terça-feira, 2 de abril de 2013

PASSADO E FUTURO

A cidade tem sido o local da transformação baseada na produção do conhecimento, pois é onde se encontram as universidades, os serviços e as indústrias. Ao mesmo tempo, é um espaço de construção de imagens, nossas lembranças, como se fossem criadas por um imenso alfabeto, com o qual se montam frases, que depois de executadas são difíceis de desmontar. Pode-se entender que a imagem que se tem do nosso local mantém um vínculo estreito com a cultura que sua sociedade produziu em um período e traduz, de certa maneira, as múltiplas formas de consciência da sua população. A rua do Príncipe dos anos 1960 ainda é, hoje, uma das fortes imagens da minha infância. A percorri, todos os dias, durante o tempo que durou meu curso ginasial. Conheci cada detalhe, com o olhar curioso da idade. Caminhava do Bucarein ao Bonja, todas as manhãs, ida e volta, olhando os DKWs da Douat, Sapataria Única, Salão Verde, Daniel Alfaiate das multidões, construção da Catedral, Foto Brasil, Clube Joinville, Farmácia Minâncora, Hotel Príncipe, o amarelo das Casas Pernambucanas, o chineque da Kibeleza e a estação rodoviária, na esquina com a Princesa Isabel. Imagens constituídas de realidade e não de imaginário. O tempo nesta época andava devagar, como a minha caminhada. A estética da rua do Príncipe apresentava uma autonomia cuja fonte era a inventividade dos nossos antepassados, mas que influía no meu imaginário e se diluía nas minhas subjetividades. Segundo Lefebvre, qualquer que seja o conteúdo histórico de uma cidade, esta deve ser entendida em três dimensões: artefato, campo de força e imagem, solidariamente interligadas. É artefato porque a sociedade que nela vive a constrói historicamente, produzindo-a com suas próprias características, dentro de toda complexidade advinda de seus diversos agentes sociais e através dos tempos. Nestes dias de discussão das leis que regulamentarão Joinville, pautar-se em um bom ordenamento do espaço urbano (locais de moradia, lazer, dos equipamentos comunitários e trabalho), preservando a história, é imprescindível, pois os reflexos serão sentidos pelos joinvilenses, que terão a oportunidade de viver em ambientes mais produtivos, salubres e acessíveis, tornando o cotidiano menos complicado e desgastante. Espero que os campos de força que se digladiam neste processo possam conjugar o verbo harmonizar e fazer da nossa Joinville um artefato, que traga aos meninos de hoje lembranças boas como as minhas, de ontem.

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