sexta-feira, 29 de abril de 2011

Uso do solo

Começa agora a discussão sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo que deve fazer parte do Plano Diretor de Joinville. Como esta é uma lei que irá interferir no dia a dia dos joinvilenses, é normal que os interessados, uns mais e outros menos, fiquem alertas às discussões.

Outro dia, li que um vereador disse que este processo levará a uma guerra, rua a rua, na definição do que poderá ou não ser feito em cada uma delas. Dentro do que se tem estudado, acredito que não se poderá deixar, no último momento, de se discutir rua por rua. Mas no último momento – e não como guerra!

Para iniciar a formulação da lei, tenho a convicção de que o processo deve começar analisando-se e entendendo-se o macro, ou seja, tendo-se a visão da cidade como um todo e pelo olhar de todos. Como queremos viver a nossa cidade no futuro?

Para responder a isto, teremos que definir nossos objetivos, baseados no conhecimento que temos de nossas deficiências e potencialidades e embasados no que os joinvilenses pensam e querem.

Provavelmente, serão sugeridas audiências públicas que não serão prestigiadas pela grande maioria e, por isso, sugiro, como vi em Barcelona, que se faça um questionário sobre os problemas que serão debatidos, para que todos recebam em casa e participem respondendo. Depois de tabuladas as respostas, se terá a direção do que a maioria deseja.

Observar a cidade como um todo pelo olhar da população e, após, traçar o que se deseja para ela, definindo para onde ela deve crescer, as ligações e os modais de mobilidade, de quais equipamentos urbanos necessitamos e o padrão de cada um, onde eles se situarão, onde ficarão as indústrias, o comércio, as residências e se verticalizamos e adensamos ou não.

Ter como primazia acabar com as desigualdades existentes entre os bairros, ou melhor, evitar que os bairros tenham categorias diferentes.

Se entendermos isto como base antes de começarmos a guerrear e retalhar a cidade, escorados no senso comum e não em vaidades e interesses pessoais, poderemos fazer uma ótima Lei de Uso e Ocupação do Solo.

Alguém vai contestar dizendo que isto é o óbvio. Peço desculpas pelo óbvio, mas entendo que as vaidades o escondem e é por meio dele que se pode ver muitas coisas que não enxergamos quando confiamos demais na nossa suposta sabedoria.

O pato

O Gordurinha, no Bucarein da minha infância, adorava sacanear a gurizada e, cada vez que gozava um, dizia: “Te liga, oh Pato – Quãck!”

Certa vez, estava azucrinando o Gê da Mariazinha, e este, para se livrar, disse: “Oh, Gordurinha, vai ver se estou lá na esquina!” O Gordurinha retrucou: “Vou. Preciso levar o cabresto?” “Para quê?”, respondeu o Gê, que era meio lerdo. “Pra te trazer, se estiveres lá! Quãck!”

Outra vez, deu uma pimenta-pitanga pro Ed do Nezinho, e este mordeu com tudo. Foi um berreiro só. E ele: “Quãck!”

O pato é um bicho estranho. É uma ave que sabe andar, voar e nadar, mas não é referencial em nenhuma das três coisas. O andar é desajeitado, nada devagar e mal voa.

No Bucarein, pato era sinônimo de trouxa. De tolo.

Outro dia, no mercado, encontrei o Gordurinha e ele me perguntou: “Tens lido os jornais?” “Claro”, respondi. Então ele me disse: “Lendo as notícias veiculadas sobre a nossa Joinville nos últimos dias, tenho a impressão de que, mesmo tendo a certeza de que não nasci para pato, estou sendo tratado pelos nossos políticos como se fosse um”.

Veja só, frases publicadas como:

Prefeito: “Somos um governo jovem, que busca o melhor para a população”. Quãck!

Vereadora: “Fomos enganados e não podemos aceitar esta questão do IPTU”. Quãck!

No livro sobre a história da Câmara de Vereadores de Joinville diz: “Depois de 160 anos, um afrodescendente ocupa o mais alto cargo do Legislativo”. Pois não é que ele renuncia ao cargo para assumir uma estatal de quarto escalão. Quãck!

Agora, como diz a galera: “Vamos combinar”. A foto do novo presidente da Câmara com os dedos cheios de chaves de carros penduradas e com um sorriso, misto de satisfação e ironia, afirmando: “Sem as restrições de horários para o uso do carro, o vereador poderá cumprir melhor as obrigações do seu mandato” me fez acreditar que, realmente, sou um pato. Quãck!

Adotei! Alguém me diz bom dia, boa noite, como vai? Eu, em protesto, estou respondendo: “Quãck! Quãck! Quãck!”

Em tempo: será que alguém vai devolver o dinheiro da reimpressão dos nove mil novos carnês de IPTU que substituíram os que foram cancelados? Quãck!