sexta-feira, 29 de abril de 2011

O pato

O Gordurinha, no Bucarein da minha infância, adorava sacanear a gurizada e, cada vez que gozava um, dizia: “Te liga, oh Pato – Quãck!”

Certa vez, estava azucrinando o Gê da Mariazinha, e este, para se livrar, disse: “Oh, Gordurinha, vai ver se estou lá na esquina!” O Gordurinha retrucou: “Vou. Preciso levar o cabresto?” “Para quê?”, respondeu o Gê, que era meio lerdo. “Pra te trazer, se estiveres lá! Quãck!”

Outra vez, deu uma pimenta-pitanga pro Ed do Nezinho, e este mordeu com tudo. Foi um berreiro só. E ele: “Quãck!”

O pato é um bicho estranho. É uma ave que sabe andar, voar e nadar, mas não é referencial em nenhuma das três coisas. O andar é desajeitado, nada devagar e mal voa.

No Bucarein, pato era sinônimo de trouxa. De tolo.

Outro dia, no mercado, encontrei o Gordurinha e ele me perguntou: “Tens lido os jornais?” “Claro”, respondi. Então ele me disse: “Lendo as notícias veiculadas sobre a nossa Joinville nos últimos dias, tenho a impressão de que, mesmo tendo a certeza de que não nasci para pato, estou sendo tratado pelos nossos políticos como se fosse um”.

Veja só, frases publicadas como:

Prefeito: “Somos um governo jovem, que busca o melhor para a população”. Quãck!

Vereadora: “Fomos enganados e não podemos aceitar esta questão do IPTU”. Quãck!

No livro sobre a história da Câmara de Vereadores de Joinville diz: “Depois de 160 anos, um afrodescendente ocupa o mais alto cargo do Legislativo”. Pois não é que ele renuncia ao cargo para assumir uma estatal de quarto escalão. Quãck!

Agora, como diz a galera: “Vamos combinar”. A foto do novo presidente da Câmara com os dedos cheios de chaves de carros penduradas e com um sorriso, misto de satisfação e ironia, afirmando: “Sem as restrições de horários para o uso do carro, o vereador poderá cumprir melhor as obrigações do seu mandato” me fez acreditar que, realmente, sou um pato. Quãck!

Adotei! Alguém me diz bom dia, boa noite, como vai? Eu, em protesto, estou respondendo: “Quãck! Quãck! Quãck!”

Em tempo: será que alguém vai devolver o dinheiro da reimpressão dos nove mil novos carnês de IPTU que substituíram os que foram cancelados? Quãck!

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