Outro dia, fui a um enterro de um ex-aluno, jovem engenheiro civil formado da nossa Udesc Joinville, e encontrei o Vicente do Loló, amigo de infância e frequentador assíduo do mercado público. Fazia muito que não o via e acabei encontrando-o naquele ambiente triste.
“Este prefeito que está aí não é de nada. Bom era o Freitag”, começou ele a prosa e logo em seguida me “mordeu” uns trocados. O Vicente sempre foi assim, entendido em política e, se você “der corda”, ele fica horas definindo os políticos desta nossa Joinville.
Ao ele ir embora, fiquei matutando sobre ele e outros tipos que a cidade já esqueceu. Tipos da cidade afeitos a serem vítimas de chacotas, de gozações e, não raras vezes, de compaixão.
Logo me veio à mente o Donato. Nos anos 1960/70, todos que frequentavam o Mercado Público o conheciam. “Donato, vai à missa sem sapato!”, gritava um gaiato, e ele, que diziam ter sido goleiro do América, soltava impropérios aqui impublicáveis.
A Negra Emília era inconfundível, empurrando seu carrinho de mão e vestida como homem, vagando entre o bar do Chico do Ernesto, na Procópio Gomes, e a avenida Cubas.
O Laranjinha, no Centro da cidade, fumando cigarro com a brasa dentro da boca e filtro no lado de fora era uma atração, assim como era o Bananeira, que embriagado adorava discursar e não contava tempo para sair agraciando com xingamentos a mãe de quem o contestava.
A Rosa do Pé Inchado era outra figura conhecida. Perambulava pela rua do Príncipe com aquelas trouxas características, uma de bugigangas na mão e outra, de pano, enrolada e protegendo o pé inchado. Daí o seu cognome.
Por último me lembrei do Chico Sapo, o “Chiquinho da Mamãe”, sempre bem vestido, limpo e cuidado pela respectiva. Adorava discursar, mas, quando ficava irritado com alguém, logo dizia, sem perder a classe: vai-te às fezes!
Se me perguntassem para quem deveríamos erguer monumentos, eu não hesitaria, abrindo a cortina do tempo, um só momento em eleger estas figuras. Cada qual representando uma época, um assunto e um espaço. Estas pessoas foram atropeladas pela pressa destes novos tempos, mas não serão apagados de minha mente como tipos da minha cidade.
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