sexta-feira, 28 de maio de 2010

Itajuba

Acordei ruim, mal mesmo, desanimado. Sempre passei as férias de verão em Itajuba, com a “Velha Maria”, minha avó. Naquele tempo, não tinha asfalto, tinha era muito barro. Íamos de Joinville no ônibus da Rápido Sul Brasileiro. Três horas e meia de viagem. Bons tempos aqueles, de infância sadia. Nossa casa ficava na rua que dá no costão das pedras brancas e pretas, meio a meio. Dizem que não tem outro igual no mundo. Ali ficava também o Hotel da Catarinense (quem viveu Itajuba, de 1950 a 1970, passou algumas tardes lá, paquerando, namorando e curtindo o melhor picolé de coco do mundo, feito pelo Mario, o ecônomo).Sem luz elétrica, esta era de pombóca (lampião de lata, pavio de corda e querosene) e fazia uma fumaça daquelas, mas mosquito não chegava perto. Depois, veio o lampião a gás. Foi um progresso.Divertimento era andar de “zorra” (carroça puxada por bois) no arrozal do seu Ildefonso e pescar cará no rio do seu Pedro Pavio ou atrás do bar Canoinhas. Sempre a vó ia junto e ainda lembro-me da alegria quando a rolha, que servia de boia, afundava e a gente tirava um cará tijolo. A isca era minhoca, que tirávamos no bananal da velha Miquelina, mãe do João Costa e avó do “Manélzinho” e do Pedro. Passava horas observando maios e biquínis, com a mão no bolso, que diziam não ter fundo. Mas, bom mesmo era o cará frito à noite com pirão d’água, escaldado.Volto ao meu desassossego. Naquele tempo, um bom “benzedor” era o que bastava para curar a gente. Benzia-se de espinhela caída, frieira, mal olhado.Minha vó, crédula na benzeção, como dizia, me levou no seu Chico Feio. Quando me viu amuado, não perdeu tempo e começou a me benzer. Balbuciava e eu não entendia. Conforme andava o benzimento ele bocejava e caiam-lhe lágrimas. Disse que tava com encosto. Saí de lá novinho.Sempre que posso, vou a Itajuba. Meus filhos passaram a infância deles lá, mas são outros tempos. Vou ao costão e curto as pedras e o mar da minha infância. No resto, mudou muito. Não tem mais arrozal, pombóca, peixe no rio. Não tem mais benzimento. Tenho dentro de mim a alegria de ter ali passado a minha infância, com meus irmãos e muitos amigos, que permanecem até hoje.

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