sexta-feira, 28 de maio de 2010

Tonico

Sempre que eu o encontrava, cantarolava: “Antonico, vou te pedir um favor, que só depende da tua boa vontade, é necessário uma vibração pro Nestor, que está passando por grandes dificuldades”. Com aquela calma peculiar, dava um sorriso e me dizia: “Só tu mesmo pra lembrar deste samba antigo”.Daí o assunto passava a ser a inquebrantável dona Herondina. Todos somos de carne e osso, mas parece que ela é feita de um material superior. Eu, guri do Bucarein, nos anos 1960, e ela já professora. Passei a minha infância pelas ruas do bairro com meus amigos de peraltices e uma delas era jogar futebol no campo do Colégio Rui Barbosa aos sábados à tarde. Muitas vezes, saímos dali corridos, pois não era permitido usar o campo e, por azar nosso, ele ficava em frente à casa dela.Em 1970, o Zé Carlinho e eu moramos em Curitiba na pensão do Beco do Mijo, com o Zequinha e o Juca. Fizemos o 3° científico no Colégio Estadual do Paraná e o cursinho Dom Bosco, com o sonho de sermos engenheiros. E todos somos. Dividíamos os quartos com o Odil Cota e o Zhéa Zattar, estudantes de direito e bioquímica, respectivamente. Fiz engenharia em Piracicaba e ele, em Curitiba.Em 1976, formados, voltamos para Joinville. Unimo-nos em 1978 com o Tonico, recém-formado, e com o Beto Campos. Fizemos aquela que foi uma das maiores construtoras que Joinville já teve, a Habit. Daí veio a política na vida do Zé, a Udesc na minha e acabamos seguindo cada um a sua vida. O Tonico, mais novo que nós, sempre foi o nosso projetista. Sensível e calmo, não tinha o perfil de obreiro, de sujar o pé no concreto. Mas tinha uma bela mão para riscar com tinta nanquim em papel vegetal.Quando começamos, não existia computador. Fez uma bela carreira e aos 40 anos o Grande Arquiteto, lá de cima, mandou um aviso. Daí em diante se cuidou, mas agora foi pego de surpresa num dos locais que mais gostava: a praia de Barra Velha. Partiu em um domingo de sol deixando seus amigos chocados e tristes pelo ocorrido.Fica a imagem da pessoa calma e cordata, com a qual dividi muitas horas da minha vida estudando e definindo projetos. A dona Herondina continua. Espero que firme e forte com mais esta provação. Estava longe de Joinville e não pude dar o meu abraço nela e nem meu adeus ao amigo. Espero que ela, do alto da sua vivência e sabedoria, supere mais esta dor e continue entre nós com a garra que sempre teve.

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