quarta-feira, 13 de julho de 2011

Histórias do Bucarein

“Não gaste velas com mau defunto” era um dos ditados que o Chico do Ernesto nos falava quando a gente ficava remoendo impropérios contra alguém que nos desaforava. Ele adorava nos ensinar por aforismos.

Mas legal mesmo era escutar as histórias que ele e outros frequentadores do seu bar, como Ronald Kavanach, Jacaré Diniz, Tavinho Carsten, Nenê Castelhano, Nêgo Alemão e Caneta, contavam sobre suas infâncias vivenciadas nos primórdios do bairro. Histórias passadas no Bucarein às margens do Cachoeira, no tempo em que suas águas eram límpidas e serviam de regalo para refrescantes mergulhos da meninada.

Outra boa lembrança que trago daquela esquina da Procópio Gomes com Plácido Olímpio é a dos sambas cantados pelos frequentadores e, principalmente, do som mágico do bandolim tocado pelo falecido Bera, acompanhado do Loli, no violão de sete cordas, e do Nêgo Buião, no pandeiro. Ainda sei de cor vários sambas que aprendi com aquelas pessoas simples e felizes, como Emília, Helena e Amélia, tocadas e cantadas entre um gole e outro de uma gelada “faixa azul” da Antarctica, e da degustação de “Jabiru” e “Colonial”, as cachaças da época.

As rodas de samba eram sempre às sextas-feiras, depois das seis da tarde, horário em que chegavam os estivadores: Melão, Bileca, Antonio Mendingo, Arriola, Barata e Baratinha, Nano Tartaruga, Zé Castelhano e muitos outros, para receberem o pagamento das mãos do Chico por terem trabalhado a semana inteira carregando as embarcações (conhecidas como chatas) com madeira.

Depois de receberem o pagamento, se deleitavam em boa conversa e dava gosto vê-los sorverem alguns lisos e mercedinhos da “maldita”, como era chamada a cachaça, acompanhados de sardinha frita, siri ao bafo, ou mesmo de uma morcilha preta fatiada.

Nós, filhos da terceira geração do Bucarein (nascidos entre 1945 e 1960), crescemos no meio destes homens, hoje esquecidos, que ajudaram a fazer a história do bairro e de Joinville.

Hoje, quando volto a caminhar por ali, me dá saudade daquela infância sadia e fico pensando: que pena que as crianças e jovens de hoje não têm mais o Chico, nem os contadores de casos, nem os estivadores, nem o porto, nem as madeireiras, nem o rio limpo. De certeza, fomos mais felizes.

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