sexta-feira, 28 de maio de 2010

Boca-de-siri

Uma das máximas usadas, no tempo em que tomávamos banho no Portinho, ao lado da casa do Lua e brincávamos nos depósitos de madeira, da Gugelmim, Brandt e outras, no Bucarein das décadas de 1950 e 1960, era: boca-de-siri.Significava pedir ao amigo de travessura que não contasse nada, das pilantragens feitas. A expressão falava por si. Nossa galera, Pinga, Jair do Chico Boia, Tinho, Tota e todos os outros, para guardar um segredo só precisavam da dica: boca-de-siri.Um dia, o Chico do Ernesto, o filósofo do Bucarein, cabreiro e querendo saber quem tinha aprontado no rancho do seu João Benjamim, o carroceiro, me apertou. Eu, para manter o trato, lhe disse: “Desculpe, pai, mas jurei boca-de-siri. Então ele me deu mais uma de suas aulas de filosofia mundana.Olhou sério para mim e disse: este termo que vocês usam só serve pra iludi-los. Siri não fala, mas morre pela boca, pela ganância e por querer toda a carniça. Fica tão empolgado com a tripa de galinha, que se agarra e vem com aquela boquinha sugando e não enxerga que está caindo numa armadilha, sendo o seu final conhecido: ao bafo, com uma cerveja bem gelada.Outro dia, esta lição me veio à cabeça, quando lia “A Notícia”. Fiquei correlacionado-a com a inocência e ganância de alguns políticos. Findo o primeiro turno, vêm as composições. Um apoia por um motivo; o outro por outros, mas todos visam aos cargos. Ficam cegos e sem vislumbrar que o que querem pode ser como um risco na água ou ter o valor de papel molhado.A cegueira é tal que acreditam que o outro assumirá suas propostas. Até aí, tudo bem. Cada um acredita no que quer. Mas, ao apoiar, deveriam adotar a “boca-de-siri” da galera do Buca. O risco de não ser atendido é óbvio ululante. Não existe coisa pior do que falar, prometer e não cumprir.Não há outra saída: se não rompe, fica mal. E se rompe, também. Quem perde ou ganha com isto? Como diz o ditado, peixe morre pela boca. Dizia o Arino Gordurinha, quando pegava um “cará tijolo” no trapiche da Stein, quando o Cachoeira ainda era vivo: alguns ficam “inticando”, a gente puxa rápido e fisga pelo rabo.

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