quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Brasilidade



Conversava com meu amigo Gordurinha sobre essas histórias dos rolos nos ministérios. Seis meses de governo e uma avalanche de denúncias. Com ministros caindo, assessores presos e deputados alvoroçados trocando indignação por emendas parlamentares e dizendo não à faxina propalada pela presidente, imagino que as denúncias tenham base em verdades. É muita cara de pau e sem-vergonhice. Então, ele me disse: pior é que nem atirar pedra se pode, pois o nosso povo é assim. Reclama, fala mal, mas quando come melado se lambuza. Não falta educação científica e tecnológica, falta é educação moral e cívica. Falta chicote. E ficará pior, pois hoje nem puxão de orelha uma mãe pode dar num moleque sacana.

Outro dia, diz o Gordura, recebi um e-mail que dizia: “Cidadania deve ser atitude praticada o tempo todo, em todas as situações, não apenas quando reclamamos, genérica e abstratamente, do País como um todo e dos políticos de maneira particular”. Reclama-se dos vereadores, prefeito, governador, deputados e presidente e, no entanto, o brasileiro coloca nome em trabalho que não fez; o nome de colega faltante na lista de presença; paga para fazerem seus trabalhos escolares; saqueia e faz festa com cargas de veículos acidentados; tenta subornar quando é pego cometendo infração; troca voto por areia, tijolo e até dentadura; trafega pelo acostamento num congestionamento; faz filas triplas em frente às escolas; dirige bêbado; fura filas se fazendo de desentendido; pega atestado médico, sem estar doente, para faltar ao trabalho; faz “gato” de luz, de água e de tv a cabo; a serviço pela empresa, gasta 10 no almoço e pede nota fiscal de 20; vende objetos doados em campanhas de catástrofes; acha-se esperto ao comprar produtos roubados por preço baixo; leva, das empresas onde trabalha, clipes e canetas, como se não fosse roubo; comercializa vale-transporte e refeição que recebe da empresa; recebe troco a mais e fica quieto, mesmo sabendo que quem vai pagar é o caixa, etc.

E queremos que os políticos sejam honestos? Daí pergunto: o brasileiro é assim por causa dos exemplos dos políticos, ou os políticos são assim por causa da brasilidade? De uma coisa tenho certeza, meu amigo: enquanto o povo não mudar o jeitinho esperto, agindo com educação, honestidade, dignidade, ética e respeito a tudo, a coisa não mudará! Estaremos sempre vendo estes escândalos e, pior, se acostumando com eles!

domingo, 7 de agosto de 2011

Por do sol

Outro dia, reclamava para um amigo que meu filho tinho ido morar na Austrália. Então ele, que perdeu um filho de 20 anos, me disse: reclamas do que? Podes pegar um avião a qualquer hora e ir lá dar um abraço nele. Demora mas chega!
E eu? Que digo eu que nunca mais verei o meu?
Peguei o avião e fui!
Com mochilas nas costas, mochileiro ou backpacker, como é denominado quem viaja desta maneira, fomos passar sete dias no norte daquele país, em Whitsundays, mais precisamente em Arlie Beach. A idéia era conhecer as barreiras de corais existentes naquela região.
Em um veleiro, espanhois, alemães, holandeses, ingleses e tres brasileiros, ficamos tres dias e duas noites no mar, curtindo o amanhecer, mergulhando durante o dia e apreciando o anoitecer. Confesso que mergulhar, para mim, foi o mais dificil, mas confesso, também, que a beleza daqueles corais e dos peixes existentes neles faz superar qualquer frio e medo que se possa ter.
Nos finais de tarde o barco parava na sombra de uma ilha, para evitar qualquer vento e de lancha íamos para a praia, onde sentavamos na areia e, maravilhados, curtíamos o por do sol.
Passamos momentos inesquecíveis juntos, eu, meu filho Diego e um amigo, Eduardo Gardenal, nascido em Bragança Paulista e que está por lá, também, fazendo a vida. Mais um dos “brasucas” que buscam esperanças e vida melhor em outras plagas.
A representação da imagem do sol se pondo no mar, abraçado ao Diego, foi emoção pura! Deixou minha alma preenchida, em estado de graça e absorvida por extrema calma.
Lembrei-me do meu amigo e da sua dor!
Lembrei-me de muitos amigos e de seus filhos!
Lembrei-me dos meus outros dois filhos!
Lembrei-me da Albertina e do significado da letra de uma das suas canções preferidas: Epitáfio dos Titãs. “Devia ter complicado menos; Trabalhado menos; Ter visto o sol se pôr”. “Devia ter me importado menos; Com problemas pequenos; Ter morrido de amor”.
Agradeci ao Grande Arquiteto do Universo por ter me proporcionado aqueles momentos e ao meu amigo que, da sua frase eivada de dor, me abriu os olhos para que eu pudesse ter o deleite de curtir o por do sol ao lado de meu filho!