terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Brilhantina

Outro dia, acompanhava um debate em um blog joinvilense sobre a encrenca do PM com o estudante da USP. Fiquei lendo o post do jovem, com pinta de esquerdista, e, depois, o comentário de um senhor supostamente de direita. Naquele momento, me veio à lembrança um ditado do filósofo do Bucarein, Chico do Ernesto, quando se referia aos Zorros da esquerda: “Esse pessoal que se diz de esquerda só defende os fracos e oprimidos até conhecer o gosto da brilhantina” (Brilhantina – pomada utilizada para modelar o cabelo semelhante, hoje, ao gel fixador. Tinha aspecto gorduroso e dava um visual “engomado” ou de a “vaca lambeu”). Nunca entendi direito a expressão “sentir o gosto da brilhantina”.

“Pô, mestre, me reprovastes em materiais de construção.” “Ao invés de entrares de cabeça no cimento, brita e areia, ficas lendo Stalin, endeusando Fidel Castro e batendo no peito: sou de esquerda! Pois agora, marreco, vais virar concreto mais um semestre”, disse eu.

Assim foi o diálogo com o ex-aluno do curso de engenharia civil, em 1983, Henrique, “o salvador”, que se dizia de esquerda, socialista e stalinista convicto. Tudo repartido. Todos com os mesmos direitos, inclusive o de fazer greve. Nós, engenheiros e professores, por ele, éramos tachados de partidários da Tradição, Família e Propriedade (TFP), símbolo máximo da direita.

Anos após, estávamos em greve na Udesc e eis que estaciona um carrão na frente do departamento e sai de dentro um senhor, bem vestido, pasta de couro, sapato brilhoso.

“E aí, mestre, como está o senhor?”

“Fala, Henrique. Quanto tempo. Carrão, hein?”

“Pois é. Omega australiano, banco de couro. Virei empresário da construção em Camboriú. E então, de greve por aumento salarial? Vocês professores nunca estão contentes. Coitada da meninada que paga o pato se atrasando no curso.”

“Pô, Henrique. Vivias agitando e agora nos critica? Onde ficou o socialista?”

“Pois é, mestre. Perdi muito tempo com esta história de esquerda”.

Naquele momento, a voz do filósofo, já há tempos falecido, me soprou: “Entendeste agora o que eu dizia quando falava no gosto da brilhantina?”. Quem dorme em lençol de seda, usa camisa de grife, terno de linho egípcio, perfume francês, vai ficar defendendo os pobres e oprimidos? Esquece. Sentiu “o gosto da brilhantina”, quer mais é que o povo se exploda!