quinta-feira, 16 de maio de 2013

Embuste

Embuste, por Anselmo Fábio de Moraes* “Pô, Pirulito, a coisa está feia”, diz o Gordurinha. “As notícias só mostram desgraça! Jovem morto por um celular; dentista queimada por trinta reais; ureia e formol no leite; condenados do mensalão sem punição. O repertório de crueldade não finda.” “Tens razão, Gordura. Parece que respeito, bondade, sabedoria, lealdade, honestidade, sinceridade, justiça e verdade são valores de gente otária. Aproveitando, te pergunto: quem é mais bandido: os que atearam fogo na dentista ou os que colocaram água e ureia, com formol, no leite, sabendo que são produtos cancerígenos? O guri que atirou no outro para roubar um celular para comprar droga ou os políticos do mensalão, que enchiam os bolsos com dinheiro da saúde e da educação? “Bro, não sei. A gente vê propaganda do governo dizendo que tirou milhões da miséria, que todo mundo está comendo bem, que oferece boas escolas e, ao mesmo tempo, crimes bárbaros continuam acontecendo. Me parece que estamos soçobrando na ganância. No lucro fácil. E o exemplo começa na política. Se olharmos para Brasília, veremos que no começo, além das boas-vindas, os do poder traziam-nos o sentido da liberdade, da paz, do desenvolvimento e até da riqueza. Com o tempo, se mostram tão ditadores como os que defenestraram. Roma despejava ouro aos camponeses quando apareciam focos de revolta, para domá-los. A meu ver, nosso país republicano vai na mesma linha. Mandos e desmandos, crimes, drogas, desvios e corrupção acontecendo. E cala-se o povo distribuindo bolsas. O império romano distribuía o que roubava dos países invadidos. Aqui os invadidos são os que produzem e pagam impostos. Mas tal lá como cá, quem faz pose de altruísta são os imperadores. Como se o que oferecem a eles pertencem!”, completa o Gordura. “Tens razão”, diz o Pirulito. “Pão e circo. Em Roma, fascinação pelos gladiadores. Aqui, pelo futebol. Apesar de que, agora, temos os UFCs da vida e os gladiadores voltaram. Ressurge a fascinação pela violência e pelo sofrimento. As arenas romanas produziam espetáculos mortais que, como uma droga, agradavam ao público e, ao mesmo tempo, desviavam o pensar da população dos verdadeiros problemas do império. O mesmo acontece por aqui. A violência está se enraizando e a ilusão das copas e olimpíadas iludindo o povo”.

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