quarta-feira, 17 de abril de 2013

Um milhão de habitantes

Quando se leem ou se escutam notícias referentes a equipamentos urbanos comunitários (saúde, lazer, segurança e educação), raras são as vezes em que a gente não se depara com reclamações, tanto em relação à quantidade quanto à qualidade. Tem-se, então, uma contradição a resolver, pois ao mesmo tempo em que se defende que todos tenham os mesmos direitos e igualdades de acesso aos equipamentos, a cidade estática não permite que tal aconteça. O que se vê é uma inadequação e falta destes equipamentos, não só no sentido quantitativo e qualitativo, mas, também, de localização. O que se infere, então, é que as gestões municipais (Executivo e Legislativo) não observam e não se planejam para as alterações decorrentes do crescimento dos municípios. Principalmente em relação à direção das expansões que, consequentemente, envolvem a ampliação do perímetro urbano, aumentando o custo da cidade. Está a Prefeitura, pelo que se acompanha nas notícias, em bom momento, deflagrando a discussão sobre a Joinville de um milhão de habitantes. Planejar a cidade para oferecer infraestrutura e equipamentos que concedam às pessoas qualidade de vida e bem-estar é algo premente. Entendo que a cidade deve buscar neste estudo iniciado, baseado em pesquisas, um meio ambiente mais abrangente e menos restritivo para todos. Este estudo que ora começa fatalmente passará pela definição das direções em que a cidade crescerá. Um exemplo, independentemente de gosto ou desejo, é a zona Sul, que, sabemos, crescerá fortemente, com a realidade da Universidade Federal e das novas indústrias, as nossas e as de Araquari. A sustentabilidade da cidade está ligada aos seus aspectos socioeconômicos, e para que ela aconteça, os gestores devem promover a igualdade e a integração social, assegurando-se de que a infraestrutura e os equipamentos urbanos comunitários estejam disponíveis para todos os cidadãos. O que não se pode é gerir e edificar a cidade excluindo-se partes de seus habitantes, o que me parece já acontece há muito com várias regiões da cidade que não têm acesso fácil a tudo o que esta oferece. Entendo que o objetivo final deste processo iniciado, mesmo que tenha nisto algo de utópico, seja eliminar as diferentes cidades que existem dentro da nossa cidade. Demorou, mas sempre é boa hora para começar. Planejar a cidade como um todo é garantir um bom futuro para a sua população.

terça-feira, 2 de abril de 2013

PASSADO E FUTURO

A cidade tem sido o local da transformação baseada na produção do conhecimento, pois é onde se encontram as universidades, os serviços e as indústrias. Ao mesmo tempo, é um espaço de construção de imagens, nossas lembranças, como se fossem criadas por um imenso alfabeto, com o qual se montam frases, que depois de executadas são difíceis de desmontar. Pode-se entender que a imagem que se tem do nosso local mantém um vínculo estreito com a cultura que sua sociedade produziu em um período e traduz, de certa maneira, as múltiplas formas de consciência da sua população. A rua do Príncipe dos anos 1960 ainda é, hoje, uma das fortes imagens da minha infância. A percorri, todos os dias, durante o tempo que durou meu curso ginasial. Conheci cada detalhe, com o olhar curioso da idade. Caminhava do Bucarein ao Bonja, todas as manhãs, ida e volta, olhando os DKWs da Douat, Sapataria Única, Salão Verde, Daniel Alfaiate das multidões, construção da Catedral, Foto Brasil, Clube Joinville, Farmácia Minâncora, Hotel Príncipe, o amarelo das Casas Pernambucanas, o chineque da Kibeleza e a estação rodoviária, na esquina com a Princesa Isabel. Imagens constituídas de realidade e não de imaginário. O tempo nesta época andava devagar, como a minha caminhada. A estética da rua do Príncipe apresentava uma autonomia cuja fonte era a inventividade dos nossos antepassados, mas que influía no meu imaginário e se diluía nas minhas subjetividades. Segundo Lefebvre, qualquer que seja o conteúdo histórico de uma cidade, esta deve ser entendida em três dimensões: artefato, campo de força e imagem, solidariamente interligadas. É artefato porque a sociedade que nela vive a constrói historicamente, produzindo-a com suas próprias características, dentro de toda complexidade advinda de seus diversos agentes sociais e através dos tempos. Nestes dias de discussão das leis que regulamentarão Joinville, pautar-se em um bom ordenamento do espaço urbano (locais de moradia, lazer, dos equipamentos comunitários e trabalho), preservando a história, é imprescindível, pois os reflexos serão sentidos pelos joinvilenses, que terão a oportunidade de viver em ambientes mais produtivos, salubres e acessíveis, tornando o cotidiano menos complicado e desgastante. Espero que os campos de força que se digladiam neste processo possam conjugar o verbo harmonizar e fazer da nossa Joinville um artefato, que traga aos meninos de hoje lembranças boas como as minhas, de ontem.