segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Como sair de cena?

Nos anos 1960, entre os nove e os 14 anos de idade, saía do Bucarein todos os dias para ir ao Bonja, onde fiz meu curso ginasial. Sempre ia pela rua do Príncipe e, ao contemplar as obras da Catedral, pensava: um dia serei engenheiro civil. Formei-me em 1975 na cidade de Piracicaba e nunca me imaginei em outra profissão. De repente, em 1981, em uma festa patrocinada pelo amigo de infância e também engenheiro civil José Carlos Vieira, convidado que fora para ser paraninfo (na minha opinião, a maior honraria que um professor pode receber de seus alunos) de uma turma de formandos da Faculdade de Engenharia de Joinville (FEJ), hoje CCT-Udesc, surgiu o convite do diretor, o saudoso professor Renato Colagrande, para eu lecionar no recém-criado curso de engenharia civil. Levei as duas profissões em paralelo até 2004. Daí para frente, passei a ser um engenheiro-professor. Outro dia, ao levar alunos para visitar uma obra na Incorposul, das boas construtoras de Joinville, ouvi de minha ex-aluna Ione: – Mestre, essa tua paixão pela engenharia e por lecionar sempre nos contagiou – o que me deixou extremamente envaidecido. Meu amigo e irmão Theófanes, o pândego, dia destes me perguntou: – Falta quanto tempo para tu te aposentares? – Já podia estar há quatro anos – respondi. – E por que não te aposentas, se como funcionário público continuarás recebendo o mesmo salário? – Meu amigo, não consigo. Trabalhar com a juventude e poder passar um pouco do conhecimento adquirido nos anos de pés sujos de concreto, assim como receber de volta os olhares brilhantes e fixos às explanações, me deixam muito feliz. Mas sei que vai chegar o dia – afirmei. Confesso que esta conversa me deixou encucado, pois tenho pensado muito na hora de parar. Mas confesso que entrar na sala de aula cansado e, dentro de minutos, ao sentir a reação da turma, transformar o cansaço numa viagem maravilhosa de ensinar e aprender, não tem preço. Acho que parar de lecionar vai doer na alma. Todos os semestres, os formandos ganham o mundo e a gente sente um vazio, ficando de coração partido com o partir deles. No entanto, como em toda perda, isso passa, pois logo chegam novos alunos, com novos olhares e sonhos e a vida continua. Neste final de semestre, passei por momentos que já passei outras vezes, mas que ainda me emocionam. Fui convidado para ser paraninfo da turma que se forma agora e, para aumentar a emoção, foi-me oferecida, também, a homenagem pela turma que se forma em julho. Daí o dilema: como sair de cena sem sofrer demais? * Doutor em engenharia civil hans.moraes@gmail.com