terça-feira, 6 de março de 2012

Para-choque

Outro dia, conversava com o Gordurinha, meu brother, sobre frases de para-choques de caminhão. Lembrávamos quando levavam-se quatro horas para ir de Joinville até a nossa praia, Itajuba, nos ônibus da Rápido Sul Brasileiro, que passava pelo Itinga e por Araquari, em estrada com pavimentação de saibro em alguns lugares e barro em outros. Quando chovia, a gente ficava esperando na ponte da estrada do inferninho até o rio baixar e muitas vezes tinha que sair para empurrar o “busão” pelos atoleiros da estrada.

Em Itajuba, na estrada estadual que passava e ainda passa, mas hoje é asfaltada, por dentro dela, a gente ficava lendo as frases nos para-choques dos caminhões. Naqueles tempos, anos 1950 e 60, não eram esses possantes de hoje. Eram os Chevrolets e os Mercedes bicudos, os Dodges e os famosos e robustos Fenemês (Alfa-Romeo).

Imagino que ser caminhoneiro, naqueles tempos, era uma aventura pelas estradas brasileira, visto estas não terem nada a ver com as atuais, apesar de que muitas hoje têm mais buraco que asfalto.

O bacana é que, invariavelmente, os para-choques dos caminhões eram verdadeiros painéis que exibiam frases, geralmente bem-humoradas e que representavam, além da filosofia de raiz nascida da ideia popular, a mais pura expressão de uma das nossas características, a de brincar com a própria desgraça.

As frases retratavam críticas: “Quem bate, esquece, mas quem apanha, nunca!”. Protesto: “Não faça na vida pública aquilo que você faz na privada”. Sentimentos: “Se disserem que te esqueci, reze, porque morri”. Religiosidade: “Dirigido por mim, guiado por Deus”. Mas, acima de tudo, de humor: “Se ferradura desse sorte, burro não puxava carroça”. “É mais fácil uma mulher aceitar envelhecer do que um político querer sair de cena”.

Falando em político, recordamos de uma que fizeram contra o presidente Collor, que adorava subir e descer a rampa do Planalto com pompas e circunstâncias: “Sobe rampa, desce rampa. Eta governo rampeiro”.

Daí o Gordurinha, que perde o amigo, mas não perde a piada, disse, se referindo a um governo específico: “Parece jogador de pôquer, não arrisca, e por não arriscar adora fazer uma fula”. E emendou: “Está aí mais uma para os para-choques: este governo só faz fula. Eta governo fuleiro!”.

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