terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Mentiras

Considero que a semana passada foi consagrada a trazer enganações à tona. Não consigo esquecer a cena da apresentadora americana de TV Oprah Winfrey perguntando se ele tinha tomado substâncias proibidas para melhorar o seu rendimento no ciclismo. “Sim”, foi a resposta. E, pela primeira vez, o mundo ouviu do próprio Lance Armstrong, já cansado de mentir, o reconhecimento de que era uma farsa. Neste momento, a imagem de um dos maiores atletas do ciclismo mundial se desfez instantaneamente. Sete Tours de France e medalha olímpica jogados no lixo. A outra grande enganação foi a história de o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty, conceder passaporte diplomático ao líder de uma igreja evangélica e à mulher dele. A decisão foi publicada no “Diário Oficial” e, segundo o órgão, não é privilégio exclusivo deste pastor. Pelo que se lê nos jornais, a legislação que trata da posse de passaporte diplomático, um decreto de 2006, determina que apenas funcionários públicos em altos cargos ou em missões internacionais podem receber o documento. De um lado, o ciclista antes considerado o melhor e respeitado por ser exemplo de superação admitindo que era uma fraude. De outro, um órgão dito de credibilidade (salvo melhor juízo) burlando a legislação. Revelações como estas me fazem pensar que não tem como escapar: as mentiras estão impregnadas no cotidiano do ser humano. Sempre correlaciono a mentira com um ditado sobre roubo que o falecido Chico do Ernesto, dono de um famoso bar em Joinville, nos contava: “Esta história de que a ocasião faz o ladrão é falácia. A ocasião só faz o roubo. O ladrão já estava feito”, dizia ele. Daí digo: a ocasião só faz a mentira. O mentiroso já está feito, há muito! O ladrão não devolve o troco a mais que o caixa do supermercado lhe deu. Mesmo sabendo que o funcionário terá de pagar pelo erro, fica quieto. E ainda se acha esperto. Se tiver chance, rouba um banco. O mentiroso começa com mentirinhas inocentes que, teoricamente, não trazem consequências. Com o tempo, passa a contar mentiras de grandes dimensões. Descobertas, estas podem levar a um desfecho patético e humilhante, como ocorreu com Armstrong. Por mais idosos que sejamos, e consequentemente nos entendendo mais experientes, somos constantemente surpreendidos com mentiras. Penso, então, naquela história: morro e não vejo tudo! Ou será: vejo tudo e não morro?

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Natal de antanho

“E aí Pirulito, como estão as festas?”, disse o Gordurinha. “Brother, aqui na Itajuba, com esta canícula, só tomando um bom gole, estupidamente gelado. Não sou muito chegado em festas de fim de ano. Acho que tem muita falsidade. O camarada azucrina os outros durante o ano todo e quando chega esta época vira bonzinho. Culpa de Jesus que perdoou o tal do bom ladrão aos 45 do segundo tempo! Aí todo malvado pensa que será perdoado também”, responde o Pirulito. “Pois é”, diz o Gordura, “mas nestas datas a gente volta às origens. Lembra-se dos pais, avós, filhos, vizinhos. Parece-me que à medida que os momentos e os lugares da nossa infância se fixam cada vez menos na nossa memória, com mais profundidade e saudades, os procuramos. Apesar das coisas hoje se pautarem no consumismo, gosto desta época porque ainda consigo ver magia na feição das crianças quando enxergam um gajo vestido de Papai Noel”. “Então, Gordura, às vezes me frustro, por ver que nos dias de hoje, uma festa cristã sobrevive do paganismo, mas tenho que concordar que o comprar e vender tem como lado bom colocar comida na boca de quase todos.” “Não sei brother. Na nossa infância, estes momentos eram diferentes” retruca o Gordura. “Busco o passado e consigo lembrar-me de minha mãe enfeitando árvores naturais, não de plástico, com bolas de vidro coloridas, velas de verdade e uma nevasca de algodão. Ainda consigo ver isto e faço questão, acho que para exumar memórias e recuperar sonhos e afetos que hoje me fazem falta, como se neste processo surgisse uma fonte da juventude, para aplacar estes novos tempos de cabelos grisalhos.” “Pois a mim rejuvenesce o prazer da volta aos sabores e aromas daquele tempo. Transportam-me a uma infância de afetos e saudades. Hoje são outros tempos, mas ainda sinto o cheiro do Peru, criado no quintal, assando no forno de lenha, do gosto da gengibirra (refresco de gengibre) e das bolachas de melado, feitos pela vó Maria”, diz o Pirulito e emenda: “Lembra-te de ganhares brinquedos?” “Capaz”, respondeu o Gordura. “Isto era difícil! Às vezes, uma bola de borracha para os quatro irmãos. Mas uma camisa xadrez de chita e uma calça de tergal azul marinho, a gente sempre ganhava para ir, todo proza, à missa no dia 25 e, claro, usar o ano todo”. “Valeu Gordura, um bom 2013 pra ti”. “Te desejo o mesmo, Pirula!”