terça-feira, 26 de junho de 2012

Melhor idade?

Conversava ontem com meu amigo Pirulito e o parabenizava por completar 60 anos. Ele, crítico, como sempre, comentou: “Obrigado, meu irmão. Classe de 1952 e, às vezes, com saudades do 13° BC, mas não do coturno, nem de tirar tiririca no pátio do batalhão. Como dizia minha mãe, já nasci incomodando, pois vim ao mundo ao meio-dia. Contava ela que meu pai teve que ir de bicicleta do Bucarein até a Farmácia Iguaçu, na rua 15 de Novembro, chamar o tio Clarindo pra levá-la até a Maternidade Darcy Vargas. Joinville de outros tempos. Mas tu lembras que quando a gente tinha 20 anos achava que quem tinha 60 era velho? Hoje me acho um guri e tenho comigo o consolo de que envelhecer é o único meio de viver muito tempo”. “Pois é”, disse eu, “li outro dia que vivemos encerrando ciclos, capítulos, fechando portas, mas não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já passamos. No entanto, o que me deixa cabreiro é esta história de melhor idade. Pra mim, estamos entrando na idade da pílula e do condor. Com dor aqui, dor ali e dá-lhe pílula”. “Com esta história de melhor idade, o que sobra é saber quando uma etapa chega ao final e começa a outra. Insistir em permanecer cinquentão mais do que o tempo necessário é perder a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver, e assim vai ser se chegarmos aos 70”, completa ele. “Pô, meu amigo, sempre é bom te ver e já que a gente se vê pouco”, diz o Pirulito, “como sei que és chegado num docinho, vamos ali à Confeitaria XV tomar um café com torta alemã e colocar o papo em dia?” “Se liga Pirulito, a tia não deixa!” “Tia? Que tia, pô?” “Como dizia o Xereda, a Tiabete. Chegou com tudo! Herança da vó Ana”. “Concordo, amigo, esta tal de melhor idade é dose. A gente até pensa que é jovem, porém, haja esforço. Só mesmo movido a bagas. No mínimo, para pressão alta, diabetes e prostatite e, por falar nela meu amigo, outro dia senti muita saudade do chuá”, disse ele. “Chuá? Não percebi?” “Não? Lembras quando ias com o poderoso fazer xixi? Miravas o jato no meio do vaso e chuá. Com esta tal de prostatite, que aflige, segundo as estatísticas, cada quatro de cinco sessentões, a gente mira, se esforça e só escuta ping, ping. Não é de sentir saudades?”

terça-feira, 12 de junho de 2012

Malagueta

Uma das plantas, entre muitas outras que a gente cultivava em casa e que eram xodós do Chico do Ernesto, nosso pai, eram as pimentas. Ele cultivava cumari, dedo-de-moça e, principalmente, a malagueta. Conservava-as no vinagre, no azeite ou no álcool e dizia que cada tipo tinha um sabor diferente. Sempre esmagava três malaguetas verdes, no fundo do seu prato, antes de colocar a comida. Dos que vi comer mais pimenta que ele, só o Chico Apati, um húngaro que morava na avenida Média, perto do mercado público, que mastigava sete malaguetas vermelhas e depois sorvia um “mercedinho” (copo com 150 ml) de Jabiru, a cachaça preferida da época. O Chico sempre nos dizia: “O ardido da pimenta provém de uma substância denominada capsaicina e seu uso melhora o sabor, o aroma e a cor dos alimentos, além de ter um grande valor vitamínico (A e C)”. Saindo de casa num sábado à tarde, o Gordura pegou uma malagueta vermelhinha e tentava passar na minha boca. Corre daqui, se defende dali, se aproxima o Edmilson, moleque vizinho nosso, e pergunta: “Gordura, vai namorar hoje?”. “Vou. Vem cá que quero te mostrar um negócio”. E o Ed veio. Pimba, malagueta na boca dele. Foi uma correria só. O Ed berrando: “Pai”, e correndo pra dentro de casa; e nós dois voando até o bar do Chico. Escondi-me embaixo do balcão e o Gordura sumiu. Só escutei o Nezinho, pai do Ed dizer: “Seu Chico, seus filhos estão aí?” “Não, aqui não apareceram, obviamente nos encobrindo. Por quê? Aprontaram alguma?” “Os malvados colocaram pimenta na boca do Ed, que está lá em casa se esgoelando!” “Esses moleques não têm jeito. Deixa comigo: se eles aparecerem aqui, pego eles”. Assim que o Nezinho foi-se embora, o Chico nos levou grudados pelas orelhas lá pros fundos do bar e nos passou o maior sabão. De castigo, tivemos que limpar e deixar o bar tinindo. “Pô, Gordura. Sacanagem, me ferraste”. “Relaxa. Isto é para tu aprenderes que pimenta na boca dos outros não é refresco!” Outro dia, acompanhando os dizeres e chororôs dos políticos da paróquia joinvilense, lembrei-me deste fato da minha infância. Correlacionei. Quando o político profissional não tem a responsabilidade da decisão, colocar pimenta na boca de quem tem é refresco. Mas quando a responsabilidade de decidir é dele, ao sentir o ardor, se esgoela e chora!