domingo, 16 de março de 2014
Discurso Paraninfo Arquitetura UDESC – Laguna
Discurso Paraninfo Arquitetura UDESC – Laguna
Anselmo Fábio de Moraes / 15/03/2014
Quando o Alexandre foi na minha sala e me convidou para a formatura desta turma especial, tive um imenso prazer em receber o convite, pois a deferência de ser convidado pessoalmente para este grande ato da vida de voces, dos seus pais e porque não dizer da nossa, seus professores, é um prêmio.
A gente convive pelo menos cinco anos e quem se envolve, se interessa e participa da vida e da formação de seus alunos, não tem como não se emocionar.
No entanto, após ele sair, eu fui ler o convite. Ai a emoção foi muito maior. Eu estava sendo convidado para ser o Paraninfo da turma e não tinha entendido.
Adoro a vida, pois nela existem coisas que se repetem mas, mesmo sendo repetição, são como se fossem a primeira vez.
Ser paraninfo de uma turma de formandos sempre vai parecer ser a primeira vez. Não lembro quantas vezes já fui, nestes meus trinta e três anos de UDESC, mas posso garantir para vocês, esta tem a sensação de única. E é, porque esta turma é especial, única.
A alegria profunda que senti ao ler o convite, só não foi maior por que o Alexandre já tinha saído e não pude dar nele aquele abraço apertado de agradecimento. Mas pude ver, num filme relâmpago a fisionomia de cada um de voces, das aulas, das festas de amigo secreto nas épocas natalinas e do carinho e respeito com que sempre nos tratamos nos corredores e salas, da nossa escola.
Talvez, quando decidiram me convidar nem imaginavam a satisfação que me dariam, pois no meu entender, ser paraninfo de uma turma é o ápice para um professor, é a láurea máxima que este pode receber. Por isto agradeço a vocês pela deferência.
Senhores pais: obrigado por incentivarem seus filhos a virem para Laguna e cursarem Arquitetura e Urbanismo na universidade dos catarinenses. Podem ter certeza que eles estão preparados para o mercado de trabalho. Gostaria de parabeniza-los, também, pelos filhos que vocês têm. Nós que convivemos estes últimos cinco anos com eles sabemos da índole, do caráter e do potencial de cada um deles.
Recorro a Gibran Khalil Gibran, que escreveu sobre os filhos no livro “O Profeta”, para vos homenagear:
Vossos filhos não são vossos filhos, dizia ele. São os filhos da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não são de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e estica com toda a sua força, para que suas flechas se projetem rápidas e certeiras.
E eu completo: que bons arqueiros sois vós, pois ao vermos estes jovens, nesta noite, terminando com júbilo esta faze da vida, podemos dizer que vocês acertaram o alvo.
E é só isso, que todos nós pais, sempre queremos.
Senhores pais: são vossos filhos que estão na berlinda, na carruagem dos sonhos, mas esta noite também é de vocês. Celebramos neste momento o sucesso deles, mas não menos o da educação que deram a eles.
Eles estão formados, arquitetos e urbanistas e daqui partirão para conquistar o mundo, portanto, respirem fundo, libertem a emoção, sorriam, chorem.
Vale tudo neste momento de alegria!
Meus queridos apadrinhados:
O que estamos fazendo aqui hoje é um rito de passagem, enrijecido pela dor da despedida mas, esperançoso pelo início de uma nova fase na vida de voces!
Gostaria de relembrar que todos nós viventes deste mundo, sempre desejamos viver uma boa vida, feliz, prazerosa e vitoriosa, mas, só a conseguiremos se nos esforçarmos, trabalharmos com afinco e, principalmente, se formos éticos, preservando bons valores e o aprendizado que recebemos de nossos pais, desde que saímos do berço.
Esta fase da qual vocês se despedem hoje, teve as dificuldades que pertencem a ela.
A próxima fase, digo do alto dos meus mais de sessenta anos de idade e de quase quarenta de engenharia, terá outras responsabilidades, outros compromissos e, de certeza, será mais trabalhosa e, consequentemente, parecerá mais difícil!
Um dia lembrarão como foi doce esta fase que hoje se encerra. Na minha Joinville existe um doce alemão, recheado de maçã, chamado apfel strudel: esta fase foi a de comer a maçã. A partir de amanhã, sinto-vos dizer, passarão a comer a massa.
Mas não se preocupem, vocês têm lastro para superá-la, visto que estão bem formados. Vocês, tenham orgulho, são filhos da UDESC!
Esta nova caminhada pode ser boa também, trabalhosa sim, mas se vocês agirem com sabedoria, humildade e amor pelo que fizerem, pela profissão que escolheram, ela será boa. Tenham certeza disto. Amar sua profissão e fazer com prazer suas tarefas sempre vos dará prazer. Deixará a vida leve e satisfatória.
