sexta-feira, 28 de maio de 2010

Flanar

Flanar, passear sem destino, por mera distração. Entre 1962 e 66, eu e o Nelson S. Lima, o Juca, caminhávamos todas as manhãs (às seis de ida e ao meio-dia de volta) do bar do Chico do Ernesto (av. Procópio Gomes com rua Plácido Olímpio de Oliveira) até o Colégio Bom Jesus. Fizemos o curso de admissão ao ginásio e depois este, naquele educandário. Bons tempos em que dois guris de dez anos de idade, sozinhos, caminhavam pelos 5 km que separam aqueles pontos geográficos.Íamos pela rua São Paulo, passando pela Vogelsanger, casa Willy, a ponte do rio Jaguarão, a Stoll, a Marquardt. Na Ministro Calógeras, parávamos na vitrine dos Móveis Cimo. Discutíamos como podiam fazer aqueles encostos curvos nas cadeiras. A seguir, a rua do Príncipe: Sorveteria do Vigando, as “Vemaguets” da Douat, a Sapataria Única, o Salão Verde, o Daniel, alfaiate das multidões. A catedral, construída pela Construtora Marna (eu dizia pro Juca: um dia, serei engenheiro) demorou, mas saiu. A seguir: o Clube Joinville (sabiamente restaurado).Em frente, tinha o Foto Brasil. Uma das construções mais bonitas de Joinville, transformada numa pastelaria. Até aí, tudo bem, mas trocar aquelas belas esquadrias de madeira por porta de rolo de ferro é de doer. Depois, a rua das Palmeiras (quando dava tempo, a gente ia correndo ver as palmeiras gêmeas), a Minâncora, o Hotel Príncipe, bela obra de arte que continua abandonada, e a Padaria Kibeleza.Voltávamos pela praça da biblioteca, pois tinha lá dois enormes pés de ingá-macaco, que na época certa saboreávamos. Às vezes, tinha entrevero entre alunos e a praça ficava cheia, já que ali é que se davam as contendas. Hoje, são outras épocas. Já não se veem crianças sozinhas com uniforme do Bonja por aquelas ruas. Muitas destas obras-primas da arquitetura dos nossos precursores ainda resistem nestes trajetos. Malcuidadas, descaracterizadas, esperando o tempo e a falta de sensibilidade dizimá-las de vez.Caminho às vezes por este mesmo roteiro. Não mudou muito. O que mudou foi pra pior. Que pena não preservarmos o que foi feito com esmero pelos nossos antepassados. Garanto que naquela época, apesar de termos destino e da pouca idade, tínhamos prazer em flanar por aquelas belas ruas.

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