terça-feira, 10 de novembro de 2015

Olho Gordo

Gordurinha, que cara é esta? Estás desanimado? “Pô, Pirulito”, respondeu-me ele, “encontrei o zolhudo do Sapopemba, e o miserável parece que me sugou as forças. Não sei se isso acontece contigo, mas comigo acontece sempre. Tem certo tipo de gente que parece que consegue tirar nossas forças apenas com o olhar”. “Comigo também acontece, mas sempre fico na dúvida se isso não pode ser coisa da cabeça da gente e, para se eximir, achamos que a culpa é do outro.” “Nada, brother. Tu estás de boa, alegre, legal, aí encontra um marmelo qualquer e pimba, dá-lhe baixo astral. Sei lá, às vezes penso que a nossa felicidade azucrina o zolhudo. O problema é aprender a conviver com isso e fingir que não é contigo. Já li que “mal olhado” vem por meio de energias negativas transmitidas por raiva ou inveja. Só sei que quando ocorre, a gente desanima, fica sem energia, aflito, e com a sensação de que está tudo errado e que vai acontecer algo de ruim. Muitos consideram o fenômeno do mal olhado superstição pura, mas acho que não, pois, infelizmente, acredito que tem muita gente ruim ao nosso redor. Gente desequilibrada que transmite energia negativa.” “Outro dia, fui na casa do meu amigo, Lilo Boca D’água, e ele tinha na sala vasos com pé de arruda, comigo ninguém pode, espada de São Jorge e pimenta vermelha. És supersticioso, meu irmão? Para que tudo isso?”, perguntei. E ele respondeu: “Eu, não! Mas, pelo sim, pelo não, cultivo tudo contra olho gordo!” “Pirulito”, completou ele, “antigamente, quando eu era acometido desse mal-estar, ia lá em Itajuba me benzer com o velho Chico Feio, que devia ter para lá dos 90 anos. ‘Estás carregado, meu filho’, ele dizia. O que me impressionava era vê-lo abrir a boca intempestivamente e as lágrimas que rolavam de seus olhos ao me benzer. Tirava a coisa ruim da gente com reza forte. Inacreditável. A energia dele era tão boa que a gente saía dali outro. Leve, solto. Mas ele partiu e fiquei sem meu benzedor preferido. Tenho procurado outro, mas isso é coisa de gente antiga, difícil de achar. Outro dia, me disseram que tem um marmelo que benze pela internet. Mas daí não dá. Benzimento cibernético, estou fora e, por isso, vivo me desviando dos zolhudos”.

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