Quando vos sentires sós, tristes ou achando que não existe luz no fim do túnel, não se desesperem. Eu sei que não é fácil, mas também sei que a vida é uma curva senoidal. Um dia estamos por cima e outros por baixo. E é importante saberem disto, porque se levarem isto como valor de vida e respeitarem, agirem com amor e gentileza quando a curva está no seu lado positivo, sempre, terá um ombro amigo quando a fase negativa chegar. E é nele que deverão se apoiar.
Não tenham medo de buscar seus sonhos. Inspirem-se em Fernão Capelo Gaivota. Richard Bach quando escreveu a história desta gaivota, igual no formato, mas diferente das outras de sua espécie no modo de agir e pensar, e que era inconformada do voar comum apenas para conseguir comida, quis nos dar alento.
Fernão se preocupava com a beleza do voo, em aperfeiçoar sua técnica para executar voos cada vez mais perfeitos, seguindo muitas vezes na contra mão dos conceitos consolidados. Comportamento difícil e muitas vezes não entendido. Mas ela não desistia de buscar seu sonho porque ela sabia que podia mais.
Com foco, determinação, criatividade e muito suor vocês conseguirão sucesso como Fernão conseguiu.
Acredite “Voa mais longe a gaivota que persiste mais e sempre tenta voar mais alto.”
Quanto ao serviço, façam bem feito! Não importa o tamanho! Façam bem feito! Façam com amor, pois só assim vocês tirarão proveito e satisfação do que fizeram e o tempo parecerá mais leve. Porque querendo ou não ele passa e, no balanço final, a gente será lembrado pelo que fez, pelo que deixou de legado!
Por último, meus queridos: não se esqueçam de ser felizes.
Voem alto, mergulhem fundo, procurem sempre um novo caminho. Tentem, recomecem, insistam. Não desistam nunca. O que de pior podemos fazer é não tentar, desistir antes de começar!
Valorizem suas conquistas, reconheçam e agradeçam a quem lhes ajudam na caminhada, desde as pessoas mais simples até aquelas que estão hierarquicamente acima de vocês.
Sejam sensíveis, sejam humildes e, principalmente, sejam felizes.
Encerro dizendo que não esqueçam o que disse John Lennon: “A vida acontece enquanto fazemos planos”. Portanto: façam planos, mas não se enrosquem neles. Vivam!
Sigam em paz. Sejam esforçados, criativos, tolerantes, justos, honestos e éticos.
Tenham sucesso, mas não esqueçam, nunca, que o preço do sucesso é o suor!
Que o Grande Arquiteto do Universo abençoe e guarde todos nós!
Boa noite!
terça-feira, 11 de março de 2014
Trash Art
Segunda de Carnaval fui a Itajuba (Barra Velha). Minha praia desde os anos 1950. Cheguei e fui direto ao Bom Gole, nome sugestivo e, de certeza, um bar pequeno, mas muito bacana. Um espaço democrático onde você encontra surfistas, coroas, como eu, e nativos contadores de história. Fui matar saudades e rever o Pablito e o Martin, donos do espaço, e, para meu deleite, curtir a trash art do Martin Sanchez. Herdou da mãe, Grassiela Grassi, a artista argentina que se radicou naquela praia e que, por anos, colhia lixo nas areias da praia do Sol, seu quintal, transformando-o, com extrema criatividade, em arte. Sementes, madeiras, ossos e palhas que, misturados com tintas de várias matizes, enfeitam paredes por este Brasil afora.
E como se dizia antigamente que a fruta nunca cai longe da árvore, o Martin, que ajudava a mãe desde tenra idade a catar aquilo que para pessoas normais é lixo, após a ida de Grassiella para o oriente eterno, começou a fazer a sua própria criação. A transformar lixo em arte. Seus principais trabalhos representam a natureza. Seus peixes, corujas, crustáceos e máscaras tribais são peças que surgem a partir de madeiras de barcos, sucatas metálicas, ferramentas obsoletas e objetos dos mais variados, já utilizados e que foram descartados ou que as marés deixam nas costas das praias de Itajuba, onde mora.
São criações confrontadoras e, ao mesmo tempo, divertidas, que nos remetem ao lado obscuro do que desprezamos, mas que ganham “vida” na imaginação e na criatividade do artista. O uso desta matéria-prima, com a qual ele confecciona seus quadros, criando uma arte diferenciada, nos propõe um olhar crítico em relação às questões de consumo e daquilo que consideramos lixo.
O método dele é meio pautado na bagunça mesmo, pois só dessa forma consegue liberar a energia criativa, que pode nascer dos pés descalços nas areias da praia, no viajar da prancha sobre as ondas na praia do Syphodys, ou, mesmo, ao toque do vento no rosto, quando sentado nas pedras brancas do costão da Itajuba. A produção não é grande e a venda é rápida, mas, com sorte, pode-se curtir os quadros; neste final de semana eu tive, pois algumas obras enfeitavam a entrada do Bom Gole.
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