quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Vergonha na cara

O Natal está chegando. Não sou daqueles empolgados com a época, principalmente com a história de dar presentes. Gosto da religiosidade. Claro que a gente, quando tem filhos pequenos, curte mais a envoltória e a mística cristã e se envolve e alimenta os sonhos de que aquela época do ano tudo parece ser bom. Afinal, deveria ser, pois representa o nascimento de Jesus, e em todo nascimento está a revitalização, o iniciar. Isto, para nós humanos, é importante. O que me confunde é a relação entre o nascimento de Cristo e o Papai Noel. Uma mistura, como se diz hoje, nada a ver. Mas é o que há e, infelizmente, a maioria se fixa na parte pagã da época. De muitas passagens nestes 63 anos de vida, uma no período natalino me marcou. A de um professor que trabalhava comigo e que no final do ano mandou um e-mail pedindo perdão pelos atos que eventualmente tivesse feito e que me ofenderam. Nunca me convenci com a história de Jesus perdoar um dos ladrões na hora da crucificação. Mas tem gente que acredita e fica o ano todo enchendo o saco dos outros e, aproveitando a época, vem com esta história de perdão. O cara vivia se vangloriando que tinha conduta ilibada, mas, a meu ver, não as praticava no dia a dia. Até pode ser que tivesse razoáveis sentimentos morais, mas não entendia que não basta somente tê-los. Que o relevante é demonstrá-los em cada ato e em cada decisão. Na minha visão ele não tinha vergonha na cara. Nós, normalmente, ficamos corados quando sentimos vergonha por algo desonroso que fizemos, pois, o ato de corar revela nossa vergonha. Ele não corava. Quem tem vergonha na cara olha o outro direto nos olhos e procura fazer a coisa certa. Não precisa ficar se desculpando, se escondendo ou ficar olhando para baixo. Norteia seus atos pelos códigos do respeito, ou seja, respeitar para ser respeitado. Quem tem vergonha na cara anda ereto. O marmelo do meu colega, ao contrário, andava encurvado, olhos abaixados e apertava a mão da gente como se não tivesse forças. A minha resposta para ele foi que eu até podia desculpá-lo, mas perdão, já que estávamos na época natalina, que ele pedisse a quem tinha o poder de perdoar. Pelo sim, pelo não, um feliz e religioso Natal a todos.