terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Cidadão lagunense

Há sempre um grau de romantismo em referência à cidade em que nascemos. Ali crescemos, fizemos amigos e parte da nossa história, que levamos por toda a vida como lembranças de um tempo vivido. Por outro lado, também existe certo grau ditatorial em relação ao lugar em que nascemos, pois não escolhemos nascer ali. Como somos frutos do amor dos nossos pais e estes ali residiam naquele momento, ali nascemos. Eu sempre tive comigo que, apesar do romantismo e até da melancolia que sinto quando estou fora de Joinville, me parece justo afirmar que mais do que do lugar onde nasci, sou dos lugares em que vivi. Sempre encarei assim, até porque, se assim não faço, sofro demais. Curitiba, Piracicaba, Niterói, Porto e Barcelona foram as cidades em que já morei e, hoje, me divido, por força do amor e do trabalho, entre Florianópolis e Laguna. Quando me perguntam de onde sou, respondo: “Nasci em Joinville, mas sou, também, de todas as cidades em que vivi! Delas trago boas e más lembranças, mas todas foram fotografadas pelas minhas retinas e estão gravadas em minha memória”. Disse-me, outro dia, meu filho Diego, que mora, uma eternidade, em Sydney: “De vez em quando, lá pelas curvas que a vida faz, bate uma saudade danada, imprevisível e inexplicável das paisagens e das pessoas da cidade da minha infância. Ela sempre me dá um sentimento de porto seguro”. “Isto é normal para quem é do mundo”, respondi, “e só acontece com quem não teve o privilégio de viver sempre na terra onde nasceu”. Por que estou falando disso? Porque na sexta feira, 14/12/2012, recebi o título de cidadão lagunense. O título me equipara a um filho oficial, como os nascidos na cidade. Os lagunenses, e não só os joinvilenses, são agora meus conterrâneos. Quando reitor da Universidade do Estado de Santa Catarina, criei o Campus Sul nesta cidade. Há três anos, transferi residência para cá e aqui trabalho lecionando no curso de arquitetura e urbanismo, com muito orgulho. Era lagunense de fato, agora sou de direito. Não me sinto no direito de me envaidecer pela honraria, pois criar o campus foi um ato de servidor público que quer o melhor para a sociedade. No entanto, me sinto extremamente honrado e agradecido, pois, agora, se a vida, algum dia, me levar a morar em outras paragens, terei dois lugares de referência como porto seguro: Joinville e Laguna.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Apelidos

Vinha caminhando, outro dia, desligado das imagens da rua, mas pensando numa das coisas que me tem encucado: a neura coletiva que está se criando em torno de que tudo é racismo, bullying, assédio e, depois da presidenta, gênero. Você diz “bom dia a todos”, e logo vem alguém e corrige: “e a todas”. Ô, coisa chata. Todos sempre foram e serão todos, independentemente de sexo, cor ou nível social. Quando os cumprimento, estou cumprimentado os seres humanos ali presentes! De repente, meu brother Gordurinha me faz voltar ao mundo real. “E aí, irmão, cuidado pra não morrer atropelado. Estás no mundo da lua?” “Pô, cara”, falei, “estava mesmo”! “Estava pensando nesta onda de que tudo é bullying”. “O Chico do Ernesto estaria ferrado nestes tempos. Lembra? Ele via um de nós e já tascava um apelido. Pé de valsa, Pirulito, Vela do Jaci, Grilo e por aí vai.” “Ele olhava pra gente, via uma característica e pimba. Bulia com todos nós e nem por isto fomos parar em analista. Daí estava absorto porque pensava nisto”. “É, hoje não se pode apelidar ninguém”, diz o Gordura. “Antes os nomes eram simples mas o carinha deixava um furo e agente lascava logo um apelido. Hoje não dá. O sujeito se chama Richardleson, Uelkinson e tu tens que decorar o palavrão. Nas minhas aulas, nem faço mais chamada. Só passo a lista. Vai que leio um nome errado e o aluno me processa por bullyng?” “Pois, meu irmão”, falei, “outro dia assistia a apresentação de um trabalho de graduação e perguntei ao colega do lado: “quem é o aluno?” “É o Jacó”. Respondeu e emendou: “não lembras dele? Foi teu aluno!” “Me senti mau, pois, se tem uma coisa que prezo é saber o nome dos meus alunos. Demoro para decorar, mas no final do semestre sempre sei”. Voltando para casa quis me testar. Peguei meu álbum de formatura e comecei a ver se lembrava de todos os meus colegas da engenharia, formandos de 1975. “Pescoço, Caganeira Um, seu irmão Caganeira Dois, Bico, Samuca, Pão com Molho, Xeiroso, Caca, Baiano, Xilin, ih, deu branco. Dos outros, não lembrava os nomes. Quarente e oito na foto e só lembrei-me de uns. Por quê? Cheguei a conclusão: os outros não tinham apelidos!” “Isto é normal”, complementa o Gordura, “ São os tais alunos e colegas invisíveis. Aqueles que passam os cinco anos da faculdade e a gente não nota. Na maioria das vezes, por serem normais demais. Não são bulidos, nem sacaneados e nem participam das nossas esbórnias. “Pelo sim, pelo não, podes continuar me chamando de Gordura, Pirulito”! Partiu deixando-me com a dúvida: é melhor ter apelido e ser lembrado ou ser chamado pelo nome e esquecido?

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Gratidão e Respeito

Meus pais sempre me fizeram entender que estas palavras deveriam nortear minha vida. Fiz o mesmo com meus filhos. Se formos ao dicionário, veremos que gratidão significa reconhecimento por um bem que alguém nos fez. Quanto a respeito, significa apreço, consideração, deferência. Ver a prática destas duas palavras no dia a dia, nestes dias de esperteza em que vivemos, tem sido difícil. Tenho visto muita gente que esquece rapidamente uma ajuda recebida, assim como a pessoa que o favoreceu. Na primeira oportunidade que poderia retribuir, por achar que nunca mais vai precisar de ajuda, age com ingratidão e falta de respeito. Sempre digo, como engenheiro que sou, que a vida é uma curva senoidal. A curva do seno em um gráfico cartesiano, representada por frequências, tem a imagem de uma onda, ora por cima, ora por baixo do eixo que a conduz. Isso me faz lembrar, sempre, que em partes de nossas vidas estamos em evidência e, em outras, no ostracismo. Os ingratos e os desrespeitosos acham que a onda deles sempre estará em alta. Isso acontece em casa, em relação aos pais e aos avós. Na iniciativa privada em relação aos ex-chefes e à própria empresa. Na vida pública, em relação a quem os alavancou para subir na carreira. É incrível como as pessoas, depois de conseguirem cargos, que nem mesmo nos melhores momentos de suas vidas imaginaram que alcançariam, esquecem-se de quem as ajudou. Ao atingirem postos elevados, pensam como se tivessem conseguido sozinhos, agem com falta de gratidão e de respeito com aqueles que lhes ajudaram. Outro dia ganhei um presente de meu amigo Theofanes e, pasmado, disse: “Cara, eu não mereço isto!”. Ele rapidamente me respondeu: “Mereces muito mais. Sempre me ajudastes e este agradecimento é mínimo pelo que já fizestes por mim e por muitos alunos teus”. “Desculpe, amigo, mas faço sem desejar nada em troca. Aliás, acho que já fizestes mais por mim do que eu por ti. Nestes dias de hoje, em que se veem muito mais ingratidão e falta de respeito, fico emocionado com o teu gesto”, disse a ele. “Infelizmente, isto é verdade”, me disse ele, “mas no meu dicionário de vida, não existem os antônimos de gratidão e respeito”. Fiquei matutando sobre estes dizeres e lembrando-me de pessoas que conheço e que se norteiam pelos antônimos. Uma pena, mas fazer o quê?

