sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Minhaville

Aqui nasci, cresci e, se tudo der certo, aqui serei enterrado. Joinville é a terra de meus avós, de meus pais, de meus filhos e de meus amigos. Lugar de se viver, trabalhar e ser feliz. Muitas coisas têm mudado nesta cidade, algumas para melhor e outras para pior, mas ela continua sendo o meu oásis.

Estudei no Rui Barbosa, no Bom Jesus e na Escola Técnica Tupy, no tempo em que era de graça. Época de poucas ruas calçadas e, todas, com paralelepípedo. Ônibus só ia do final da João Colin ao Km 4. Bicicleta era comum, e carro, para quem podia, era Simca, Gordini e DKV. Tinha pelo menos um Morris preto, do tio Niralci Sant’Anna, que era funcionário do BB, sonho de quem queria ser alguém na vida.

Bolacha era “Maria”, da Padaria Born da Getúlio Vargas. Macarrão se comia aos domingos com maionese feita em casa, acompanhado de Gengibirra. Merenda era bolacha mata-fome. Café era Moka, da Stein. No Tilp, se comprava de tudo. Verdura se comprava do seu Oge, que vinha de carroção lá de Pirabeiraba.

Domingo era dia de missa com o padre Érico, na Sagrado Coração de Jesus, e, depois, do programa do Fausto Rocha no Cine Palácio. À tarde, matinê no Cine Colon e salada de frutas com nata na Polar. Chineque era da Brunkow, e empada no Jerke (sobrevivente). Chop era no Sopp da João Colin e cuba, no braço de Ouro. Pontos de encontro dos que faziam faculdade fora de Joinville.

Nos tempos atuais, Joinville passou a ser a Buracoville para os pessimistas e Nossaville para os ufanistas que, a meu ver, não separam as coisas boas das ruins e parece que tudo virou política. A Minhaville é muito maior do que os pessimistas e ufanistas enxergam. É preciso amar o lugar onde se vive e saber que não é pela discussão em jornais entre pessimistas, ufanistas, céticos ou cínicos que resolveremos nossos problemas.

O modo como encontraremos alternativas para os desafios desta época depende das perspectivas presentes, do nosso imaginário e dos recursos intelectuais de que dispomos. Necessário ter, também, dirigentes sonhadores e criativos, que suem a camisa para realizar os anseios da população. O desenvolvimento das cidades é influenciado pela cultura e força de trabalho do seu povo, e isto nós temos de sobra, independentemente de quem esteja encastelado no paço municipal.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

CAPRICHO

Antes de sairmos de casa para ir para a escola nossa mãe nos enfileirava, eu e meus irmãos, para ver se o uniforme escolar estava limpo. Fazia questão de que chegássemos, ao Grupo Escolar Rui Barbosa, luzindo. Era capricho.
Capricho com a roupa dos filhos, com suas casas, deixando-as confortáveis, simpáticas e preparadas para qualquer ocasião era uma tônica joinvilense. Sempre ouvi de minha mãe: não somos ricos, mas nem por isso devemos deixar de ser caprichosos. Naquela época a gente usava calça Brim Coringa, comprada nas Pernambucanas, camisa de chita feita em casa e sapato Passo Doble. Mas existia capricho ao se vestir, não monitorado por grifes, mas sim pela limpeza e por roupas bem passadas. As minhas pela vó Maria, que fazia questão de fazer os vincos nas calças, com seu ferro de passar, aquecido a carvão.
Roupas limpas e passadas, unhas cortadas e limpas, educação ao falar, honestidade nas atitudes, personalidade, respeito e bom humor, são sinônimos de cuidado e atenção, ou seja, de Capricho.
Há 50 anos as ruas de Joinville eram calçadas com paralelepípedos bem assentados, arborizadas, as casas tinham belos jardins, eram pintadas e suas calçadas eram varridas. Dava gosto andar por elas. Capricho dos moradores.
A cidade foi formada por empreendedores que a colocaram no mundo, vitoriosa. Puro capricho.
Adoro flanar pelas suas ruas centrais aos sábados de manhã, pois o movimento das pessoas caminhando (encontrando amigos, distribuindo abraços e tudo bem contigo e com a tua família?) sempre me satisfez.
Sábado passado fiz isto! Andar pela rua XV, coração da cidade, foi frustrante. Cortaram as árvores e deixaram os tocos. A calçada, de pedras portuguesas, totalmente descaracterizada e irregular e com coisas querendo nos fazer crer que são floreiras.
Para encerrar fui dar uma olhada na nova urbanização da JK. Pois não é que amarraram os pontaletes da cerca central com arame aos postes e pior, nem uma árvore escapou. Amarrar a cerca em uma árvore, que teimosa insiste em permanecer no meio do canteiro é demais!
Fazer bem ou mal feito custa a mesma coisa. Aliás, na maioria das vezes fazer mal feito custa mais caro. Lembrando minha mãe: ninguém precisa de muito dinheiro para fazer bem feito. Só precisa capricho!