terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Natal de antanho

“E aí Pirulito, como estão as festas?”, disse o Gordurinha. “Brother, aqui na Itajuba, com esta canícula, só tomando um bom gole, estupidamente gelado. Não sou muito chegado em festas de fim de ano. Acho que tem muita falsidade. O camarada azucrina os outros durante o ano todo e quando chega esta época vira bonzinho. Culpa de Jesus que perdoou o tal do bom ladrão aos 45 do segundo tempo! Aí todo malvado pensa que será perdoado também”, responde o Pirulito. “Pois é”, diz o Gordura, “mas nestas datas a gente volta às origens. Lembra-se dos pais, avós, filhos, vizinhos. Parece-me que à medida que os momentos e os lugares da nossa infância se fixam cada vez menos na nossa memória, com mais profundidade e saudades, os procuramos. Apesar das coisas hoje se pautarem no consumismo, gosto desta época porque ainda consigo ver magia na feição das crianças quando enxergam um gajo vestido de Papai Noel”. “Então, Gordura, às vezes me frustro, por ver que nos dias de hoje, uma festa cristã sobrevive do paganismo, mas tenho que concordar que o comprar e vender tem como lado bom colocar comida na boca de quase todos.” “Não sei brother. Na nossa infância, estes momentos eram diferentes” retruca o Gordura. “Busco o passado e consigo lembrar-me de minha mãe enfeitando árvores naturais, não de plástico, com bolas de vidro coloridas, velas de verdade e uma nevasca de algodão. Ainda consigo ver isto e faço questão, acho que para exumar memórias e recuperar sonhos e afetos que hoje me fazem falta, como se neste processo surgisse uma fonte da juventude, para aplacar estes novos tempos de cabelos grisalhos.” “Pois a mim rejuvenesce o prazer da volta aos sabores e aromas daquele tempo. Transportam-me a uma infância de afetos e saudades. Hoje são outros tempos, mas ainda sinto o cheiro do Peru, criado no quintal, assando no forno de lenha, do gosto da gengibirra (refresco de gengibre) e das bolachas de melado, feitos pela vó Maria”, diz o Pirulito e emenda: “Lembra-te de ganhares brinquedos?” “Capaz”, respondeu o Gordura. “Isto era difícil! Às vezes, uma bola de borracha para os quatro irmãos. Mas uma camisa xadrez de chita e uma calça de tergal azul marinho, a gente sempre ganhava para ir, todo proza, à missa no dia 25 e, claro, usar o ano todo”. “Valeu Gordura, um bom 2013 pra ti”. “Te desejo o mesmo, Pirula!”

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