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Surpresa

“E aí, Gordura!” – diz o Pirulito – “que achaste do resultado das eleições? Deu para entender a virada do seu Udo?” “Pois, Pirula, a coisa foi esquisita. Cara, o Kennedy dormiu prefeito e acordou deputado. Lembrou aquela que o Vieira perdeu aos 45 minutos do segundo tempo para o Lula (o nosso)”. “É verdade, Gordura. Lembro bem. Aquele que mergulhou lá perto de São Francisco dizendo que era no rio Cachoeira. É ruim, hein? Nesta ninguém prometeu purificar o nosso rio, mas tomara que apareça um iluminado e convença o homem a começar o processo, devagarinho, para ver se um dia chega lá. Já pensou a gente, agora velhinho, como na nossa infância, no portinho do Bucarein, pescando umas corvinotas?” “Pois é, irmão. O homem ganhou na credibilidade, acho. O joinvilense se mostrou tradicional e votou no gerente. Ficou com medo de arriscar de novo, pois a experiência baseada na retórica foi traumática. Vai saber, de repente, o povo ficou com saudades do seu Freitag”. “Pô, meu, mas este não era só gerente. Além disto, tinha um time de primeira no secretariado. Uma galera que conhecia a cidade e dizem que ele os escutava”, diz o Gordura. “Realmente, por tudo que fez, devia saber se assessorar, mas o seu Udo, pela experiência de vida, também deve, não achas?”, resmunga o Pirulito. “Está com a faca e o queijo na mão. Não teve apoio no segundo turno, não deve favor a ninguém! Pode colocar no secretariado quem quiser. Pode escolher a dedo. Apesar de dizerem que é meio teimoso”. “Que nada. Alemão não é teimoso. Teimoso é quem teima com ele! Uma coisa que me deixa meio cabreiro é que entendo que Joinville não precisa só de gestor. Para a gente conseguir traçar uma linha de futuro, além de arrumar a inhaca que está a cidade, o alcaide tem que ser, também, sonhador, para não dizer utópico. Tem que inventar e reinventar o cotidiano, senão vamos ficar na mesmice”, diz o Gordura. “Sabes que já pensei nisso?”, vociferou o Pirulito. “Se ele não é muito de sonhar, deveria reforçar o Ippuj com reconhecidos urbanistas e formar um grupo de gente interessada e competente, que ouçam e codifiquem as vozes da cidade, para projetar a Joinville das próximas gerações. Fazer um plano científico, estruturado e embasado em cidades que fazem certo e adaptadas à nossa realidade”. “Concordo contigo, Pirula. Vamos torcer, pois o que interessa é termos qualidade de vida para nossa gente!”, diz o Gordura, encerrando a conversa. *Mestre em engenharia civil

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Parar é morrer?

Outro dia conversava com o Gordura, meu brother, e ele me perguntou: “E aí, vais parar de trabalhar quando?”. “Pô, brô, ainda é cedo!”, respondi. “Não consigo me ver aposentado, alisando pelo de gato ou levando cachorrinho, dizendo vem com o vovô, para fazer cocô na praça.” “Enquanto o físico ajudar e os alunos estiverem com sorrisos nos olhos e mirando na minha direção, quando estou expondo um assunto, entendo que devo ir ficando!” “Outra coisa que não me deixa parar é um diálogo que presenciei na cidade de Porto e que ficou cravado em minha mente.” “Estava eu em uma parada de autocarro (ônibus em Portugal), na Avenida Circunvalação, esperando o 205, Castelo do Queijo – Campanhã, para ir para a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, quando chegaram duas senhoras. Uma de uns 40 anos e outra já bem mais vivida. A mais nova vinha resmungando e dizendo: “Não vejo a hora de me reformar (aposentar, na terra mãe)!””. A outra, indignada respondeu: ‘Vocês, jovens, vivem reclamando e querendo parar de trabalhar, pois te digo: ‘parar é morrer!’” “Esta frase sempre me martela o pensamento. Mostra-se autoexplicável!” “Acordar e não ter nada para fazer; levar a vida sem agito; sem ter a galera te perguntando coisas nos corredores da faculdade, usando do teu conhecimento adquirido com o tempo; ficar com medo; retrair-se; não ser chamado de veterano pelos teus alunos mais próximos ou mesmo de coronel, título adquirido com trabalho, dedicação e amor à instituição que tenho servido há mais de 30 anos, deve pesar muito. Não sei, não penso e nem imagino como será a despedida.” “Cara, a vida é assim. Um dia a gente tem que parar”, disse meu brother. “Entendo que devo viver para o amanhã, buscando a felicidade, focando a cada dia em novos objetivos, sempre partindo para outra onda e surfando na crista. Sei que isto provoca angústia, cansaço, ansiedade, mas em compensação aumenta a adrenalina, que fornece a energia vital para prosseguir. Quando não estou submetido a toda esta azáfama, sempre tenho uma sensação de vazio. Um sentimento de final de tarde de domingo, daquelas melancólicas, soturna, depressiva”, argumentei. “Concordo em termos contigo”, diz o Gordura, “mas acredito que se pode fazer outras coisas na aposentadoria, que nos leve a viver com tranquilidade. De outra forma, de certeza, mas não tão cruel como pensas!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Roberto Busch

Ehrenmann do alemão, gentleman do inglês ou cavalheiro do português é o que se diz de uma pessoa dona de si, respeitosa consigo mesma e que se faz respeitar. Pessoa que, aos dizeres da linguagem popular, “teve berço” e que tem sua essência de vida baseada na educação, na gentileza e na sabedoria. Uma pessoa soberana, de bom caráter, com força interior para governar seus atos e regulada pela dignidade e pelo senso de liberdade próprio, além do respeito à liberdade dos outros. O Ehrenmann é baseado muito mais na moral do que no intelectual. Do respeito a si mesmo faz com que derivem outros atributos naturais que não precisam ser forçados para aparecer, como o cuidado com sua própria pessoa, sua linguagem, suas maneiras. Tem altivez e luta pela preservação constante da honra e do amor-próprio. Dificilmente, deixa abertura para sofrer censura, mas se censurado absorve e pensa sobre esta. Escuta mais do que fala, e quando fala, o faz com propriedade, porque só expõe sua opinião quando tem um mínimo domínio do assunto. “Não arrisca e nem petisca” como fazem as pessoas comuns que acham que podem discursar sobre tudo. É tratado com respeito, pois sempre está atento em manter as distâncias no relacionamento, em observar todos os matizes da educação convencional, respeitando a classe, a idade e a situação dos seus interlocutores. Sua polidez é uma atitude, uma marca pessoal. Segundo o filósofo John Locke, “os homens são bons ou maus, úteis ou inúteis, graças a sua educação”. Afirmou, ainda, que estes devem ser educados para servir à sociedade em que vivem. Para encontrar seu lugar dentro dela e exercerem aí sua vocação. Dentro das afirmações de Locke, enquadro Roberto Busch, professor e amigo por 30 anos, no curso de engenharia civil da Udesc. Este encontrou o seu lugar na sociedade e com a sua vocação serviu a ela. Joinville perdeu, com a sua ida para o Oriente Eterno, um dos seus Ehrenmanns, filho motivo de orgulho, ao qual deveria homenagear. Professor das nossas duas universidades, Udesc e Univille, deixou um legado pelo seu modo de ser, pela educação e por tudo que fez pelo serviço público de nossa cidade e do Estado. Para quem teve o prazer de desfrutar de sua amizade e de seu convívio, sofreu uma grande perda, mas que fiquem para nós e para seus inúmeros alunos o exemplo e uma saudosa lembrança.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Juarez Machado

