terça-feira, 10 de agosto de 2010

Pedra-ume

Dia desses, conversava com meu amigo Clóvis Dobner, filho desta Joinville e dos melhores engenheiros que esta terra já produziu, sobre os dizeres, de muitos, que a única chance de mudar o Brasil é votar certo. Escolher a pessoa certa. Mostrei-lhe o quanto sou decepcionado e incrédulo quanto a este aspecto, pois os candidatos que nos apresentam a cada nova eleição são sempre nomes requentados e escolhidos pelo partido, ou seja, por eles mesmos e pelos “donos” destes. O sujeito se transforma em político profissional e vai de cargo em cargo até se aposentar.

A forma e o modelo da nossa estrutura política não nos dá muitas hipóteses. Não temos muitas escolhas e, ainda por cima, somos obrigados a votar. Para tentar não errar, temos que escolher o “menos pior” ou aquele que nos mostrou alguma coisa boa, e estes existem, no meu entender, mas são poucos.

Isso me desanima e me faz crer que só mudaremos este status quando for proibida a reeleição. Triste, estou entrando para a turma dos que votam em branco. Ele, então, dentro daquela sua irreverência habitual, me disse: “Tu, quando garoto, trabalhava no bar do teu pai. Eu, na Farmácia Dobner, ali na Visconde de Taunay, que era do meu. Naquela época, nos anos 1960, ali nas redondezas era a região de moças que rodavam as bolsinhas. À noite, na farmácia, apareciam as paradoxalmente chamadas de “mulheres de vida fácil”, que faziam ponto na rua Nove de Março, para comprar pedra-ume. Na curiosidade da minha juventude e no afã de conversar, perguntei um dia para a Aninha “Toda Pura”, uma das profissionais mais antigas e requisitadas da região: ‘Por que vocês compram tanto destas pedras?’ E ela me respondeu: ‘Oh, meu garoto, ainda és novito pra entender destas coisas. Nossos clientes sabem que somos rodadas e que estamos longe de sermos virgens, mas como a pedra-ume dá ‘uma colada’ no nosso produto de oferta, eles se satisfazem, mesmo sabendo que estão sendo enganados’”. Então, me disse: “Temos que fazer assim também. Não adianta não votar. Votemos e pensemos que os políticos são puros”.

Fiquei pensando na filosofada do meu amigo “maluco beleza” e resolvi uma coisa: vou continuar votando, mas pelo sim ou pelo não, vou tentar votar em candidato que me pareça não estar usando pedra-ume para me enganar.

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