quinta-feira, 9 de agosto de 2012
Revolução dos Bichos
Com 18 anos, em janeiro, eu trabalhava no bar do Chico do Ernesto, meu pai, para ele dar uma descansada. Verão, chateado, os amigos na praia. A vantagem era escutar o professor Kavanagh, filósofo da vida, das leituras e conversas. Um dia, perguntei para ele: “Como podem políticos que se odiavam ontem estarem abraçados hoje?” Ele, pensativo, citou Miraci Deretti, também emérito professor desta nossa Joinville: “Para os políticos, anjos não têm cor partidária. Anjos têm asas. Podem ser vermelhos ou brancos. Se tiverem asas, são anjos!”.
Outro dia, meu amigo Mafrinha, crítico mordaz de políticos de pensamentos declarados que os mudam e se entrelaçam em complexas junções, difíceis de entender e aceitar, me dizia: “O único parâmetro que rege os nossos políticos é o da autossobrevivência! Já leste ‘A Revolução dos Bichos’, de George Orwell? Não? Então, leia!”. Li! Fala da insurreição dos bichos de uma granja. Major, o porco ancião, reúne os animais e conta seu sonho em tom profético: os bichos assumindo a granja e formando uma nova sociedade. Eficiente, plural, democrática e livre da tirania. Todos adotam a ideia e expulsam o proprietário, iniciando a reorganização. Os mandamentos do Major são escritos na parede: “Animal nenhum deve morar em casa; dormir em cama; usar roupa; beber álcool; fumar e tocar em dinheiro”.
Tempos depois, baseados na pluralidade de pensamentos, debates e escolhas, os líderes passam a usufruir dos confortos, a divergir dos mandamentos e estes vão sendo alterados. Quem reclama é convencido de que se equivocou na interpretação e os que conseguem ler e enxergar, covardemente, se omitem. Ao final, um só mandamento: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. A revolução dos bichos vive a se repetir. Novos personagens assumem o protagonismo, mas o enredo continua o mesmo.
Hoje, entendo o mestre Kavanagh. Junções criativas não se prendem a pensamentos históricos, mas, sim, a quem “hoje” tem asas, independentemente do seu passado. Diria Sarmiento sobre o Brasil que vivemos: “¡Cualquier similitud con la revolución de los bichos es una terrible coincidencia!”
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