Quis ir no dia em que começou a exposição do artista em Florianópolis. “Soixante-dix”. Estavam lá vários amigos de Joinville. Tive problemas e não deu. Não revi os amigos e nem tive o prazer de conhecer este cidadão que tanto honra a nossa terra. Fui no último dia da exposição. Estudei o ginásio no Colégio Bom Jesus com o Edson, irmão dele, e hoje entendo por que este vivia desenhando nas aulas de matemática e de geografia dos professores Castanheira e Aluizius Sehnem, respectivamente. Na exposição aparecem entrevistas, que fiquei apreciando, e pelos dizeres do Juarez, seu João, pai deles, fez com o Edson o mesmo que fez com ele, encaminhando-os para os desígnios da arte, cada um no seu momento e com suas propriedades. Relembrei dos tempos do Bonja e dei boas risadas quando ele contou que levou algumas reguadas da diretora, por nas aulas ficar desenhando mulheres peladas. Ri, pois me veio à mente a lembrança da dona Ana Maria Harger, diretora do colégio nas décadas de 1950 e 60, chamando o meu amigo Pinga de “sua joia” e quebrando a famosa vara, que sempre a acompanhava, nas suas costas, devido a alguma peraltice que ele teria feito. Hoje ela seria processada, mas aqueles eram outros tempos, de outro tipo de educação, de outros tipos de pais e filhos. A arte é uma forma de expressão que mostra as emoções, a história e a cultura, e estas, eu pude apreciar nos 70 quadros expostos. A pintura das suas figuras humanas sempre com um representar diferente, em cada tela, foi um deleite. Tenho comigo que os artistas são seres diferentes, além do nosso tempo. Colocam nas telas sensações que uma pessoa comum não consegue ao menos imaginar, por mais que se esforce. Se os artistas são pessoas iguais às outras, de onde vem a diferença? Não sei. Só sei que quando se observam quadros de um artista desse calibre, a gente se transporta para outro mundo. Fico pensando quantas horas ele ficou treinando suas mãos para obedecerem a sua imaginação e interpretarem seus sentimentos. Uma pena a exposição não ser apresentada em Joinville e aos joinvilenses. Imagino que se lhe fossem dadas as condições de expor aqui, isto lhe honraria e seria, também, uma homenagem da terra em que nasceu e à qual ele não cansa de declarar amor, independentemente do local em que a vida o leve a viver.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Moral

“Um revolucionário pode perder tudo: a família, a liberdade, até a vida. Menos a moral”. Esta frase é atribuída a Fidel Castro. Não está escrita aqui porque eu seja fã dele. Aliás, é o contrário, pois eu conheço Cuba e, tirando os cubanos e as belezas naturais, o resto é uma vergonha. Uma revolução dita para libertar o povo do imperialismo americano e que, na verdade, levou o povo a viver numa pobreza de dar dó, sem qualquer liberdade de atos e de expressão. Para mim, essa não passa de mais uma das frases de efeito político e que, neste momento de eleições, se somam a tantas outras que fluem em grande quantidade pelas bocas dos candidatos com a maior desfaçatez. No Brasil recente, acontece exatamente o oposto do que disse o ditador cubano. Os nossos políticos revolucionários não perdem a família, a liberdade e a vida. Se olharmos bem, veremos que o que fazem de melhor é se locupletar. No que se refere à moral, o que a gente vê são os possuidores de cargos, ditos importantes, sem qualquer vergonha de mostrar que não a têm. Dizia meu amigo Pirulito outro dia, referindo-se aos programas políticos assistidos na TV: “Ainda não morreu a minha esperança de ver gente séria na política. A esperança de ter a presença física de políticos que me passem confiança. Assisto aos programas e tento enxergar a ética e a moral dos candidatos. O que me passa, se é que meu senso de moral não está atravessado, é que a moral da maioria dos candidatos contém sempre algo de imoral”. “Mas o que está aí, está posto”, disse-lhe eu. “Eu sei”, respondeu, “mas não podemos ser cúmplices desta chacina moral que estão nos impondo e às novas gerações. Se nos querem subjugar lentamente com atos imorais e subterfúgios, acho que devemos resistir com dignidade. Entendo que o passado é lição para se meditar, e em cima deste pensamento fico pensando em como escolher o meu candidato a prefeito”. “Se te posso dar um conselho”, disse-lhe: “Vote em quem moralmente tem o que perder. Vote naquele que tendo o seu nome subjugado ao crivo da sociedade, por ser acusado de fazer malfeito ou errado, não resistirá. Pegará o seu chicote e se açoitará até sangrar!” Talvez não seja fácil, dadas as circunstâncias, descobrir quem! Mas sempre há que se achar uma forma!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

RETORNO

Atravessava eu a Boulevard de Saint Germain, indo em direção ao Quartier Latin, quando escutei me chamarem: “Mestre Anselmo!” Olhei para trás e vi um ex-aluno do curso de engenharia civil da Udesc Joinville. “E aí, irmão? Passeando?”, perguntei. “Pois é, mestre, tenho praticado teus ensinamentos de sempre viajar e ver coisas novas. O ‘vírus viajante’ que colocavas em nós, em mim pegou”. Agradeço aos céus todos os dias por lecionar em uma universidade. Desde 1981, tenho tido este prazer. Trabalhar como professor, para mim, é cultivar com habilidade jovens de todos os tipos, por meio de ferramentas diferenciadas: palavras, respeito, afeto, dedicação e exemplo. O legal disso é que, como em todo cultivar, este, também, se transforma em uma grande troca de dar e receber. Passo experiência e recebo juventude, que não serve diretamente ao corpo, mas sim ao espírito, mas que, querendo ou não, reforça o corpo. O mais interessante desta realidade é você saber que lançou ideias, “botou pilha”, àqueles que serão os profissionais do futuro e elas vingaram. O bacana é se certificar que os alunos acumulam, com tuas palavras e atos, autoconfiança para ousar e para realizar sonhos individuais e coletivos que passarão a compor a história deles e da humanidade. Emociono-me ao saber que, ao lecionar com prazer, posso levar mensagens claras que podem virar fonte de luz e de inspiração para meus alunos. Se todo professor tivesse consciência do poder de ação que exerce sobre seus alunos, certamente, teríamos profissionais muito melhores. Vibro com colegas que repassam muito mais que teorias e conceitos. Vibro com aqueles que edificam pelo próprio exemplo e, principalmente, pelo incentivo que dão ao surgimento de mentes mais bem preparadas para a construção de um mundo novo. Em compensação, fico triste com aqueles que denomino “zumbis” do ensino, que lecionam como quem se desincumbe de um fardo pesado, a troco de um soldo a ser recebido no final do mês e ai não percebem que não passam de simples robôs se enrolando na própria mesmice. As férias de julho nos afastam por um mês. Mas o reencontro com os que voltam é muito bom. Infelizmente, ou felizmente, há os que se vão porque se formam. Mas estes a gente encontra depois nas “Saint Germain” da vida. E como é bom receber o feedback de que escutaram o que a gente plantou naqueles seus dias de juventude, de universitários!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Revolução dos Bichos

