quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Parar é morrer?

Outro dia conversava com o Gordura, meu brother, e ele me perguntou: “E aí, vais parar de trabalhar quando?”. “Pô, brô, ainda é cedo!”, respondi. “Não consigo me ver aposentado, alisando pelo de gato ou levando cachorrinho, dizendo vem com o vovô, para fazer cocô na praça.” “Enquanto o físico ajudar e os alunos estiverem com sorrisos nos olhos e mirando na minha direção, quando estou expondo um assunto, entendo que devo ir ficando!” “Outra coisa que não me deixa parar é um diálogo que presenciei na cidade de Porto e que ficou cravado em minha mente.” “Estava eu em uma parada de autocarro (ônibus em Portugal), na Avenida Circunvalação, esperando o 205, Castelo do Queijo – Campanhã, para ir para a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, quando chegaram duas senhoras. Uma de uns 40 anos e outra já bem mais vivida. A mais nova vinha resmungando e dizendo: “Não vejo a hora de me reformar (aposentar, na terra mãe)!””. A outra, indignada respondeu: ‘Vocês, jovens, vivem reclamando e querendo parar de trabalhar, pois te digo: ‘parar é morrer!’” “Esta frase sempre me martela o pensamento. Mostra-se autoexplicável!” “Acordar e não ter nada para fazer; levar a vida sem agito; sem ter a galera te perguntando coisas nos corredores da faculdade, usando do teu conhecimento adquirido com o tempo; ficar com medo; retrair-se; não ser chamado de veterano pelos teus alunos mais próximos ou mesmo de coronel, título adquirido com trabalho, dedicação e amor à instituição que tenho servido há mais de 30 anos, deve pesar muito. Não sei, não penso e nem imagino como será a despedida.” “Cara, a vida é assim. Um dia a gente tem que parar”, disse meu brother. “Entendo que devo viver para o amanhã, buscando a felicidade, focando a cada dia em novos objetivos, sempre partindo para outra onda e surfando na crista. Sei que isto provoca angústia, cansaço, ansiedade, mas em compensação aumenta a adrenalina, que fornece a energia vital para prosseguir. Quando não estou submetido a toda esta azáfama, sempre tenho uma sensação de vazio. Um sentimento de final de tarde de domingo, daquelas melancólicas, soturna, depressiva”, argumentei. “Concordo em termos contigo”, diz o Gordura, “mas acredito que se pode fazer outras coisas na aposentadoria, que nos leve a viver com tranquilidade. De outra forma, de certeza, mas não tão cruel como pensas!

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