terça-feira, 10 de agosto de 2010

Passividade

Passar um tempo em Portugal foi para mim muito prazeroso. Um tempo de experiências em termos acadêmicos e de novas amizades. Porto é uma cidade musical e tem um dos melhores espaços do mundo para esta arte, a Casa da Música. Um edifício usado por dentro e por fora para apresentações musicais. Jamais esquecerei das lamúrias cantadas e dos acordes da viola portuguesa, dos belos fados. A política de Portugal é muito parecida com a nossa, apesar de eles parecerem mais brigões, mais incisivos. Fazem o mesmo jogo de cena. Apesar de o país fazer parte da zona Euro politicamente, o povão é igual ao nosso, passivo! Neste viver, entendi por que os políticos nos usam, nos jogam de um lado para o outro; por que levamos chutes todo o tempo e nunca nos revoltamos; por que aceitamos ver quem ontem era inimigo, acusava e ofendia ser hoje amigo, abraçados no mesmo palanque, como se o dito no passado não existisse. E não fazemos nada. Às vezes dizemos: na próxima eleição, voto em branco. Os políticos têm o dom da palavra. Do convencimento. E nós, iguais a torcedores de times de futebol, mesmo perdendo, continuamos com eles. Aceitamos os discursos e abraçamos as desculpas como verdades absolutas.

Outro dia, na reitoria da Universidade do Porto, atrás de panfletos de cursos, encontrei um que me deu a resposta. Era um convite para a Tertúlia Castelense, em Maia. Na contracapa estava escrito:

“O que mais nos admira neste país é a nossa perspectiva das coisas. Não é a falta de uma orientação política para o futuro, não é a indefinição de objetivos para trabalharmos para um bem comum e nacional. Não é a noção de justiça social ou de serviço público. Não é o constante adiar das diversas reformas na educação e na cultura, na justiça e na saúde, no Estado e na economia. Não é vivermos dois países, entre interior e litoral, ou o abismo na distribuição do rendimento. Não é o desequilíbrio entre o cidadão e o Estado, não é a irresponsabilidade entre quem elege e quem é eleito, não é a desconfiança por quem regula ou governa. É a forma como exercemos a democracia e, acima de tudo, a nossa passividade.” Lendo isto entendi muita coisa e, principalmente, lembrei de um ditado que aprendi quando pequeno: “A fruta nunca cai longe da árvore”.

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