Com 18 anos, em janeiro, eu trabalhava no bar do Chico do Ernesto, meu pai, para ele dar uma descansada. Verão, chateado, os amigos na praia. A vantagem era escutar o professor Kavanagh, filósofo da vida, das leituras e conversas. Um dia, perguntei para ele: “Como podem políticos que se odiavam ontem estarem abraçados hoje?” Ele, pensativo, citou Miraci Deretti, também emérito professor desta nossa Joinville: “Para os políticos, anjos não têm cor partidária. Anjos têm asas. Podem ser vermelhos ou brancos. Se tiverem asas, são anjos!”. Outro dia, meu amigo Mafrinha, crítico mordaz de políticos de pensamentos declarados que os mudam e se entrelaçam em complexas junções, difíceis de entender e aceitar, me dizia: “O único parâmetro que rege os nossos políticos é o da autossobrevivência! Já leste ‘A Revolução dos Bichos’, de George Orwell? Não? Então, leia!”. Li! Fala da insurreição dos bichos de uma granja. Major, o porco ancião, reúne os animais e conta seu sonho em tom profético: os bichos assumindo a granja e formando uma nova sociedade. Eficiente, plural, democrática e livre da tirania. Todos adotam a ideia e expulsam o proprietário, iniciando a reorganização. Os mandamentos do Major são escritos na parede: “Animal nenhum deve morar em casa; dormir em cama; usar roupa; beber álcool; fumar e tocar em dinheiro”. Tempos depois, baseados na pluralidade de pensamentos, debates e escolhas, os líderes passam a usufruir dos confortos, a divergir dos mandamentos e estes vão sendo alterados. Quem reclama é convencido de que se equivocou na interpretação e os que conseguem ler e enxergar, covardemente, se omitem. Ao final, um só mandamento: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. A revolução dos bichos vive a se repetir. Novos personagens assumem o protagonismo, mas o enredo continua o mesmo. Hoje, entendo o mestre Kavanagh. Junções criativas não se prendem a pensamentos históricos, mas, sim, a quem “hoje” tem asas, independentemente do seu passado. Diria Sarmiento sobre o Brasil que vivemos: “¡Cualquier similitud con la revolución de los bichos es una terrible coincidencia!”

Parâmetros

“E aí, Gordura, o que achastes dos candidatos a prefeito?” “Sei lá, Pirulito! Entendo que devemos avaliar os mais variados parâmetros para definir em quem votar e que pode vir a ser o melhor prefeito. Tem feitos que ajudaram Joinville? Seu discurso reflete seu modo de ser? É “pavão”? Quem não pensa como ele está errado? Tem jogo de cintura? Tem educação? Tem ficha limpa? Tem perfil de quem é comprável? Sabe liderar? Entendo que são vários os parâmetros.” “Olha só Pirulito. Um parâmetro que eu nunca tinha pensado em avaliar era o do patrimônio adquirido, pelos seus próprios feitos. Todos os candidatos são conhecidos e sabemos onde têm trabalhado. Considerando que todos são sérios, dei uma avaliada no que declararam, (jornal “A Noticia”) para servir de parâmetro. Meu pensamento é racionalizar. Olha só: um deles se vangloriava de morar no “Guanaba”, mas não declara imóvel lá. Vendeu e se mudou? Declara um imóvel na Procópio Gomes assim como uma boa grana aplicada. Investiu bem o que recebeu nestes últimos 20 anos como político. O homônimo do famoso presidente americano declara um apartamento de bom preço e duas caminhonetes (tem bom gosto). Grana guardada nada e olha que ele tem um bom rendimento como deputado. Deve ter se esquecido. O ex-prefeito declara uma casa de bom valor, outros imóveis e muitas aplicações, mostrando ter boa visão administrativa pessoal. Os dois terrenos da rua Lages pelo valor, se ele vendesse eu comprava. Já pensaste eu morando no bairro América pelo preço do minha casa, minha vida? O empresário candidato deve ter chorado ao abrir o patrimônio, mas como todo “de origem”, como se dizia no Bucarein, mostra-se seguro e com uma “boa reserva”. O título da Sociedade Palmeiras não precisava declarar, R$ 59,93, é muito chinfrim perto de toda sua bufunfa. Senti falta de imóvel residencial. E o jornalista, hein? Declarou que tem R$ 5 mil aplicados na própria firma. Não tem casa e nem dinheiro. Imagino que ele seja como eu, mochileiro das galáxias, gastando em viagens pelo mundo em vez de investir e pensar na velhice. Há quem discorde, mas eu gosto. De viajar, claro!”. “Meu amigo, a pergunta que fica é: se o candidato sabe fazer crescer o dinheiro dele, saberá aplicar o da Prefeitura da melhor maneira possível pelo bem da cidade? O que tu achas?”

terça-feira, 10 de julho de 2012

A HORA DA ESCOLHA

Estão postas as candidaturas! Sabemos agora quem são os candidatos a prefeito de Joinville. Aliás, só confirmamos o que já sabíamos, pois tirando o Dr. Xuxo, que, infelizmente, foi defenestrado sem dó, respeito ou piedade, como diriam alguns quando lhes interessava, pelo partido da Ilha, os outros já estavam postos. Afinal, já estavam escolhidos pelos cardeais, donos dos partidos, e a nós, mortais comuns, só nos resta tentar escolher o melhor, dentro daquilo que entendermos ser o melhor. Os partidários e os que vislumbram interesses, neste momento, não têm dúvidas, pois apoiam e defendem aqueles que lhes interessam, com o mesmo fanatismo com que torcem pelo seu time de futebol. Não analisam as perspectivas, o passado, a capacitação, as intenções e muito menos quem acompanha o candidato. “Voto neste porque é do meu partido e pronto”, dizem, ou seja, “a cidade que se exploda!”. Em todas as eleições, a gente escuta: “O voto é individual e secreto”. “A escolha é sua”. “Pense bem, avalie os candidatos e exerça seu direito de escolher”. Elas nos remetem ao senso comum de que nosso voto vai “salvar a lavoura” e de que a nossa escolha será a tábua de salvação para a cidade. O que geralmente tem sobrado é, na verdade, que essas afirmações viram simples frases bonitas, filosóficas, atropeladas e sufocadas pela própria escolha dos nomes dos candidatos que nos são impostos. De qualquer forma, este é o modus operandi da política brasileira e, na nossa paróquia, não é diferente, portanto, não se tem muito que fazer quanto a isso. Mas podemos, sim, analisar cada candidato posto, sem paixão partidária e pautados na razão, nua e crua! Qual é o candidato mais capacitado para dirigir a cidade? O que já fez pela cidade que o habilite a receber meu voto? O que ele tem a perder se fizer um mau governo? Se ele não for bem, ficará vermelho de vergonha ou com aquele sorriso amarelo, querendo nos fazer acreditar que fez o melhor governo do mundo? Em suma, analisar o candidato por si só. Pelos seus feitos. Pela sua credibilidade. Pela sua trajetória de vida. Pelo seu passado, tendo como máxima: quem não tem um passado probo não serve para definir o futuro, nem o seu e muito menos o da cidade!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Melhor idade?

