, do próximo, mesmo que tenha que sacrificar o seu.

O que não consigo entender é o eleito, no início da carreira política e sem prestar o trabalho ao qual seus eleitores lhe confiaram por meio do voto, renunciar ao cargo eletivo para assumir um, de confiança e de menor importância, no Executivo.

Assumir uma secretaria de Estado depois de ter tido um cargo no Executivo, ainda dá para entender, pois pode levar consigo uma experiência já vivenciada e, possivelmente, poderá fazer mais pela população do que em um cargo Legislativo.

Mas quando uma pessoa se elege vereador e a seguir abandona o cargo para o qual foi eleito para assumir um cargo de terceiro escalão no Executivo, o que é que as pessoas do bairro que acreditaram nele vão receber em troca? Será que o cargo assumido no Executivo contribuirá com a sua comunidade de uma forma efetiva e eficiente? Ou será que servirá apenas como degrau num projeto de interesse meramente pessoal?

Quando assim o fazem, estes políticos jovens, vibrantes e de futuro se transformam em nomes novos com práticas políticas velhas. Quem assim age, a meu ver, comete um grande vacilo com quem nele acreditou e não tem, no futuro, o direito de choramingar.

Catilina


Sou um apaixonado por história, apesar de não ser um expert. Acho a história generosa e esclarecedora, pois, relatando os fatos acontecidos, nos dá excelentes lições.

Como tenho 58 anos, vivo pouco mais de um terço da história de Joinville, mas o suficiente para conhecer muitas das pessoas que ajudaram a fazer esta cidade. Nestes 160 anos de existência, Joinville conheceu uma plêiade de gente excelsa que se dedicou a ela com zelo, honestidade, inteligência e muito trabalho.

Fatos como a junção de dois grupos opostos para assumir a Câmara de Vereadores e seus melhores cargos e o que diz na coluna “AN Portal”, com a jornalista Rosane Felthaus (7/1), sobre o aluguel de carros para os vereadores: “Desta vez, haverá um modelo especial, um Vectra 2.0, que será de uso exclusivo do presidente. O mimo significa um aumento de R$ 5,2 mil na conta”, me levam a crer que, infelizmente, parece que os nossos políticos atuais não conhecem a história das pessoas que fizeram desta uma cidade pujante e séria.

Cícero viveu em Roma, onde foi filósofo, político e orador de enormes recursos, entre 106 a.C. e 43 a.C. Foi considerado uma das mentes mais versáteis da Roma antiga. Ficou famoso, também, por uma série de discursos que fez contra Catilina, um político da pior espécie, que sonhava com o cargo de cônsul. Estes discursos ficaram celebrizados sob o nome de “Catilinárias”, que foram usadas por muito tempo como uma das principais formas de ensino de argumentação, em todo o mundo. Mas, na sua frase mais célebre, é interessante observar que preferiu utilizar termos dos mais comuns e antagônicos ao seu falar normal. Esta frase ele vociferou para mostrar sua indignação quanto atos espúrios do opositor: “Até quando, oh Catilina, abusarás da nossa paciência?”

É interessante como algumas frases históricas, por uma razão qualquer, ganham raízes na memória da gente e permanecem sempre atuais. Passam anos e mais anos e, pelo que se vê, nunca faltarão Catilinas de maior ou menor envergadura. Parece que nunca nos livraremos deles e o pior é que cada vez há menos Cíceros.

Classe média


O ex-presidente da República Lula fez, em 23/12, seu último pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. Entre tantas autovalorizações, disse: “Promovemos a maior ascensão social de todos os tempos, retirando 28 milhões de pessoas da linha da pobreza e fazendo com que 36 milhões entrassem na classe média”. Como os números divulgados, no Brasil, nunca batem com a realidade, fiquei encucado com a afirmação e, principalmente, com a definição do que se considera classe média.

A pesquisa “A Nova Classe Média”, divulgada pela Fundação Getúlio Vargas, diz que a pobreza diminuiu no Brasil. Segundo o estudo, a classe C, considerada a classe média no País, era de 51,89% em abril de 2008. Considerando o Censo 2010, existem no Brasil, aproximadamente, 190 milhões de habitantes, portanto, 95 milhões de pessoas estão nesta classe.

Acrescenta ainda que é classe média quem tem renda variando entre R$ 1.064 e R$ 4.591 (como na pesquisa não diz, imagino que seja rendimento bruto, portanto, ainda tem de se descontar os encargos). Mesmo que seja rendimento líquido, esta divisão me traz alguns questionamentos. Uma pessoa que ganha R$ 1.064 por mês (R$ 12 mil por ano) pode fazer o mesmo que uma que ganha R$ 4.591 (R$ 50 mil por ano)? Com R$ 1.064 por mês, pode uma família com três pessoas ter em termos de hábitos de consumo o que se vê pelo mundo afora nas classes médias: casa, carro, lazer, viajem nas férias, acesso ao sistema de saúde, filhos em boa escola, seguro de vida, poupança? As que ganham R$ 4,5 mil por mês, se tiverem vida regrada, talvez consigam, pois ganhar quatro vezes mais, nesta variação de valores, é uma diferença monstruosa.

Logo, pode-se deduzir que a faixa adotada para definir classe média não condiz com a realidade, me parecendo forçada, para que possa sugerir algo irreal.

