sábado, 22 de agosto de 2015

Didi

Pirulito, me dizia o Didi, quando eu tinha uns 10 anos minha avó tinha um papagaio que falava tudo. Um dia ele fugiu. Uns seis meses depois fui caçar no mato da Chiquita. “Ali na rua São Paulo esquina com a Alexandre Schlemm?” Perguntei. Isto. Lembras daquele pé de goiaba, monstruoso? Então, vi um papagaio num galho alto e mirei a cheloida. Para minha surpresa ele abriu as asas e disse: Didi não me mate, sou eu. Foi um gargalhada só. Na Joinville antiga, quando os navios iam até o moinho e no porto do Bucarein aportavam barcaças para carregar madeira e levar para o exterior, trabalhavam dois tipos de profissionais. Os Terrestres, cujo sindicato ficava na Rua Padre Kolb e onde o Didi se criou e o da Estiva, na Av. Procópio Gomes, onde me criei. Os primeiros trabalhavam do lado de fora das barcaças e os outros na parte interior. Homens fortes, que com a força de seus braços, ajudaram a fazer a história de Joinville. Nestes dias onde impera a sigla VIM (vaidade, inveja e maledicência), ainda existe gente boa e o Didi (hoje mais conhecido por Chiquinho) é uma destas pessoas. Amigo, simpático, tranquilo e com uma peculiaridade: paga para não falar, mas não se exime de escutar. Fazia tempo que não o via e o encontrei outro dia no centro da cidade onde ficamos trocando figurinhas e relembrando os bons tempos de juventude. No futebol era um leão. Jogamos muito nos campos da creche Conde Modesto Leal e do Grupo escolar Rui Barbosa. Tocador emérito de surdo nas rodas de samba e grande companheiro de “cuba” no antigo bar Braço de Ouro (Rua XV, esquina com a João Colin). Em grupo ficávamos conversando madrugada a dentro, e nos divertíamos com o silencio dele e de outro joinvilense taciturno, o Kid Sant’Anna. Certa vez o Pinga convidou o Didi para ir até Itajaí de carro e especificou que o estava levando para ele ir conversando na viagem. Ele topou. La por Itajuba, já passado 55 Kms, ele não havia aberto a boca, quando o Pinga já agoniado falou: Pô meu, viestes para conversar e não dissestes nada ainda. O Didi, travado de medo, olhou para ele com olhar de reprovação e disse: eu vim para falar e tu para dirigir, portanto cala a boca e presta atenção na estrada! Grande Didi!