quarta-feira, 20 de março de 2013

Pândego ou bruxo?

A palavra pândego se refere a uma pessoa engraçada, alegre e que gosta de brincadeiras. Theofanes, Théo para os próximos, é o verdadeiro pândego. Adora zoar. O Fabriano trabalha com a gente e andava meio amuado, pois tinha como decepção a impossibilidade de ser pai. Com sua mulher, vinha tentando o feito, sem solução. Certo dia, conversando com o Théo, explicou-lhe que precisava de muito dinheiro para fazer o tratamento de fertilização. O Théo lhe disse: “Sabias que o SUS já faz este tipo de tratamento de graça?” “Sim”, respondeu o Fabriano, “mas tenho que esperar três anos na fila”. “Isto é ruim, vou ver como posso te ajudar. Tenho uns amigos médicos”, disse-lhe o Théo. Tempos depois, voltou a conversar com o Fabriano, dizendo que realmente a coisa era difícil e que, pela medicina tradicional, ou pagava ou entrava na fila. No entanto, disse que estava estudando um livro antigo de sua mãe que tinha simpatias certeiras e, por certo, acharia a solução. 22 de dezembro, último dia antes do recesso, já que somos servidores públicos e temos esta benesse, o Théo disse ao Fabriano: “Tá aí, meu irmão. Benzi esta cueca preta de rendinha, especialmente para ti. Simpatia pesquisada no livro de mamãe. Esperei até dezembro para te dar, pois faz parte ela ser presente de Natal. Faça o que te digo, que não tem erro! Seguinte: no terceiro dia de lua cheia do mês de janeiro, meia-noite, colocas esta cueca e parte pra cima dela. Capricha no amor. E tem mais: podes escolher o sexo da criança. Se deixares a janela aberta, vai rachar com o vento. Será menina!” Falou sério e saiu. Ao nos contar, se diluía em gargalhadas, imaginando a fisionomia da esposa do Fabriano, vendo-o com aquela cueca ridícula. Em 27 de fevereiro, comemorávamos uma vitória, daquelas sofridas, mas que aqui não vem ao caso, quando ele recebeu um telefonema. De início me assustei, porque ele, assim como eu, que nasceu depois das seis da tarde, virou fantasma! Aliviado fiquei quando ele gargalhou e sentenciou ao interlocutor: “Não te disse? O livro de mamãe não falha! Parabéns”. “Era o Fabriano dizendo que a mulher está grávida. Hans, lembra da história da cueca e da simpatia que inventei? Agora o cara me diz que já não vai ter que pagar e nem entrar na fila do SUS. A mulher está grávida! Fui zoar e saí zoado! Pior é que ele pensa que sou bruxo!”, diz, pensativo.

terça-feira, 5 de março de 2013

Encontro

Fazia tempo que eu não via o Gordurinha. Num desses acasos da vida, vinha eu pela BR-101 Sul e parei em um posto de gasolina para fazer um pit stop. Dei de cara com o amigo matando um espeto corrido. “E aí, Gordura como andam as coisas”? “Beleza, brother! E contigo?” “Tudo t’ranks’”, respondi. Sentei e passei a almoçar com ele. Inevitável não começar o papo com assuntos fitoterápicos, já que a genética é a mesma e a herança, também. Pata-de-vaca, jambolão, pó de maracujá, de berinjela, batata Yacon, gengibre, semente de chia e afins, baseados na experiência adquirida, dia a dia, por dois sessentões com diabetes e prostatite e ávidos para trocar experiências. O assunto é primordial. É incrível como o pensamento da gente muda conforme o tempo vai passando. Quando se tinha vinte anos, quem tinha sessenta era velho. Quando se tem sessenta, a gente se sente um guri, e ancião é quem tem oitenta! Colocado em dia o receituário e as novas ervas para aliviar as neuras e a pressão das moléstias hereditárias, veio o segundo assunto, também inevitável. O terrorismo contra os ônibus. Papo vai, papo vem, chegamos na prisão dos advogados. Disse ele: “Viste o caso dos advogados? Não consigo entender como uns meninos com formação acadêmica, tendo uma carreira pela frente, entram numa fria dessas”. “Pois é”, respondi, “imagino ser pelo lucro fácil. O problema é que complicam a própria vida com a ganância”. “Cara, tudo bem que os caras queiram ganhar dinheiro fácil, para ter vida fácil. Mas ainda prefiro a filosofia do Chico do Ernesto: a ocasião só faz o furto. O ladrão já está feito há tempos! Fico, filosoficamente, dividido entre ganância e má índole. Entendo que sabiam do risco e que, se foram pegos, têm que pagar. Daí me impressiona, quando leio no jornal (“AN”, 22/2/2013) que o advogado presidente da OAB de Joinville foi até o Batalhão da Polícia Militar visitar as instalações onde os colegas de profissão estavam ‘alojados’ para ver se tinham condições para receber os seletos convidados e, pasme, se o local está dentro do que prevê o Estatuto da Ordem. Quer dizer, participar de crimes, tudo bem. Pagar igual aos outros, não. Uma pena, pois tiveram a chance de estudar, diferentemente dos outros presos, e não aproveitaram”. “É. Da para pensar. Até a próxima, bro!” Disse eu, me despedindo.