Conversava ontem com meu amigo Pirulito e o parabenizava por completar 60 anos. Ele, crítico, como sempre, comentou: “Obrigado, meu irmão. Classe de 1952 e, às vezes, com saudades do 13° BC, mas não do coturno, nem de tirar tiririca no pátio do batalhão. Como dizia minha mãe, já nasci incomodando, pois vim ao mundo ao meio-dia. Contava ela que meu pai teve que ir de bicicleta do Bucarein até a Farmácia Iguaçu, na rua 15 de Novembro, chamar o tio Clarindo pra levá-la até a Maternidade Darcy Vargas. Joinville de outros tempos. Mas tu lembras que quando a gente tinha 20 anos achava que quem tinha 60 era velho? Hoje me acho um guri e tenho comigo o consolo de que envelhecer é o único meio de viver muito tempo”. “Pois é”, disse eu, “li outro dia que vivemos encerrando ciclos, capítulos, fechando portas, mas não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já passamos. No entanto, o que me deixa cabreiro é esta história de melhor idade. Pra mim, estamos entrando na idade da pílula e do condor. Com dor aqui, dor ali e dá-lhe pílula”. “Com esta história de melhor idade, o que sobra é saber quando uma etapa chega ao final e começa a outra. Insistir em permanecer cinquentão mais do que o tempo necessário é perder a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver, e assim vai ser se chegarmos aos 70”, completa ele. “Pô, meu amigo, sempre é bom te ver e já que a gente se vê pouco”, diz o Pirulito, “como sei que és chegado num docinho, vamos ali à Confeitaria XV tomar um café com torta alemã e colocar o papo em dia?” “Se liga Pirulito, a tia não deixa!” “Tia? Que tia, pô?” “Como dizia o Xereda, a Tiabete. Chegou com tudo! Herança da vó Ana”. “Concordo, amigo, esta tal de melhor idade é dose. A gente até pensa que é jovem, porém, haja esforço. Só mesmo movido a bagas. No mínimo, para pressão alta, diabetes e prostatite e, por falar nela meu amigo, outro dia senti muita saudade do chuá”, disse ele. “Chuá? Não percebi?” “Não? Lembras quando ias com o poderoso fazer xixi? Miravas o jato no meio do vaso e chuá. Com esta tal de prostatite, que aflige, segundo as estatísticas, cada quatro de cinco sessentões, a gente mira, se esforça e só escuta ping, ping. Não é de sentir saudades?”

terça-feira, 12 de junho de 2012

Malagueta

Uma das plantas, entre muitas outras que a gente cultivava em casa e que eram xodós do Chico do Ernesto, nosso pai, eram as pimentas. Ele cultivava cumari, dedo-de-moça e, principalmente, a malagueta. Conservava-as no vinagre, no azeite ou no álcool e dizia que cada tipo tinha um sabor diferente. Sempre esmagava três malaguetas verdes, no fundo do seu prato, antes de colocar a comida. Dos que vi comer mais pimenta que ele, só o Chico Apati, um húngaro que morava na avenida Média, perto do mercado público, que mastigava sete malaguetas vermelhas e depois sorvia um “mercedinho” (copo com 150 ml) de Jabiru, a cachaça preferida da época. O Chico sempre nos dizia: “O ardido da pimenta provém de uma substância denominada capsaicina e seu uso melhora o sabor, o aroma e a cor dos alimentos, além de ter um grande valor vitamínico (A e C)”. Saindo de casa num sábado à tarde, o Gordura pegou uma malagueta vermelhinha e tentava passar na minha boca. Corre daqui, se defende dali, se aproxima o Edmilson, moleque vizinho nosso, e pergunta: “Gordura, vai namorar hoje?”. “Vou. Vem cá que quero te mostrar um negócio”. E o Ed veio. Pimba, malagueta na boca dele. Foi uma correria só. O Ed berrando: “Pai”, e correndo pra dentro de casa; e nós dois voando até o bar do Chico. Escondi-me embaixo do balcão e o Gordura sumiu. Só escutei o Nezinho, pai do Ed dizer: “Seu Chico, seus filhos estão aí?” “Não, aqui não apareceram, obviamente nos encobrindo. Por quê? Aprontaram alguma?” “Os malvados colocaram pimenta na boca do Ed, que está lá em casa se esgoelando!” “Esses moleques não têm jeito. Deixa comigo: se eles aparecerem aqui, pego eles”. Assim que o Nezinho foi-se embora, o Chico nos levou grudados pelas orelhas lá pros fundos do bar e nos passou o maior sabão. De castigo, tivemos que limpar e deixar o bar tinindo. “Pô, Gordura. Sacanagem, me ferraste”. “Relaxa. Isto é para tu aprenderes que pimenta na boca dos outros não é refresco!” Outro dia, acompanhando os dizeres e chororôs dos políticos da paróquia joinvilense, lembrei-me deste fato da minha infância. Correlacionei. Quando o político profissional não tem a responsabilidade da decisão, colocar pimenta na boca de quem tem é refresco. Mas quando a responsabilidade de decidir é dele, ao sentir o ardor, se esgoela e chora!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Vacina E aí, Pirulito, tudo beleza? “Beleza nada, cara. Tem coisas que não entendo e fico cabreiro. Nós dois somos cancerianos sonhadores, certo? Pois aniversariamos no mês que vem. Sessentaço! Daí, como está faltando gente de idade, sei lá se por medo ou por falta de interesse, para se vacinar contra a gripe, pensei: ‘Por um mês não sou do grupo de risco e que tem direito a tomar a vacina de graça, então, vou lá ao posto de saúde e arriscar. Numa dessas me fornecem’. Sabes que na nossa profissão de professores estamos, extremamente, suscetíveis a encarar uma H1N1 e ter que ficar uns dias em casa e os alunos sem aula. O pior é que antes disso a gente vai contaminar uma galera, pois na nossa idade a gente não fala sem cuspir nos coitados dos alunos.” Se o Ministério da Saúde prorrogou em mais uma semana a campanha de vacinação, que vai agora até o dia 1º de junho, pois está longe de alcançar a meta prevista e estipulada, me escalei e fui ao posto, até porque entendo que professor deveria estar na lista dos agraciados com esta benesse do governo, mesmo que fosse pra não faltar ao serviço. Cara, na chegada já fui me desiludindo, pois a moça que, pretensamente, ia me espetar não tinha cara de bons amigos. Tudo bem. Sou um coroa simpático e fui levando uma conversa com ela, pois tinha consciência de que estava fora do grupo, afinal, faço 60 anos, como tu, só no mês que vem. Não deu outra. ‘O senhor está fora da idade estipulada!’. ‘Eu sei’, respondi, ‘mas veja bem, pelo que tenho lido, o nosso ministro da Saúde prorrogou a campanha porque pouco mais de 50% dos que têm direito vieram se vacinar. Como estou na beira de entrar no grupo de risco e estou interessado, vim’. ‘É, mas não dá. Regra é regra e tem que ser cumprida!’. Pensei, então, comigo mesmo, convencido de que o mundo não está perdido, pois ainda tem gente honesta: ‘Esta poderia ser vereadora ou deputada. Cumpre o seu dever com afinco, precisão e sem desídia!’” Como perco o amigo, mas não perco a piada, falei: “Pô, Pirulito, se queres tomar a vacina de graça por que não vais ali naquela loja e rouba uma camiseta?” Ele assustado me questionou: “Estás louco?” Respondi: “Louco nada! Pela regra do governo, professor não tem direito, mas presidiário tem! Aí tu se aproveita da lógica às avessas!”

