terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Jacatirão

Que Joinville é a Cidade das Flores, todos nós sabemos (apesar de já ter sido muito mais), pois convivemos com elas durante todo o ano, nas praças e nos jardins das residências. Dizia um amigo meu, que não é daqui, outro dia, que é capricho de alemão. Eu lhe respondi: “Sem dúvida que a nossa origem ajuda, mas, hoje, apesar de ela ser uma cidade miscigenada e cosmopolita, ainda se insiste em conservar o hábito de ter jardim em casa”, pois o plano diretor vigente propõe isto. Apesar de que se tem falado muito em verticalização, em condensar para diminuir o custo da cidade, eu, sinceramente, espero que não aconteça. Uma das coisas mais agradáveis de Joinville é andar pelas ruas observando os jardins das casas e vê-las separadas umas das outras e não grudadas sem ventilação e sem sol nas janelas, como se vê em outras cidades.

Não sei se todos notam, mas uma das características mais marcantes e belas da nossa região se apresenta nesta época de final de ano.

Este era o tempo de escutar meu pai dizer: “Jacatirão floresceu, tem caranguejo correndo no mangue”. 24 de dezembro era dia de caranguejada em casa, acompanhada de pirão de feijão-preto, salada de cebola e tomate e uma boa “Faixa Azul” da Antarctica, além de olhar do quintal de casa para o morro do Boa Vista e observar o multicolorido das flores do jacatirão.

Olhar para as matas que circundam Joinville, nesta época do ano, é se deliciar com a combinação das cores das flores, daquela que para mim é a árvore-símbolo da minha cidade, o jacatirão, que nestes meses de verão enfeita as ruas, os morros e matas com suas flores brancas, rosas e lilases.

Por coincidência ou não, com o florescer do jacatirão a natureza anuncia a chegada de um tempo que nos leva a reflexões: o Natal e o Ano-novo!

Não sei se é impressão minha ou bairrismo, mas flores de jacatirão como as que temos em Joinville e arredores, enfeitando e caracterizando as festas de final de ano, não existem em nenhum outro lugar. Flores singelas, mas de vigorosa expressão, que traduzem a força da natureza que nos cerca e parecem trazer com seu viço a força do renascimento, características de final de ano, independentemente dos nossos sonhos, carências ou frustrações.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Ferias

“Pega uma enxada e vai lá no bananal do Chico Feio pegar minhocas. Chama o Tinho e o Pinga pra ajudar, se é que eles querem ir pescar com a gente lá no trapiche da Stein. Já preparei quatro caniços e vamos ver se pegamos uns carás, que a vó Maria tá com vontade de comer. Às quatro, vai ter futebol no campo do areão, daí a gente aproveita e bate uma bola”, disse o Gordura, com a autoridade de irmão mais velho.

Esta era uma época feliz para nós, crianças. Dezembro. Férias. As ruas do Bucarein ficavam alegres com as algazarras e brincadeiras. Pescar no trapiche da Stein, jogar futebol no areão, brincar de pega-pega, jogar taco, peca (bolas de gude), pião, andar de bicicleta ou brincar de se esconder nos depósitos de madeira da Brandt e da Gugelmin, no tempo em que madeira era pinho e não pínus, era o que se fazia para passar o tempo. Os pais ficavam despreocupados, e a um assovio a gente já se apresentava continente. Sempre tinha uma mãe para nos oferecer uma fatia de cuca ou uma bolacha “mata-fome” com capilé de groselha e já estávamos pronto para uma nova brincadeira.

A Gastão de Vidigal, a rua da minha infância, numa época de chão batido, valetas abertas, poeira, chafariz na esquina com a rua Laguna, postes de madeira, enchentes na lua cheia e quando tinha as marés de sete anos, a fábrica da Ambalit, o trem que nos dava carona até o moinho, em cujo porto atracavam os navios Catarina e Urbano, as cegonheiras descarregando Rurais, Aero Willys e Gordines no terreno onde está hoje o Colégio Celso Ramos, fervia e vibrava com o Xande, Gordurinha, Tota, Nato, Babi, Tinho, Ninho, Dil, Dido, Pirulito do Chico, Carijó, Serginho Shereda, Cláudio, Xuxu, Pinga, Sapo e muitos outros.

Andar na Gastão agora é triste, pois as férias começaram e a gente não vê algazarra na rua. Hoje, são Gabriéis, Anas, Letícias, Rosas, Vitórias, Giselis que não interagem mais com o lúdico, com o criativo. Não correm, não sacaneiam as outras crianças, não põem apelidos.

Novos tempos sem o assovio dos pais, mas com bolachas recheadas, chips, refrigerantes, video game, computador, internet e Facebook.

É, como diz meu amigo Tinho (Orestes João dos Passos), tudo muda, mas os que viveram naquela época, de certeza, viveram momentos mais felizes.