terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desgosto

Encontrei o Gordurinha, outro dia, no Mercado Municipal.

– E daí, tudo beleza?

Ele respondeu: “Tudo. Vim aqui porque me deu vontade de comprar uma corvina pra fazer um escabeche”.

Achei-o meio desgostoso e perguntei o que se passava.

Então, ele me respondeu: “Feliz é o Vicente do Loló, que olha o jornal de cabeça pra baixo e que, por não saber ler, tudo está sempre bem. Vai eleição, vem eleição e as práticas não mudam. Mudam os políticos, mas, desgraçadamente, os maus exemplos continuam. Na maior cara de pau, transformam o pecado em virtude. Nesta época de eleição, me sinto um palhaço e com vontade de ir ao camelódromo comprar daqueles narizinhos vermelhos, que os do contra gostam de usar quando fazem passeatas e xingam os governantes de plantão”.

E continuou: “Nosso Estado é dos melhores; nosso povo ,pretensamente inteligente; e Joinville, diferenciada. Me da náusea ler no ‘A Notícia’: ‘Depois do comício, o carro presidencial será escoltado do Centro da cidade até o local onde estará o helicóptero. A ordem é que o veículo tenha trânsito livre em todos os cruzamentos no caminho. Chefes de segurança da Presidência também estiveram em Joinville na semana passada para planejar o esquema de proteção de Lula’. Se o presidente veio a Criciúma, com o avião presidencial, inaugurar um viaduto da BR-101 Sul (trecho inacabado) e dar uma ordem de serviço para uma obra em construção há mais de sete anos e depois foi a Itajaí inaugurar parte de obra no porto, obra esta que vai ficar pronta somente em janeiro, tudo bem. Nada mais justo que ele venha financiado e transportado com o bem público (avião presidencial), afinal, ele está trabalhando e não em campanha política”.

“Mas não posso concordar que, depois de Itajaí, o prestigiado venha a Joinville para participar de um comício e, ainda por cima, ter todas as honrarias de presidente. Da para entender o quanto custa isto? E nós que pagamos? Comício, até onde a minha inteligência permite entender, não é compromisso presidencial e, por não o ser, não pode ser financiado com o dinheiro do erário e nem o município dar privilégios.” Sábio Gordurinha.

Vou comprar um narizinho de palhaço para mim também.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sete de Setembro

Esta data sempre me reporta ao tempo do curso primário. Tinha orgulho de desfilar com o uniforme do Rui Barbosa pela avenida Getúlio Vargas, levando a bandeira do Brasil. As pessoas civicamente aplaudiam e a gente estufava o peito, pisava firme e ia em frente. Hoje sessentão, o encanto acabou, ainda mais, quando olho para este País afundado num mar de lama e barbaridades “republicanas”. Mensalões, aloprados, dinheiro em cueca, quebra de sigilos em instituições públicas sérias e tudo mais o que se tem visto.

Fico me perguntando sem conseguir respostas: o que mais será necessário acontecer para que um dia tenhamos líderes reconhecidamente honestos, trabalhadores e respeitáveis?

A decadência dos parâmetros éticos, peculiar nesta terra brasileira, e as relações de favor nos mostram um povo que ainda vive em um ínfimo processo de tomada de consciência, que nem ao menos serve para elevar seu nível de indignação. O que precisará acontecer para acabarmos com a despolitização e a descaracterização da prática política vigente?

Tenho assistido, persistente, ao programa eleitoral e vejo que poucos são aqueles que mostram o que verdadeiramente são e, agora, ainda temos candidatos que precisam de ventríloquo.

Como na Roma de César, o povo continua vivendo de pão e circo. Com tristeza, vejo que o nosso povo, com visão simplista e míope, ainda vota em quem lhe oferece comida, incentivando, assim, o sistema político vigente do coronelismo. Às vezes, me sinto o Joãozinho do passo certo. Todo mundo marcha para um lado e eu, para o outro. Entendo que para este País ser verdadeiramente independente é necessário que tenhamos capacidade de interpretar, refletir e julgar os fatos e os atos, livres de paixão e, digo com tristeza, pelo que se vê, ainda não temos.

Infelizmente, a nossa independência fundamentou-se no absolutismo e, como se sabe, vêm com ele a corrupção, a não-responsabilização, a exploração nos impostos e a concentração de poderes. O Brasil que comemora sua independência, a se manter o modelo político de coronelismo, continuará, por muitas gerações, um Estado absolutista. Apesar de as pesquisas mostrarem que o povo gosta deste estado, continuarei marchando no sentido contrário.