terça-feira, 1 de novembro de 2011

Herondina

Num sábado qualquer de 1968, saímos Zé Carlinho, Pinga e eu para uma noitada de serenata. Violão debaixo do braço, que os dois tocavam muito bem, atravessamos a noite cantando para meninas conhecidas. Era a primeira vez que o Zé saía à noite (tínhamos nossos 16 anos). Lá pelas cinco da manhã, voltávamos pela avenida Procópio Gomes em direção ao bar do Chico do Ernesto, meu pai, que abria neste horário, para tomar um Choco Leite, avisá-lo e, após, ir para a Enseada curtir o domingo. Faltava uma quadra para chegar quando avistamos a dona Herondina vindo em nossa direção. O Pinga logo falou: “Ih Zé, ferrou!”.

Ela agarrou o Zé e saiu arrastando-o e nós, claro, atrasamos o passo, pra não sobrar, também, para as nossas orelhas.

Ao chegarmos ao bar, meu pai disse: “Te prepara, marreco, que a tua mãe vai te pegar”; “Por que, pai?”; “Vocês foram pra bagunça e levaram o filho da Herondina junto. Desde as duas da manhã ela vai lá em casa, de meia em meia hora, e acorda a tua mãe para saber se vocês já chegaram – naqueles tempos não tinha celular. A Nilza tá uma fera!”.

O Zé não estava acostumado a madrugar e nem a dona Herondina a vê-lo chegar àquelas horas. “Oh, pai, nós vamos pegar o zarcão e vamos pra Enseada. Vê se amansa a mãe”, falei. Não adiantou. Na volta, escutei um bocado. Joinville teve e tem muitos bons professores e, ao contar a história acima, me lembrei de uma que me traz grandes lembranças.

Falo de Herondina Vieira, a inoxidável, que permanece, aos 92 anos com aquele brilho característico no olhar, penetrante e especial. É uma história de 45 anos de magistério em Joinville que deve ser sempre contada e reverenciada.

Várias histórias permeiam a vida desta mulher. Histórias de alegria, como a formatura dos seus quatro filhos, expoentes em suas profissões e de grande sofrimento, como a ida para o oriente eterno do seu Leléu e do filho Tonico, mas que nunca a fizeram desistir da vida nem de sua fé inabalável. Segundo ela, “a fé é uma palavra que tem duas letras, o ‘f’ de fazer e o ‘e’ de esperança”.

Uma professora, na expressão da palavra, que teve como objetivo único de existência: ensinar, dar carinho, atenção e apoio. Obrigado, dona Herondina, pelo exemplo de vida!

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