terça-feira, 15 de maio de 2012

O poder da escolha E aí, Gordura, preparado para as próximas eleições? “Cara, estou com total descrédito no processo, a não ser que fosse para eleger gente realmente nova. Aliás, o artigo ‘Corrida desigual’ (7/5), publicado em ‘A Notícia’, de Jordi Castan, faz uma boa comparação entre a disputa eleitoral dos novos candidatos a vereadores em Joinville e a dos atuais, que por estarem estes há tempos encastelados na Câmara utilizam de apoio logístico pago pelo erário. Disse ele: ‘Uma alternativa para que esta corrida tão desigual permita o emparelhamento de todos os concorrentes com as mesmas chances só poderia acontecer se houvesse uma mobilização a favor da não renovação de nenhum dos atuais vereadores.’” “Com isso, ele insinua e estimula que chegue ao próximo Legislativo uma nova leva de cidadãos desprovidos de vícios adquiridos, formando uma Câmara com novas ideias e práticas. Confesso que a ideia compactua com a minha”, disse o Gordura. “É meio utópica, pois sabemos que quem já está no mandato tem muito mais possibilidades de se reeleger, já que teve o nome veiculado na mídia por quatro anos, teve a chance de participar de eventos e até de fazer favores com as benesses do erário, como se fossem seus”. Fiquei pensando nesses argumentos e refletindo que, diante das mesmas cabeças influenciando e definindo os rumos da cidade durante um longo tempo, fica difícil surgir ideias novas. Urge, então, se queremos melhorar a cidade, a necessidade de mudar, e isso só cabe a nós, eleitores, reprovando nas urnas aqueles que pretendem se perpetuar no poder, como se tivessem direito adquirido. A alternância de poder é um dos princípios basilares da democracia para evitar a perpetuidade de político que se limita a se locupletar e ao vício da caça de voto, esquecendo-se de fazer um bom serviço para a comunidade que o elegeu e pelo qual foi bem remunerado. Infelizmente, muitos se encantam com belos discursos, com a força dos recursos do marketing político, se iludem com sujeitos carismáticos, com sobrenomes famosos, ou mesmo com auxílios financeiros repassados não sei como por cabos eleitorais. Avaliando tudo isto, resolvi: estou dentro! Vou escolher e votar em gente que nunca se elegeu!

terça-feira, 1 de maio de 2012

Corrupção

*“Mais vale andar só do que mal acompanhado” é um ditado antigo que a gente escutava nas ruas do Bucarein, desde pequeno, quando os mais velhos queriam dizer para a gente se afastar de alguém que no entender deles não era boa companhia. Num destes finais de semana, várias pessoas, muito menos do que na verdade deveriam ser, saíram às ruas para protestar contra a corrupção no Brasil. E não é para menos. Os noticiários desses últimos anos, invariavelmente, colocam às nossas vistas e ouvidos casos e casos de políticos que têm se locupletado do erário ou de outros esquemas que os cargos lhes propiciam. E pior que, mesmo descobertos, não sofrem as consequências previstas em lei. Meu amigo Gordurinha filosofava e me dizia que isto se dá porque na política para se eleger, a pessoa está em um patamar, mas, para se manter eleito o patamar é outro. Aí nesta de ter que se manter, principalmente tendo conhecido e experimentado as benesses e as facilidades do poder é que se começa a entrar pelos meandros escabrosos e inconfessáveis da manutenção do status. Para se consolar e não sofrer demais com crise de consciência (se é que esta existe), o corrupto se apoia no “se eu não fizer, outro faz”. Não posso crer que a gente já nasça estruturado e orientado para a corrupção, como se fosse algo herdado geneticamente, ou seja, corruptos natos, pois acredito, piamente, que nós, brasileiros, em sua maioria e essência, somos sérios, honestos e trabalhadores. Pensando no que acontece, entendo que está faltando para nós um controle fiscal, frequente e sistemático, e que a gente não fique à mercê de saber dos atos de corrupção desta minoria indecente, quando algum parente, por ser contrariado, ou um jornalista, liberado, abra o bico. Não podemos ficar dependendo de dedos duros que botam a boca no trombone, mas sim, de um sistema de fiscalização funcional, claro e eficiente, que detecte a corrupção no nascedouro. Precisamos de vigilância como acontece nos países considerados honestos. “Enquanto a gente ficar neste estado de falta de fiscalização e de impunidade” emenda o Gordurinha vamos na onda dos políticos, ou seja – mais vale andar mal acompanhado do que só”.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Planejar a cidade

Na coluna “AN Portal” (29/3), o jornalista Jefferson Saavedra pergunta: “Será que pode?” E escreve: “O Ippuj está analisando se os vereadores não estariam incorrendo em vício de origem ao propor mudanças no Plano Diretor. A referência é em relação às áreas rurais de transição, a serem transformadas em áreas de expansão urbana, modalidade que não estaria prevista no PD de Joinville”.

Considerando que o formato da cidade é um desejo da sociedade que a compõe, fica presente na mente e nas relações de uso de seus habitantes que os espaços que a formam devem correlacionar-se entre si, para que possa se refletir no melhor possível em termos de uso, de acessibilidade, de segurança e de conforto da sua população.

Óbvio que existem vários entendimentos do que é e de como funciona uma cidade. No entanto, pode-se depreender que essas, independentemente de tamanho e origem, são uma síntese real do pensar e do agir, em cada momento, de seus gestores e de seus habitantes.

Vários pensadores entendem que as classes sociais não têm o mesmo tipo de expectativa sobre a forma das cidades, devido às suas visões contraditórias, que advêm dos distintos modos de vida no produzir, no usar e no avaliar o espaço urbano em que vivem.

Entende-se que dentro de uma cidade existam “várias cidades”, pautadas na sua população diversa e desigual econômica e culturalmente, criando impasses e pensamentos difusos. Surge, então, uma dificuldade para se atender a todos os anseios da população. Os planos diretores, por meio da interpretação das audiências públicas e de todas as formas de manifestações tentam uma harmonização.

O Estatuto da Cidade, lei de 10/7/2001, regulamenta o capítulo “Política Urbana” da Constituição e tem como objetivo formalizar técnica e juridicamente o uso e o parcelamento do solo, direcionando as cidades a se estruturarem para atenuar seus problemas, com um planejamento urbano definido, um Plano Diretor bem elaborado e um trabalho gradativo e fiscalizador, que ultrapassem interesses e mandatos eletivos dos gestores municipais.

Joinvilenses despenderam horas para elaborar o Plano Diretor. Em minha opinião, não é legal nossos edis, eleitos que foram para tal, não contentes com o andamento de uma das leis de regulamentação, a Lei de Ordenamento Territorial (LOT), pretenderem ampliar o perímetro urbano, indo ao contrário do que preconiza o nosso Plano Diretor.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Páscoa

Quando entro nos supermercados e vejo a infinidade de ovos de chocolate, de marcas variadas, pendurados como se fossem cachos de uva em parreira, volto, mentalmente, ao meu tempo de infância nos anos 1950/60.

Hoje, vivemos em um mundo totalmente diferente daquele de 50 anos atrás devido aos avanços tecnológicos e as, consequentes, mudanças de hábitos, mas, entendo que a Páscoa ainda resiste ao apelo consumista de outras datas, a não ser pelos chocolates.

Para nós, crianças, Páscoa era uma festividade gostosa. E o que a gente tinha? Nossa mãe pegava ovos de galinhas, das nossas, no galinheiro no fundo do quintal, e pintava-os com tinta guache, dando a eles um colorido especial. Dentro, umas balinhas miudinhas e coloridas ou amendoim com açúcar que ela mandava a gente comprar no Jorge Mayerle, grande comércio atacadista que ficava na esquina da avenida Getúlio Vargas com a rua Anita Garibaldi.

No domingo de Páscoa, bem cedo, saíamos, eu e meus irmãos, pelo jardim da casa procurando nossos ovinhos e colocando-os numa cestinha de vime. Era uma festa. A maioria das famílias de Joinville fazia este ritual com suas crianças. De quebra, nossa mãe colocava uns pacotinhos de bala de goma e quando o ano tinha sido bom a gente ganhava um bombom da Neugebauer e, se desse sorte, bombons de licor da Buschle, fabricados em São Bento do Sul.

