quarta-feira, 3 de novembro de 2010

“Seu” Freitag


A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais do que voar para buscar comida. Para a maioria, o importante não é voar, é comer. Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, era voar. “Antes de tudo o mais, Fernão Capelo Gaivota adora voar.” Este trecho das escritas de Richard Bach parabolizam a história de vida de algumas bem-fadadas pessoas, que passam por este mundo e não se contentam só em comer, mas, sim, em voar cada vez mais alto e melhor, dando exemplo e, principalmente, se doando ao bem comum.

Entre março de 1994 e dezembro de 1996, tive o privilégio de conviver e trabalhar com uma dessas pessoas. Conheci, trabalhei e convivi com o prefeito e com a pessoa de Wittich Freitag. Uma das fases inesquecíveis desta minha vida.

Sempre tive comigo que quando convivemos com um ídolo – e com as “ranhetices” do dia a dia –, passamos a perceber seus erros e acertos, e a vermos que “ele” não passa de um ser humano igual a nós e acabamos nos desiludindo.

No entanto, “seu” Freitag era múltiplo, gigantesco e de extraordinária lucidez. Suas orientações sempre me pareceram marcadas para o futuro e seus conceitos sempre traziam a força da sinceridade e da honradez. Mas o que mais me impressionava era que, como todo sábio, ele sabia pedir conselhos na hora da dúvida e acerca dos assuntos que não conhecia e, principalmente, sabia escutar e filtrar as boas das más opiniões.

Além das aulas de gabinete, adorava quando íamos ao recanto do Moppi, em Pirabeiraba, e lá, noite adentro, nas conversas informais, nos ensinava que devíamos nos dedicar com corpo e alma ao serviço público, apesar de sermos “cargos de confiança”, pensando no bem comum de todos e da cidade. Deixava transparecer nas falas que a gente deveria doar-se, enquanto servidor público, e não fazer do serviço uma sinecura, um bico, recebido de favor. Deveríamos absorver a oportunidade de aprender e servir, doando todo o nosso conhecimento e inteligência, com afinco e amor, à nossa gente e à nossa terra.

Este foi o “seu” Freitag que eu conheci, convivi e aprendi a admirar. Há dez anos, ele passou para o oriente eterno, mas será sempre um bom exemplo para mim e, espero, para as pessoas que têm a oportunidade de administrar a nossa amada Joinville.

Mentira


Falar a verdade ou contar mentira reflete comportamento verbal aprendidos e mantidos ao longo da vida. Os pais podem ser sérios, mas o filho pode ser mentiroso. O italiano Gepeto era sério. Pinóquio, mentiroso. A mentira sempre produz consequências tanto para aquele que a diz, quanto para quem a escuta. Assim, se um está sendo beneficiado ao contar uma mentira, o outro está sendo prejudicado. Parece-me que mentir sempre tem como objetivo levar vantagens.

É importante, ainda, considerar que o comportamento de mentir pode iludir os que acreditam, mas poderá trazer no futuro consequências desagradáveis, como no exemplo de um político que mente e assume compromissos que ele mesmo sabe que não será possível realizar. O interessante nas campanhas políticas é que a mentira já começa na imagem dos candidatos.

Venho observando os cartazes de propaganda eleitoral e fico impressionado com a modificação das fisionomias que nos são apresentadas. Candidatos que a gente conhece, assim como suas rugas, ficando lisinhos e rejuvenescidos nas mãos dos designers e no poder e na magia que o tal do fotoshop pode provocar. A transformação é brutal e na maioria das vezes a imagem vendida não tem nada a ver com o real, a ponto de nem serem por nós reconhecidos.

Fico me perguntando por que os candidatos têm a necessidade de parecer muito mais jovens do que são, sem rugas, com cabelos lisinhos e nariz desenhado. É uma pena vivermos em uma sociedade tão iludida, em que as pessoas nem se dão a oportunidade de ver seu próprio rosto com mais idade. Virou regra corrigir as imperfeições. Talvez por isto nos apresentem sempre candidatos com aspecto jovem.

O nosso semblante conta a nossa história de vida e acredito que esta deve ser respeitada. Apesar de termos a tecnologia a nosso favor, entendo que é preciso ter bom senso e não ficar passando a borracha em qualquer imperfeição que a idade nos traz, modificando tanto o rosto, a ponto de ficar sem identidade. Sabemos que a honestidade é a base de qualquer relacionamento humano. Se as pessoas candidatas começam uma campanha mentindo ao apresentarem uma fisionomia modificada, o que não farão com as palavras e no cargo, quando assumirem?