sexta-feira, 18 de abril de 2014

Em que 1964 te influenciou?

Como as polêmicas do momento são a Comissão da Verdade, a revolução de 1964, comunismo, esquerda, politicamente correto e corrupção, perguntei a alguns sessentões amigos meus: “Já que, como eu, viveste grande parte da vida no regime de exceção, no que isto te influenciou?” Invariavelmente, todos responderam: “Em nada!” Coincidiu com o que penso. Eu tinha 12 anos em março de 1964. O que fiz neste período: joinvilense que sou, estudei o primário no Rui Barbosa, o ginásio no Bom Jesus (com bolsa de estudo oferecida pela grande mestra Ana Maria Harger), o técnico em metalurgia na Escola Técnica Tupy e engenharia civil na Escola de Engenharia de Piracicaba, SP. Nunca me incomodei com os militares, nunca fui preso nem torturado. Dirão os jovens que não viveram este período – mas que se baseiam na leitura dos que estavam no exílio, fazendo intercâmbio e que voltaram e estão indenizados e aposentados, ou mesmo daqueles que aqui ficaram e resistiram fazendo política de oposição – que fui um alienado. Pode ser. Mas também posso dizer que conheci, quando estudava engenharia em Piracicaba, vários ideólogos de escrivaninha que queriam nos convencer que deveríamos lutar pela democracia, mas não nos diziam qual era ela, pois ninguém me impedia de nada que não fosse ilegal naquele regime. Estudei, estagiei, me diverti, viajei de carona por vários Estados, conheci muitas pessoas, me formei, trabalhei muito, casei, tive filhos e não vi nada ou ninguém que me proibisse de nada. Não sei dizer o que aconteceria se o tal comunismo que pregavam os que queriam nos convencer a entrar no esquema realmente tivesse acontecido. Se eu pensar neste povo que tem governado o Brasil nos últimos 20 anos e que estava por trás do movimento contra 64, acho que influenciaria para pior, pois hoje o que vemos é um liberalismo absurdo, uma falta de consciência e de civismo, um vale-tudo assustador. No governo militar, e ninguém pode falar o contrário, vimos o Brasil fazer quase todas as hidrelétricas que hoje abastecem o País de energia. Vimos surgir universidades. Vimos a construção de boas estradas. Eu mesmo trabalhei na Rodovia do Açúcar, no Estado de São Paulo. A única coisa que não fazíamos era votar para presidente, que foi o mote para terminar com o regime militar. Pois bem, passamos a votar. Collor, FHC, Lula e Dilma. Hoje, podemos fazer o que não podíamos (ou quase podemos?), falar mal e criticar os presidentes. Mas, em compensação, o resto das notícias é só sacanagem e de todos os tipos, mas sempre com um foco só: o de locupletação com o dinheiro público

5 comentários:

  1. Parabéns pelo seu artigo na Notícia de hoje. Acredito que muitos da nossa época se identificam e compartilham com o mesmo sentimento.
    Não acredito que estávamos alienados, mas tenho a convicção de que grande parte dos Ideólogos de Escrivaninha, como você colocou, eram Inocentes Úteis.

    Um abraço

    Pedro V.

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  2. Parabéns pelo seu texto na seção "Opinião" do "A Notícia" de hoje.
    Concordo com suas observações, mas prepare-se para as críticas...

    Abraço e uma feliz Páscoa,
    Luis H M

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  3. Bom dia Anselmo.

    Meu nome é Ismael J. S, li seu artigo no jornal de hoje, quero parabeniza-lo, ficou excelente.

    Na época eu tinha 18 anos portanto 68 hoje. ( tivemos no passado não muito longe alguns contatos profissionais.)

    Na época de 64, lembro muito bem, existia o grupo dos 11, conheci pessoas que faziam parte destes grupos inclusive tive a oportunidade uma vez de tomar conhecimento de uma de suas ações confesso, que nos meus 18 anos o sangue subiu a cabeça. ( vamos deixar os detalhes de lado ).

    O que sinto agora é que a coisa esta se repetindo, vivemos com corrupção, enriquecimento ilícito e desculpas esfarrapadas exatamente como antes da ditadura confesso, não posso me conformar com esta situação.

    O povo esta muito alienado, os jovens estão sendo iludidos com tantas mentiras e promessas vans.

    Acho que chegou a hora do povo acordar.

    Um abraço

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  4. Muito oportuno, e de extrema lucidez, o artigo do doutor Anselmo de Moraes em A Notícia de 18.04. Resume o que significou para a maioria dos brasileiros o período militar. A preocupação do atual governo federal, passada a fase das indenizações imorais e desproporcionais, é apenas a de consolidar uma prática de “pensamento único”, com o objetivo de perpetuar-se no poder em prol de uma confraria de amigos.

    Luís Guedes

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  5. Boa tarde,
    Parabenizo você pela publicação da matéria " em que 1964 te influenciou",pois as suas colocações sobre o assunto coincidem com a minha opinião. Na época eu tinha 14 anos e aqui em São Francisco, nos meses que precederam a revolução, percebia-se trabalhadores acampados nas ruas, em greve, faixas com manifestações da esquerda soviética da época, etc. parecia que o País estava um caos, uma baderna, so esperando o ultimato para mudar o regime para esquerda. Muitos agitadores da época, com manifestações comunistas, hoje estão no poder dizendo-se democráticos. Certamente os que não reconheceram o regime militar eram caçados.
    Acho que lembro de você, pois trabalhei na Fundição Tupy até 1975, e morei na pensão da Dona Santinha, onde seu pai tinha um comércio na esquina. Na Tpy conheci o seu irmão, Arino. Leio suas histórias no AN, e lembro de alguns nomes de personagens da Ruas P Gomes, que você cita as vezes.

    Saudações,

    Lavoizier S de Oliveira

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