Percebe-se pelos dados divulgados, em pesquisas, que houve avanços em termos salariais nos últimos anos. Porém, no meu entender, colocar pessoas na classe média com o valor R$ 1.064 por mês, que mal dá para pagar o básico para a sobrevivência (alimentação, remédios, luz, água, educação, aluguel, transporte) é devaneio apoiado em classificação e números forçados.

Novo ano, tudo velho


Estive pensando no por que da minha descrença com as festas de Ano-novo. Pior é que é uma descrença antiga. Juro que eu gostaria de começar o ano com uma crônica positiva, motivadora. Pensei sobre vários assuntos para escrever, mas é difícil, após terminarmos o ano com uma nova sacanagem: o aumento de salário dos deputados e o seu efeito cascata. E, se só isto não bastasse, tenho de aguentar as despedidas e o teatro de quem se vai. Só pra não passar batido, ainda vejo aqui no nosso quintal a união de dois blocos políticos antagônicos que se juntaram para eleger um dito inimigo do prefeito, presidente da Câmara de Vereadores. Será que agora serão amigos? Passa ano, entra ano e nada muda. Continuo me sentindo um “trouxa”.

Pensei no Chico do Ernesto, que nunca vi dormir no dia 31 de dezembro após as dez da noite, aliás, como fazia todos os dias. “Sono recuperador é o de antes da meia-noite e, pra mim, todo dia que acordo é um dia novo e nele começa outro ano”, dizia. Frase esta que sempre me levou a pensar que essa história de comemorar ano novo é uma invencionice! É uma comercialização da esperança. Uma medida ilusória da passagem do tempo.

A gente, de tanto ver as pessoas reclamarem que estão cansadas e que se o ano não acabasse morreriam, até tem a tendência de acreditar. Mas o que acontece? Neguinho passa a virada, enche a cara de Sidra, devora o coitado do porco, só porque fuça pra frente, come lentilha, pula onda e joga flor no mar. Na manhã seguinte, dia primeiro, acorda com gosto de cabo de guarda-chuva na boca, mas acreditando no milagre da renovação, já se sentindo descansado e acreditando que dali para adiante tudo vai ser diferente. Mero engano.

Tudo que existe em dezembro deste ano continuará existindo em janeiro do próximo. O sistema público de saúde, de educação, de segurança e os maus políticos continuarão os mesmos. Bom, sai o Lula e entra a Dilma. Quem sabe, mude. Aqui na nossa paróquia, os vereadores, “experts”, continuarão discutindo o planejamento urbano, rua por rua, o aumento da passagem de ônibus e o prefeito inaugurando calçadas e semáforos. E a minha descrença continua. Como diria minha amiga Cris: “ÓhmoDeus! Será que isto muda um dia?”.

Feliz Natal


Há 50 anos, nossas mães diziam: “Se vocês não estudarem, não passarão de ano e não ganharão presentes do Papai Noel”. Aquele jeito de nos pressionar dava-nos pavor do bom velhinho. Mas, como sempre, passávamos de ano na escola, dias antes do Natal estávamos lá ajudando a mãe a enfeitar o pinheirinho. Árvore de verdade enfeitada com bolas de vidro vermelhas, velinhas coloridas, fios de prata e algodão.

Na casa dos meus amigos, vizinhos ali do Bucarein, não era diferente. A rua Gastão Vidigal congregava seus moradores e a gente se sentia uma família. Seu Schroeder e a dona Olga, pais do Osvaldo, casado com a Alvacir, pais do Sergio e da Liane e tios do Cláudio; seu Renato Garcia e dona Florita, pais da Zilda, Ica, Nato, Tota, Babi, Zildemar e Zilmar; dona Laura, avó da Cassia e do Ed, filhos do Nesinho e da Maria Laura; seu Ulisses e dona Zizi, pais da Maeve, Betinha, Carmem Lucia e Neusa, que moravam ao lado do seu Pacheco e da dona Neia, pais do Calinho “Xuxu” e do Zé Marcos, primos do Sergio Murilo e do Claudio.

No outro lado da rua, tinha o Pinga e a Heleida, filhos do Zilo e da Zulma, o Reinoldo e a Zenaide, pais do Lori e da Marcia. O Gê, a Maria do Carmo e o Odil, filhos da Mariazinha e do Marinheiro. O seu João Calafate e a dona Balduina (que quando vejo um fogão de lenha sempre me vem à lembrança), pais da Juraci, esposa do Volvenaer, pais do Silvio, Quika, Maria, Tinho e Dido. Seu Basílio e a dona Alzira, pais do Ninho, Marli e Marisa; seu Pedro dos Passos e da Dona Nair, pais do Leo e da Lair. E nós, filhos do Chico do Ernesto e da Nilza: Xande, Arino, Anselmo e Ariosto.

Bons tempos em que os vizinhos se conheciam e se preocupavam uns com os outros. Diferentemente dos dias de hoje, o espírito natalino imperava na vizinhança durante o ano todo e aflorava nesta época do ano com mais intensidade. Há muito não vejo muitas destas pessoas que me ajudaram a crescer e nem sinto o espírito de vizinhança. Alguns já partiram para o oriente eterno, outros estão por aqui, mas todos, onde estiverem, espero que se lembrem daqueles bons tempos. A todos um Feliz Natal!

*Com a ajuda de Orestes João dos Passos (Tinho)