Na minha memória de sessentão ainda pulsam esses acontecimentos e lembranças. Sei que, em cada época, pratica-se a liturgia mais adequada para reviver o sofrimento, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Mas sobrestimo, com riqueza de detalhes, os momentos vividos com meus irmãos e vizinhos, naqueles que eram outros tempos. Ritos que marcaram nossas emoções e trazem, ainda hoje, as melhores lembranças.

Nos anos 1980, repeti estes rituais com meus filhos e tenho reforçado as lembranças maravilhosas da alegria deles ao descobrir cada ovinho de galinha recheado com balas e, também já nesta época, ovos e coelhinhos de chocolate. Coisa boa era esconder, espalhar pelo jardim as guloseimas para que eles procurassem e sentissem as mesmas emoções que senti quando criança. Preservar a tradição faz a gente recordar os momentos vividos e, fatalmente, nossos filhos as recordarão e as repetirão com os seus.

Feliz Páscoa a todos.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Coragem

Existem coisas que o prefeito não tem culpa. Mas como fica quieto e não cobra de quem tem que assumir, paga o pato. O caso da ponte em frente à Câmara de Vereadores é uma delas.

Todos sabem que a ponte teve problema no cálculo da estrutura. Por isto teve que ser redimensionada. O nosso alcaide não poderia pagar o pato por isto, mas como não se manifesta e nem determina quem errou que assuma o erro, paga!

Agora, a polêmica da rua das Palmeiras. Não sei se vai ficar melhor ou pior. Tenho até dúvidas se a maior expressão joinvilense em artes plásticas tem razão em se chatear porque não o consultaram ao modificar o visual da rua. Até polemizo comigo mesmo se ele deveria ter feito aquele projeto, pois, pelo que sei, quem tem atribuição legal para projetar este tipo de obra é arquiteto. Agora, ter o maior signo da cidade projetado por um artista plástico conhecido mundialmente, ninguém pode negar que foi uma grande sacada de marketing e de valorização do espaço. Bom, mas aí é para quem tem visão de futuro, e quem o contratou, naquela época, de certeza tinha.

O que me irrita é que foi determinado fazer um projeto novo e, deduzo, pelo prefeito. Portanto, devem ter havido estudos, debates e horas despendidas, como se faz na definição de qualquer bom projeto. Se assim o foi, por que não dizer: “Queríamos repaginar a rua das Palmeiras. Deixá-la moderna, baseada em definições claras. Por isto fizemos um novo projeto.”

Nada. Respostas evasivas, dada pelo terceiro escalão e que deixam a gente na duvida (li no “AN”): “A rua das Palmeiras acabou se transformando num local escuro, utilizado por usuários de drogas, que acaba sendo evitado pelos pedestres pela própria falta de segurança”. “É importante destacar que não se apagará o passado. Estamos trabalhando em cima do que já existe, com a manutenção dos jardins, projetados pelo Juarez Machado”. Não é o que se vê pelas fotos e explicações de como vai ficar.

Parece que falta coragem de dizer: “Vamos fazer porque entendemos necessário!”

Até porque se se quer matar a pulga não precisa matar o cachorro. Usa-se o veneno certo! Se os problemas eram as lixeiras, bancos, iluminação e drogados, a solução seria mais simples, mais barata e sem polêmica. Bem, a não ser que esta seja necessária e proposital!

terça-feira, 6 de março de 2012

Para-choque

Outro dia, conversava com o Gordurinha, meu brother, sobre frases de para-choques de caminhão. Lembrávamos quando levavam-se quatro horas para ir de Joinville até a nossa praia, Itajuba, nos ônibus da Rápido Sul Brasileiro, que passava pelo Itinga e por Araquari, em estrada com pavimentação de saibro em alguns lugares e barro em outros. Quando chovia, a gente ficava esperando na ponte da estrada do inferninho até o rio baixar e muitas vezes tinha que sair para empurrar o “busão” pelos atoleiros da estrada.

Em Itajuba, na estrada estadual que passava e ainda passa, mas hoje é asfaltada, por dentro dela, a gente ficava lendo as frases nos para-choques dos caminhões. Naqueles tempos, anos 1950 e 60, não eram esses possantes de hoje. Eram os Chevrolets e os Mercedes bicudos, os Dodges e os famosos e robustos Fenemês (Alfa-Romeo).

Imagino que ser caminhoneiro, naqueles tempos, era uma aventura pelas estradas brasileira, visto estas não terem nada a ver com as atuais, apesar de que muitas hoje têm mais buraco que asfalto.

O bacana é que, invariavelmente, os para-choques dos caminhões eram verdadeiros painéis que exibiam frases, geralmente bem-humoradas e que representavam, além da filosofia de raiz nascida da ideia popular, a mais pura expressão de uma das nossas características, a de brincar com a própria desgraça.

As frases retratavam críticas: “Quem bate, esquece, mas quem apanha, nunca!”. Protesto: “Não faça na vida pública aquilo que você faz na privada”. Sentimentos: “Se disserem que te esqueci, reze, porque morri”. Religiosidade: “Dirigido por mim, guiado por Deus”. Mas, acima de tudo, de humor: “Se ferradura desse sorte, burro não puxava carroça”. “É mais fácil uma mulher aceitar envelhecer do que um político querer sair de cena”.

Falando em político, recordamos de uma que fizeram contra o presidente Collor, que adorava subir e descer a rampa do Planalto com pompas e circunstâncias: “Sobe rampa, desce rampa. Eta governo rampeiro”.

Daí o Gordurinha, que perde o amigo, mas não perde a piada, disse, se referindo a um governo específico: “Parece jogador de pôquer, não arrisca, e por não arriscar adora fazer uma fula”. E emendou: “Está aí mais uma para os para-choques: este governo só faz fula. Eta governo fuleiro!”.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Dilson Bruske

“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas.” (Cora Coralina)

Não sei se quando a pessoa está ali deitada, por ter acabado de passar para outro plano, vê alguma coisa. No entanto, a gente que está se despedindo vê a quantidade de pessoas que ali estão. Sempre fico matutando sobre isto quando participo de um enterro e vejo pouca gente. Da a sensação de que a pessoa não fez o caminho certo na sua existência. Pela quantidade de pessoas que estiveram no passamento do Bruske, ele fez o caminho certo. Isto se confirma pelo número de amigos presentes e consternados por ele nos deixar assim de repente. Conhecia o Bruske desde os anos 1960, quando ele e o Xande, meu irmão, foram para Curitiba fazer cursinho pré-vestibular. O Xande fez eletrônica em Curitiba, e o Bruske foi para Piracicaba fazer agronomia na USP, a melhor escola do Brasil. Em 1971, nos encontramos em Piracicaba, eu chegando para fazer engenharia e ele, formado, voltando para Joinville. Na volta, mostrou-se um excelente articulador político e enveredou pelo serviço público, sendo presidente da Fundação 25 de Julho e, anos depois, secretário de Planejamento da nossa cidade.

Tive o prazer de conviver com ele na sua outra paixão, a de ser professor. Ajudamos a formar vários engenheiros civis, na Udesc. Tive, também, o desconforto de assinar o ato de sua aposentadoria. Antes lhe perguntei se tinha certeza de que queria parar de lecionar e ele foi categórico, precisava se dedicar à sua empresa. Imagino o grande vazio que deve estar existindo nos corações dos seus funcionários, desde os mais simples aos mais graduados. Quem conviveu com este grande joinvilense, que merece as maiores honrarias que a cidade pode lhe oferecer por tudo que fez por ela, jamais se esquecerá de seu bondoso coração, da sua inteligência, da sua irreverência e do seu poder de animar o ambiente em que se encontrava.

“Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós.” (Charles Chaplin)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Brilhantina

Outro dia, acompanhava um debate em um blog joinvilense sobre a encrenca do PM com o estudante da USP. Fiquei lendo o post do jovem, com pinta de esquerdista, e, depois, o comentário de um senhor supostamente de direita. Naquele momento, me veio à lembrança um ditado do filósofo do Bucarein, Chico do Ernesto, quando se referia aos Zorros da esquerda: “Esse pessoal que se diz de esquerda só defende os fracos e oprimidos até conhecer o gosto da brilhantina” (Brilhantina – pomada utilizada para modelar o cabelo semelhante, hoje, ao gel fixador. Tinha aspecto gorduroso e dava um visual “engomado” ou de a “vaca lambeu”). Nunca entendi direito a expressão “sentir o gosto da brilhantina”.

“Pô, mestre, me reprovastes em materiais de construção.” “Ao invés de entrares de cabeça no cimento, brita e areia, ficas lendo Stalin, endeusando Fidel Castro e batendo no peito: sou de esquerda! Pois agora, marreco, vais virar concreto mais um semestre”, disse eu.

Assim foi o diálogo com o ex-aluno do curso de engenharia civil, em 1983, Henrique, “o salvador”, que se dizia de esquerda, socialista e stalinista convicto. Tudo repartido. Todos com os mesmos direitos, inclusive o de fazer greve. Nós, engenheiros e professores, por ele, éramos tachados de partidários da Tradição, Família e Propriedade (TFP), símbolo máximo da direita.

Anos após, estávamos em greve na Udesc e eis que estaciona um carrão na frente do departamento e sai de dentro um senhor, bem vestido, pasta de couro, sapato brilhoso.

“E aí, mestre, como está o senhor?”

“Fala, Henrique. Quanto tempo. Carrão, hein?”

“Pois é. Omega australiano, banco de couro. Virei empresário da construção em Camboriú. E então, de greve por aumento salarial? Vocês professores nunca estão contentes. Coitada da meninada que paga o pato se atrasando no curso.”

“Pô, Henrique. Vivias agitando e agora nos critica? Onde ficou o socialista?”

“Pois é, mestre. Perdi muito tempo com esta história de esquerda”.

Naquele momento, a voz do filósofo, já há tempos falecido, me soprou: “Entendeste agora o que eu dizia quando falava no gosto da brilhantina?”. Quem dorme em lençol de seda, usa camisa de grife, terno de linho egípcio, perfume francês, vai ficar defendendo os pobres e oprimidos? Esquece. Sentiu “o gosto da brilhantina”, quer mais é que o povo se exploda!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Memórias

Quando menino, e lá se vai um bom tempo, no Bucarein não se viam muitos carros, mas ainda me lembro de alguns deles: DKW, Aero e Rural Willys, Simca Chambord e Morris Oxford, que o meu tio Niralci Sant’Anna tinha um, preto.

Em Joinville, não existiam shoppings. Somente lojas de rua. Os cinemas eram imensos (Colon e Palácio) e viviam cheios. A gente ouvia rádio, escutava LPs (long plays) rodados nas vitrolas e, acredite se puder, almoçávamos e jantávamos sem ter uma tela de computador ou TV, se intrometendo em nossas conversas. A TV apareceu em minha vida depois de 1960. Meu pai comprou uma Telespark. As produções engatinhavam, e a TV, de válvula, vivia na Oficina Eletrotécnica Rosa, dos primeiros que as consertavam e que ficava na rua Plácido Olímpio, quase esquina com a rua São Paulo.

Nós, que vivemos a infância nos anos 1950 e 1960, tínhamos, além da rua e dos livros, como opção de lazer e cultura, a leitura de revistas em quadrinhos, que chamávamos de gibis, e as matinês (filmes) de domingo à tarde em um dos dois cinemas da cidade.

Mas eu queria me focar nas revistas. Havia para todos os gostos e dos mais variados gêneros. Cavaleiro Negro, Zorro e Tonto (com seus cavalos Silver e Escoteiro), Randy Scott, Tarzan e Jane, Mandrake, Fantasma (o lobo Capeto e o cavalo Herói), Pato Donald, Mickey, Zé Carioca e Tio Patinhas.

Tinha três, além destas, que para mim eram especiais e que eram compradas pela minha mãe todos os meses. Diversões Escolares, Tico-tico e Os Sobrinhos do Capitão.

A primeira trazia a história de um ET que me fazia acreditar, já naquela época, em vida além do nosso planeta, com as histórias denominadas de “Um Saturnino Descobre a Terra”.

Na segunda, eu me deliciava com o trio mais famosos dos quadrinhos brasileiros: Reco-reco, Bolão e Azeitona.

Na terceira, os Sobrinhos do Capitão, Hans e Fritz, que eram duas “pestes”, viviam fazendo sacanagem, tendo como alvos principais a Mama Chucrutz, o capitão e o coronel. Adoravam roubar as tortas preparadas pela mama, que as colocava para esfriar na janela e faziam a culpa recair no guloso Capitão, que era agraciado pela mama com o rolo de macarrão.

Saturnino, Reco-reco, Bolão, Azeitona, Hans e Fritz fazem parte de minhas memórias de infância. Belas e agradáveis memórias.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Ônibus

Em 28/12/2011, a coluna “AN Portal”, de “A Notícia”, dizia: “O prefeito Carlito Merss (PT) mudou as regras do jogo que ele mesmo havia definido ao incluir a inflação de dezembro mais compensações (?) para chegar ao valor de R$ 2,75 na passagem de ônibus”. Em nota, as concessionárias afirmam que o reajuste abaixo do esperado impacta na rapidez da renovação da frota. Em proposta encaminhada à Prefeitura, pediram 14,2% de reajuste, o que elevaria o preço para R$ 2,91, abrangendo o custo do quilômetro rodado, quilometragem percorrida, a média de passageiros pagantes e o óleo diesel (itens inerentes à planilha de custo).

Lê-se no jornal que, a partir de 5 de janeiro de 2012, os usuários, em Joinville, vão pagar R$ 0,20 a mais para andar de ônibus e, segundo o chefe de gabinete da Prefeitura: “O reajuste foi um meio-termo entre o que menos impactava no bolso dos usuários e o que mais atendia à reivindicação das empresas”. Há certas afirmativas antagônicas que não entendo, por mais que eu me esforce.

Acredito que o administrador, ao contrário do ideólogo, tem a obrigação de mostrar a diferença clara entre realidade e convicção, fixando-se, a meu ver, na primeira. Todos sabem que o aumento da passagem de ônibus deve ser técnico e não político. Se bem me lembro, há dois anos, quando da mesma polêmica, a Prefeitura chegou a divulgar a planilha de custo, método utilizado em qualquer cidade estruturada e que sempre foi, inclusive em Joinville, donde se obtém o custo real da passagem.

Se nos focarmos na fala do chefe de gabinete, na história do “meio-termo”, e se as empresas têm razão, só se está empurrando o problema com a barriga, para resolver depois das eleições, o que vem de encontro à sua própria fala na reportagem: “O desgaste político foi calculado”. Parece-me que está se escondendo algo e entendo que nunca se deve esconder da população que a única solução adequada para o interesse geral dos cidadãos é aquela pautada na realidade.

Trata-se de uma convicção pela qual vale a pena lutar agora, pois, mais dia ou menos dia, terá que ser enfrentada sem se ter a preocupação com o “desgaste político”. A desgraça é que olhando para as decisões, numa perspectiva entre realidade e ilusão, parece que continuaremos, sempre, mais perto da última.