terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Bons e saudáveis tempos

Outro dia, meu brother Gordurinha me convidou para comer um sopão de verduras com carne. Na infância, tínhamos este hábito. Era a comida de sábado lá em casa. Nosso pai afirmava que a sopa é um alimento com uma importância nutricional extraordinária. Antigamente, era costume comê-las. Hábito trazido pelos europeus e por nós adotados, até pela necessidade. Entre uma colherada e outra, falávamos sobre as facilidades do viver hoje em dia e que a industrialização alterou, sem medidas, os costumes da nossa infância. Disse ele: “Lembra que para ir até Itajuba de ônibus a gente levava quatro horas?”. Comentei: “Se o rio da estrada do Inferninho (em Araquari) não estivesse cheio, pois, quando estava, o ônibus tinha que ficar esperando a água baixar para passar”. “É verdade”, comentou o Gordurinha. “Outra coisa que mudou muito foram os fogões”, e emendou: “Quando a gente fala para os filhos que os fogões nos anos 1950 tinham como fornecedor de calor o fogo da lenha ou da serragem, eles não acreditam. Esta geração é do gás, do elétrico ou do micro-ondas. No Bucarein antigo, o que mais existia era fogão queimando serragem, já que ali ficavam as serrarias que desdobravam as toras de pinheiros, que vinham da região de Campo Alegre, para serem exportadas para a Europa. A vó Maria só cozinhava no fogão que queimava serragem. Eu, uma vez por semana, tinha que buscar um saco da dita na serraria da família Brandt. A única coisa boa da história é que ela tinha sobre o fogão dois varais de arame onde, invariavelmente, pendurava corvinotas e paratis para ficarem defumando. Como prêmio, sempre fazia para mim peixe assado com nylon (pirão de farinha de mandioca escaldado). Bom demais”. Esta conversa me trouxe à lembrança meus amigos Orestes (Tinho) e Floriano (Dido), a dona Juracy, mãe deles, o seu João Calafate e a dona Balduina, seus avós. Moravam na casa vizinha à nossa e o fogão, que ficava no rancho dos fundos da casa, nunca apagava. A serragem queimava dia e noite, e me chamava a atenção a gentileza com que dona Balduina revirava o conteúdo da panela de barro com uma colher de pau. Certa vez, curioso, lhe perguntei o que fazia. Ela respondeu: “Sopa de verduras”. Passei a infância vendo os avós de meus amigos comendo sopa de verduras. Viveram cem anos. Sempre no mesmo ritmo. Ele, no quintal plantando e colhendo verduras, e ela, preparando a sopa no fogão movido a serragem. Bons e saudáveis tempos.