terça-feira, 21 de agosto de 2012

RETORNO

Atravessava eu a Boulevard de Saint Germain, indo em direção ao Quartier Latin, quando escutei me chamarem: “Mestre Anselmo!” Olhei para trás e vi um ex-aluno do curso de engenharia civil da Udesc Joinville. “E aí, irmão? Passeando?”, perguntei. “Pois é, mestre, tenho praticado teus ensinamentos de sempre viajar e ver coisas novas. O ‘vírus viajante’ que colocavas em nós, em mim pegou”. Agradeço aos céus todos os dias por lecionar em uma universidade. Desde 1981, tenho tido este prazer. Trabalhar como professor, para mim, é cultivar com habilidade jovens de todos os tipos, por meio de ferramentas diferenciadas: palavras, respeito, afeto, dedicação e exemplo. O legal disso é que, como em todo cultivar, este, também, se transforma em uma grande troca de dar e receber. Passo experiência e recebo juventude, que não serve diretamente ao corpo, mas sim ao espírito, mas que, querendo ou não, reforça o corpo. O mais interessante desta realidade é você saber que lançou ideias, “botou pilha”, àqueles que serão os profissionais do futuro e elas vingaram. O bacana é se certificar que os alunos acumulam, com tuas palavras e atos, autoconfiança para ousar e para realizar sonhos individuais e coletivos que passarão a compor a história deles e da humanidade. Emociono-me ao saber que, ao lecionar com prazer, posso levar mensagens claras que podem virar fonte de luz e de inspiração para meus alunos. Se todo professor tivesse consciência do poder de ação que exerce sobre seus alunos, certamente, teríamos profissionais muito melhores. Vibro com colegas que repassam muito mais que teorias e conceitos. Vibro com aqueles que edificam pelo próprio exemplo e, principalmente, pelo incentivo que dão ao surgimento de mentes mais bem preparadas para a construção de um mundo novo. Em compensação, fico triste com aqueles que denomino “zumbis” do ensino, que lecionam como quem se desincumbe de um fardo pesado, a troco de um soldo a ser recebido no final do mês e ai não percebem que não passam de simples robôs se enrolando na própria mesmice. As férias de julho nos afastam por um mês. Mas o reencontro com os que voltam é muito bom. Infelizmente, ou felizmente, há os que se vão porque se formam. Mas estes a gente encontra depois nas “Saint Germain” da vida. E como é bom receber o feedback de que escutaram o que a gente plantou naqueles seus dias de juventude, de universitários!

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Revolução dos Bichos

Com 18 anos, em janeiro, eu trabalhava no bar do Chico do Ernesto, meu pai, para ele dar uma descansada. Verão, chateado, os amigos na praia. A vantagem era escutar o professor Kavanagh, filósofo da vida, das leituras e conversas. Um dia, perguntei para ele: “Como podem políticos que se odiavam ontem estarem abraçados hoje?” Ele, pensativo, citou Miraci Deretti, também emérito professor desta nossa Joinville: “Para os políticos, anjos não têm cor partidária. Anjos têm asas. Podem ser vermelhos ou brancos. Se tiverem asas, são anjos!”. Outro dia, meu amigo Mafrinha, crítico mordaz de políticos de pensamentos declarados que os mudam e se entrelaçam em complexas junções, difíceis de entender e aceitar, me dizia: “O único parâmetro que rege os nossos políticos é o da autossobrevivência! Já leste ‘A Revolução dos Bichos’, de George Orwell? Não? Então, leia!”. Li! Fala da insurreição dos bichos de uma granja. Major, o porco ancião, reúne os animais e conta seu sonho em tom profético: os bichos assumindo a granja e formando uma nova sociedade. Eficiente, plural, democrática e livre da tirania. Todos adotam a ideia e expulsam o proprietário, iniciando a reorganização. Os mandamentos do Major são escritos na parede: “Animal nenhum deve morar em casa; dormir em cama; usar roupa; beber álcool; fumar e tocar em dinheiro”. Tempos depois, baseados na pluralidade de pensamentos, debates e escolhas, os líderes passam a usufruir dos confortos, a divergir dos mandamentos e estes vão sendo alterados. Quem reclama é convencido de que se equivocou na interpretação e os que conseguem ler e enxergar, covardemente, se omitem. Ao final, um só mandamento: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. A revolução dos bichos vive a se repetir. Novos personagens assumem o protagonismo, mas o enredo continua o mesmo. Hoje, entendo o mestre Kavanagh. Junções criativas não se prendem a pensamentos históricos, mas, sim, a quem “hoje” tem asas, independentemente do seu passado. Diria Sarmiento sobre o Brasil que vivemos: “¡Cualquier similitud con la revolución de los bichos es una terrible coincidencia!”

Parâmetros

“E aí, Gordura, o que achastes dos candidatos a prefeito?” “Sei lá, Pirulito! Entendo que devemos avaliar os mais variados parâmetros para definir em quem votar e que pode vir a ser o melhor prefeito. Tem feitos que ajudaram Joinville? Seu discurso reflete seu modo de ser? É “pavão”? Quem não pensa como ele está errado? Tem jogo de cintura? Tem educação? Tem ficha limpa? Tem perfil de quem é comprável? Sabe liderar? Entendo que são vários os parâmetros.” “Olha só Pirulito. Um parâmetro que eu nunca tinha pensado em avaliar era o do patrimônio adquirido, pelos seus próprios feitos. Todos os candidatos são conhecidos e sabemos onde têm trabalhado. Considerando que todos são sérios, dei uma avaliada no que declararam, (jornal “A Noticia”) para servir de parâmetro. Meu pensamento é racionalizar. Olha só: um deles se vangloriava de morar no “Guanaba”, mas não declara imóvel lá. Vendeu e se mudou? Declara um imóvel na Procópio Gomes assim como uma boa grana aplicada. Investiu bem o que recebeu nestes últimos 20 anos como político. O homônimo do famoso presidente americano declara um apartamento de bom preço e duas caminhonetes (tem bom gosto). Grana guardada nada e olha que ele tem um bom rendimento como deputado. Deve ter se esquecido. O ex-prefeito declara uma casa de bom valor, outros imóveis e muitas aplicações, mostrando ter boa visão administrativa pessoal. Os dois terrenos da rua Lages pelo valor, se ele vendesse eu comprava. Já pensaste eu morando no bairro América pelo preço do minha casa, minha vida? O empresário candidato deve ter chorado ao abrir o patrimônio, mas como todo “de origem”, como se dizia no Bucarein, mostra-se seguro e com uma “boa reserva”. O título da Sociedade Palmeiras não precisava declarar, R$ 59,93, é muito chinfrim perto de toda sua bufunfa. Senti falta de imóvel residencial. E o jornalista, hein? Declarou que tem R$ 5 mil aplicados na própria firma. Não tem casa e nem dinheiro. Imagino que ele seja como eu, mochileiro das galáxias, gastando em viagens pelo mundo em vez de investir e pensar na velhice. Há quem discorde, mas eu gosto. De viajar, claro!”. “Meu amigo, a pergunta que fica é: se o candidato sabe fazer crescer o dinheiro dele, saberá aplicar o da Prefeitura da melhor maneira possível pelo bem da cidade? O que tu achas?”