terça-feira, 2 de setembro de 2014

Meu caminho

Em Julho fiz o Caminho. Eu e mais dois amigos partimos de Saint-Jean-Pied-de-Port, cidade francesa aos pés dos Pirenéus, para Santiago de Compostela, noroeste da Espanha. 815 Km andando. Em Santiago repousam os restos mortais de Tiago Maior, um dos doze apóstolos de Jesus, guardados numa arca de prata no porão da Catedral dedicada ao Santo. Do surgimento do templo à formação de uma importante rota de peregrinação foi um passo. Peregrinos acorrem de todo o mundo. Uns vêm por Portugal, pelo chamado Caminho Português; outros vêm do restante da Europa formando diversos trajetos, sendo o mais célebre o Caminho Francês, o que fizemos. No dia 7 de julho, estávamos em Nájera, município da região que dizem ter o melhor vinho espanhol, a de La Rioja. Todos os dias, após 9 horas de caminhada, procurávamos um albergue para dormir. Como nos municipais não têm televisão, resolvemos ficar em um privado. Afinal, tinha jogo do Brasil. Na hora marcada, os interessados pelo jogo estavam reunidos no refeitório do albergue. Três italianos. Dois espanhóis. Três franceses. Cinco alemães e nos, três brasileiros. Conversa vai e vem, um dos Italianos me pergunta como eu acho que vai ser o resultado. Respondo que não sei, mas espero que o Brasil jogue bem apesar de reconhecer que o time alemão é muito bom. Um dos espanhóis comenta que o Brasil perderá, pois o time é dirigido por um técnico empafioso e ultrapassado e completou: “chegou até aqui por sorte!”. “Tá bom, vamos ver!”, pensei. Começou o jogo e o alemão sentado ao meu lado, entre um gole de “San Miguel”, cerveja espanhola, e outro, batia na mesa e vibrava. Eu sentindo o sufoco, fiquei pasmo, olhando sem acreditar no que estava acontecendo. Só dava os “tedescos”, diziam os italianos. “Zupa” gritou o alemão! Um a zero! Zupa! Zupa! Zupa! Zupa! Nestas alturas eu já entendia “Chupa!”. De imediato lembrei-me do Gordurinha ditando as regras das nossas peladas no campinho de areia, do bairro Bucarein, na nossa Joinville: “cinco vira, dez acaba!”. Acabou o primeiro tempo, dei uma enrolada, me levantei e disse: “Je me vais dormir”. “mañana tengo el camino” . “Gute nacht!” Todos riram. Subi as escadas e enquanto escovava os dentes: “Zupa”, escutei o alemão gritar. Seis! Coloquei o protetor auricular, como se deve fazer em um albergue para não escutar roncos, gemidos e afins, e dormi. Sai antes de o dia amanhecer e só fui saber o resultado três dias depois, quando passamos por outros alemães e eles não se contiveram ao verem a bandeira do Brasil na mochila do meu parceiro de viagem e gritaram: “sieben und kleine war” (sete e foi pouco!”). Pela gargalhada deu pra imaginar o que diziam. Apertei o passo e sumi!