terça-feira, 11 de março de 2014

Trash Art

Segunda de Carnaval fui a Itajuba (Barra Velha). Minha praia desde os anos 1950. Cheguei e fui direto ao Bom Gole, nome sugestivo e, de certeza, um bar pequeno, mas muito bacana. Um espaço democrático onde você encontra surfistas, coroas, como eu, e nativos contadores de história. Fui matar saudades e rever o Pablito e o Martin, donos do espaço, e, para meu deleite, curtir a trash art do Martin Sanchez. Herdou da mãe, Grassiela Grassi, a artista argentina que se radicou naquela praia e que, por anos, colhia lixo nas areias da praia do Sol, seu quintal, transformando-o, com extrema criatividade, em arte. Sementes, madeiras, ossos e palhas que, misturados com tintas de várias matizes, enfeitam paredes por este Brasil afora. E como se dizia antigamente que a fruta nunca cai longe da árvore, o Martin, que ajudava a mãe desde tenra idade a catar aquilo que para pessoas normais é lixo, após a ida de Grassiella para o oriente eterno, começou a fazer a sua própria criação. A transformar lixo em arte. Seus principais trabalhos representam a natureza. Seus peixes, corujas, crustáceos e máscaras tribais são peças que surgem a partir de madeiras de barcos, sucatas metálicas, ferramentas obsoletas e objetos dos mais variados, já utilizados e que foram descartados ou que as marés deixam nas costas das praias de Itajuba, onde mora. São criações confrontadoras e, ao mesmo tempo, divertidas, que nos remetem ao lado obscuro do que desprezamos, mas que ganham “vida” na imaginação e na criatividade do artista. O uso desta matéria-prima, com a qual ele confecciona seus quadros, criando uma arte diferenciada, nos propõe um olhar crítico em relação às questões de consumo e daquilo que consideramos lixo. O método dele é meio pautado na bagunça mesmo, pois só dessa forma consegue liberar a energia criativa, que pode nascer dos pés descalços nas areias da praia, no viajar da prancha sobre as ondas na praia do Syphodys, ou, mesmo, ao toque do vento no rosto, quando sentado nas pedras brancas do costão da Itajuba. A produção não é grande e a venda é rápida, mas, com sorte, pode-se curtir os quadros; neste final de semana eu tive, pois algumas obras enfeitavam a entrada do Bom Gole.

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