sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Reminiscências

Cortava meus cabelos desde sempre na barbearia do velho Ernesto, com ele e, depois, com o Zé Ramos, na Joinville antiga e que ficava na esquina da Procópio Gomes com a Ipiranga. Depois de anos, e eu já estava em “outras plagas” estudando, o Ramos montou sua barbearia no mercado municipal, onde se encontra até hoje, agora acompanhado dos filhos que herdaram dele a mesma profissão. Sábado destes, fui ao mercado e, como sempre faço, passei para dar um abraço no velho Ramos. Entrando na barbearia, lotada como sempre, encontrei o Gordurinha sentado esperando a sua vez. – Cara, nem te conto – falei. – Outro dia, estava no Café Passado, simpático bistrô de Laguna, junto à praça de Anita, quando a Téia, dona do bistrô, me perguntou: “professor, a piada deve ter sido boa, socializa com a gente?” Olhei pra ela e disse: “não entendi”. Ela, sorrindo, falou: – Desculpe, professor, mas estavas sorrindo sozinho e fiquei curiosa do porquê. – Ah – disse eu: – Reminiscências de infância. Estava olhando para aquele casal lá daquela mesa e lembrei do meu brother Gordurinha e de uma gaiola onde ele tinha preso uma gaipava e uma cambacica. Eu nunca sabia quem era quem, e sempre lhe perguntava. Ele, invariavelmente, respondia: “de novo, Pirulito. Já te disse que não importa saber isso. Importa que elas comam, bebam, cantem e pareçam alegres, mesmo estando na gaiola. Gostaria de soltá-las mas já nasceram cativas e morreriam se tivessem que sobreviver sozinhas”. Ela me olhou com cara de espanto, pois não entendeu a metáfora. Então, eu lhe disse: – A semelhança é que, olhando aquele casal, tal qual acontecia com os passarinhos, não consigo identificar qual é a cambacica e qual a gaipava. E isso me fez voltar aos velhos tempos. Os tempos de hoje estão mudados e, ao olhar para eles, lembrei da filosofada do Gordurinha: importa que elas comam, bebam, cantem e parecem alegres, mesmo estando na gaiola. E essa lembrança da infância é que me fez sorrir. – É a tua vez, Gordurinha – disse o Zé Ramos. – Beleza, Brother, até a próxima, fui!

5 comentários:

  1. Me lembra as histórias do Pio...

    Mariza Almeida

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  2. Adoro essas suas lembranças tio!!!! Sempre aprendo algo importante e de grande valor para aplicar em minha vida e de meus pequenos, que o senhor nunca perca a vontade de dividir isso conosco Grande Mestre!!! Obrigado e saudades de todos...

    Tatu...Marcelo Velasques

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  3. Meu brother Anselmo Fábio de Moraes, por um infortúnio do meu barbeiro, que intitula-se cabelereiro, e amigo de quase 30 anos, acometido de um "pequeno" AVC, meia hora antes da minha hora marcada, permaneci cabeludo por mais uma semana, pra tomar uma decisão: A quem darei minha cabeça para a tosquia. Depois de muito pensar, acabei no Ramos lá no Mercado Municipal. Tudo perfeito. Sem frescura de lavar os cabelos antes, etc. Se as sobrancelhas estiverem grandes e esbranquiçadas, resolva isso em casa. Aqueles pelos do nariz e dos ouvidos também. Mas enfim, gostei. Paguei vintão, no Adair pagava quarenta. Bem, o Adair já está recuperado, voltarei lá, pois tem aí trinta anos de freguesia. Mas uma coisa vou negociar: quero saber o desconto para deixar os pelos do nariz, dos ouvidos, e o estilo morcego nas sobrancelhas.

    Robson Dias Belo

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