quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tempo antigo

María Durán, no livro “La Ciudad Compartida”, valoriza os cinco sentidos fundamentais: audição, olfato, paladar, tato e visão e o que eles nos propiciam no nosso relacionamento com o ambiente em que vivemos, fazendo o nosso corpo perceber o que está ao nosso redor, nos ajudando a sobreviver, se relacionar e guardar na memória estes relacionamentos.

Diz ela: “O paradigma histórico da cidade dos sentidos é a cidade islâmica, onde as correntes de ar, os fluxos de água, a cor do território e o aroma das plantas formam parte do desenho urbano”. Como tudo isto se traduz em qualidade de vida, Durán se questiona: “Por que não resgatá-los para as cidades contemporâneas?”

Ao ler este livro, levei os meus sentidos e os meus paradigmas históricos à minha juventude. Joinville em saudosismo puro, ao lembrar meus momentos de juventude nos anos 1970 e 1980.

Busquei na memória:

O cheiro do “chineque” da Padaria Brunkow; o gosto da cuca de banana da dona Olga Schroeder; o cheiro da sardinha frita feita pela vó Maria.

O prazer de colher um abacate na casa do tio Jango ou ingás-macaco na praça da biblioteca.

O sabor de um bate-papo, no Braço de Ouro, com o Galeno, Pinga, Juarez, Didi e muitos outros contemporâneos; da empada do Jerke, que sobrevive ao tempo; da vaca preta e da salada de fruta da Polar, depois de uma matinée no Cine Colon; de um cuba no Dietrich, até os garçons colocarem as cadeiras em cima da mesa para mostrar que iam fechar.

Do som dos Beatmakers, do coral Viva a Gente, das fanfarras no Sete de Setembro, das tardes no Cruzeiro, das “músicas caipiras” nos bailes de São João, do Ginástico, do Carnaval na Liga.

Da limpidez das águas do Cachoeira, de pescar corvinotas e siris no cais do Moinho.

De um América x Caxias;

De cortar o cabelo no Zé Ramos, comprar uma calça de tergal no Daniel, “o alfaiate das multidões”, um livro na Livraria Cosmos, uma Cibalena na Farmácia Iguaçu, uma camisa na Loja Pieper;

De viajar entre as orquídeas das Festas das Flores, de admirar a arquitetura das casas.

De comprar bombinhas no Tilp, carne no açougue dos Zimath, café Moka na Stein;

De jogar bilhar no Bar Caneta, de ver um jogo de basquete: Bom Jesus x 13° BI, no Abel Schulz lotado.

2 mil caracteres é pouco para minhas lembranças. E para as suas?